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Mercados

Queda histórica em Tóquio e Wall Street. Bolsas vivem dia negro com medo de uma recessão nos EUA

05 ago, 2024 - 14:57 • Sandra Afonso

Segunda-feira dramática no Japão, com o pior resultado em bolsa desde 1987. Em linha com a forte queda das bolsas asiáticas, seguiram também com perdas as praças europeias e os índices norte-americanos.

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Uma queda histórica em Tóquio e uma sangria de perdas em Wall Street — esta segunda-feira foi marcada pelo vermelho em diversas bolsas, um pouco por todo o mundo, devido ao medo de uma recessão nos Estados Unidos. A Fed, Reserva Federal dos EUA, tentou acalmar os mercados, dizendo que irá resolver o que for preciso resolver.

Assim, os índices norte-americanos abriram a semana no vermelho, em linha com as perdas sofridas nas praças europeias e depois de um arranque trágico das negociações na Ásia. O Dow Jones fechou com perdas de 2,6%, o Nasdaq perdeu 3,43% e o S&P 500 caiu 3%, para 5.186,33 pontos.

Em Lisboa, o índice de referência nacional, o PSI, desceu quase 2%, em linha com as principais praças europeias. Fechou a cair 1,87%, com 14 das 16 cotadas em perda.

Segundo a Reuters, várias plataformas de negociação online ficaram inacessíveis para milhares de utilizadores.

Já o Japão registou a maior queda desde a “segunda-feira negra” de 1987: o Nikkei 225 desvalorizou 12,4%, o que obrigou a recorrer a um mecanismo travão que suspende as negociações. No entanto, o mote já tinha sido dado, e as perdas em Tóquio alastraram-se rapidamente a todas as praças asiáticas e determinaram a abertura no vermelho na Europa.

As criptomoedas desvalorizaram cerca de 250 mil milhões, e a bitcoin atingiu o valor mais baixo dos últimos 5 meses.

As empresas do setor tecnológico também registam fortes perdas: Microsoft (-4,6%), Alphabet (-6%), Tesla (-12%), Meta Platforms (-6,8%), Amazon (-8,3%), Nvídia (-10%). Quedas que chegam a outros grandes grupos, como a Goldman Sachs (-6,6%) ou o Citigroup (-7,3%).

O principal índice do México abriu a cair 1%.

Nos Estados Unidos, os futuros norte-americanos abriram a perder mais de 4%.

O receio de uma recessão nos EUA

A fuga dos investidores a ativos de maior risco — e também a venda de ações — ganhou visibilidade depois de ter sido conhecido o relatório sobre o emprego nos Estados Unidos. A taxa de desemprego subiu duas décimas para 4,3%, o nível mais alto desde outubro de 2021.

Este movimento não começou esta segunda-feira, é visível desde sexta-feira, altura em que o índice tecnológico Nasdaq já apontava sinais de correção, face aos máximos históricos que tem registado.

Warren Buffet, por exemplo, vendeu metade das ações da Apple. A informação foi conhecida durante o fim-de-semana e aumentou os receios sobre as tecnológicas. Na madrugada de segunda-feira, a Goldman Sachs reviu em alta a probabilidade de uma recessão económica nos Estados Unidos, de 15% para 25%.

Os mercados estão também a reagir aos juros elevados, depois de a Reserva Federal norte-americana (FED) ter mantido inalterados os juros na semana passada, em máximos históricos — ao contrário do Banco Central Europeu, que já fez um corte de 25 pontos base nas taxas diretoras, em junho.

Nos EUA, os juros estão entre 5,25% e 5,5%. A expectativa do mercado é que cheguem aos 3% até ao final de 2025.

Queda da bolsa já entrou na campanha eleitoral

As perdas em Wall Street estão também a alimentar uma nova troca de argumentos a pensar no próximo ocupante da Casa Branca.

O candidato republicano, Donald Trump, disse que os mercados estão a rejeitar a candidatura de Kamala Harris, por ser “uma lunática radical de esquerda”. Em várias mensagens na rede social Truth, o antigo Presidente (e recandidato) diz que se está a assistir ao “crash de Kamala”.

“Os eleitores têm uma escolha, a prosperidade de Trump ou o crash de Kamala e a Grande Depressão de 2024, para não mencionar a probabilidade de uma Terceira Guerra Mundial se estas pessoas se mantiverem no cargo”, disse Donald Trump.

O candidato republicano a vice-Presidente, J.D. Vance, na rede social X, alerta que podemos estar à beira de uma “calamidade económica real”, que pede uma “liderança estável, como a que o presidente Trump garantiu por 4 anos”.

Vance acrescenta ainda que Kamala Harris “tem demasiado medo para responder à comunicação social”, numa alusão à sucessiva rejeição de entrevistas, e, por isso, não pode liderar o país nestes “tempos conturbados”.

Em resposta aos recordes económicos no mandato de Donald Trump, defendidos pelos republicanos, os democratas acrescentam, esta segunda-feira na rede X, que, com ele, o emprego desceu: terá sido dos poucos presidentes norte-americanos a deixar o cargo com menos empregos na economia do que aquele que encontrou.

Pelo contrário, “o Presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris são responsáveis pela criação de quase 16 milhões de empregos, desde que assumiram funções.”

Europa fecha no vermelho e Lisboa acompanha

O índice de referência nacional, o PSI, desceu esta segunda-feira quase 2%, em linha com as principais praças europeias. Fechou a cair 1,87%, com 14 das 16 cotadas em perda.

Entre as maiores descidas, está a EDP (-4,71%), a EDP Renováveis (-4,21%) e a Sonae SGPS (-3,96%). Com perdas acima de 2%, encontram-se a Navigator, a REN – Redes Energéticas Nacionais, a Mota-Engil, a Nos e a Altri.

Destaque ainda para os que conseguiram fechar o dia positivos: o Banco Comercial Português (0,61%) e a Jerónimo Martins (0,94%).

Na Europa, o índice continental Stoxx 600 caiu cerca de 2%. O índice britânico FTSE 100 caiu 2%, o francês CAC40 perdeu 1.4% e o germânico Dax desceu 1.8%

Corretoras online com dificuldade em garantir o serviço

A segunda-feira foi frenética nos mercados: disparou o volume de ordens e transações e nem todos conseguiram acompanhar.

Nos Estados Unidos, o dia já tinha começado com algumas corretoras online encerradas. Havia, ao início da tarde de segunda-feira, indicação de que grandes salas virtuais de mercado, como a Charles Schwab e a Fidelity Investments, foram forçadas a interromper os serviços.

Uma situação que dificultou o acesso às contas de muitos pequenos investidores, numa altura em que a tendência é para vender tudo o que é arriscado.

Segundo dados avançados pela Reuters, a Schwab impediu que mais de 3.400 utilizadores tivessem acesso aos repectivos investimentos, enquanto na Fidelity a interrupção do serviço atingiu mais de 3.500.

O Vanguard ainda não comentou oficialmente as dificuldades no serviço, mas há relatórios de acompanhamento que apontam para interrupções, que atingiram quase 2.500 pessoas. Já a Robinhood Markets, uma das plataformas de 24 horas, e que está entre as mais utilizadas pelos investidores norte-americanos, declarou problemas, mas garantiu que ficaram resolvidos durante a noite.

Reserva Federal afasta recessão nos EUA

O banco central norte-americano garante que avançará com medidas se se verificar qualquer deterioração da economia do país. São declarações deixadas esta tarde por um dos administradores da Reserva Federal, com o objetivo de acalmar os mercados.

Austan Goolsbee, presidente da FED de Chicago, foi questionado, em entrevista à cadeia CNBC, se estava a aumentar a pressão para um corte mais agressivo dos juros. “A responsabilidade da FED é muito clara, maximizar o emprego, estabilizar os preços e manter a estabilidade financeira. É isso que vamos fazer”, garante Goolsbee. “Se alguma destas partes se deteriorar, nós vamos resolver”, acrescenta.

Na última semana, a FED manteve inalteradas as taxas de juro, adiando para setembro o primeiro corte desde 2022, altura em que a inflação disparou e os juros começaram também a subir.

Jay Powell, o presidente da FED, deverá discursar este mês na conferência anual de Jackson Hole, que junta a alta finança internacional.

[notícia atualizada às 21h51]

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