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ESG. A nova licença para operar

06 fev, 2023 - 06:00 • Nuno Moreira da Cruz

Os consumidores, os investidores e as empresas cada vez mais consideram os critérios ambientais e sociais um fator fundamental de decisão.

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Confuso. Frustrante. Ingerível. Estes são alguns dos termos utilizados frequentemente para descrever os desafios do ESG. Utilizem-se os termos que se entenda, mas há algo inegável: o cumprimento dos ESG são já a nova licença para operar.

A gestão de riscos ambiental, social e de governação (ESG - Environmental, Social and Corporate Governance) é um subproduto do movimento ESG iniciado pela comunidade financeira para avaliar potenciais investimentos em empresas numa carteira com base em métricas ambientais, sociais e de governação. Nos últimos anos, registou-se uma mudança gigantesca na priorização do mercado dos riscos do ESG. Os consumidores, os investidores e as empresas cada vez mais consideram os critérios ambientais e sociais um fator fundamental de decisão.

Claramente, o tema ESG é complexo. E a comunicação das várias normas ESG que definem e especificam requisitos métricos deverá tornar-se ainda mais complexa à medida que a regulação vá exigindo que todos estas métricas e valores associados sejam incorporados num único relatório onde a distinção financeira versus não-financeiro tende a desaparecer.

Dois factos desta semana contrastam bem os lados opostos deste caminho que os ESG têm de perseguir:

  • De um lado, a publicação do mais recente estudo do Índice Ambiental Sustentável da Honeywell, onde se confirma que, apesar de todas as atuais preocupações económicas e geopolíticas, a grande maioria das empresas (85%) está a manter planos para aumentar os investimentos em iniciativas de sustentabilidade ambiental. Como sintetizou Darius Adamczyk, chairman e CEO da Honeywell, "apesar das condições macroeconómicas desafiantes, as organizações continuam empenhadas na luta contra as alterações climáticas e nos seus objetivos de sustentabilidade”.
  • Do outro, procuradores-gerais de 25 estados republicanos nos EUA anunciaram que lançaram um processo contra a administração Biden, com o objetivo de impedir a implementação de uma nova lei que permite a consideração de fatores climáticos e ESG em planos de reforma. Sustentam que a regra "mina as proteções fundamentais para a poupança de reforma de 152 milhões de trabalhadores — cerca de dois terços da população adulta dos EUA e totaliza 12 biliões de dólares em bens - em nome da promoção de fatores ambientais, sociais e de governação (ESG) no investimento, incluindo o desejo declarado da Administração Biden de enfrentar as alterações climáticas.". Por outras palavras, investir ESG vai destruir a capacidade de pagar reformas no futuro.

Neste contexto há que nos centrarmos no verdadeiramente relevante: compreender o que é material para todas as partes interessadas, e não apenas para os acionistas, de tal forma que os investidores possam investir com confiança, os consumidores possam consumir na certeza de que o estão a fazer com produtos e serviços de empresas responsáveis, os colaboradores sintam que de facto fazem parte de organizações que estão, cada uma à sua dimensão, a ajudar a resolver um ou mais desafios que a Humanidade hoje enfrenta.

E é também neste contexto de incerteza e confusão que há que ter algo claro: os ESG continuam a servir essencialmente o propósito para que foram criados: permitir aos investidores um melhor "risk assessment" dos seus investimento. Mas isso não chega. É obvio que essa análise de risco é fundamental, mas essas métricas têm de servir um propósito bem mais nobre e exigente – trata-se “simplesmente” de garantir de facto que estamos a avançar na proteção do Planeta e das Pessoas. Nem sempre vejo isto claramente espelhado nos vários artigos que vão surgindo nesta matéria.

Apesar de todas as críticas que vão surgindo e que essencialmente se centram em:

  • ESG são uma mera distração (teoria Milton Friedman);
  • Demasiado difíceis de serem geridos, atendendo aos interesses conflituantes entre "stakeholders";
  • Métricas pouco credíveis. E mesmo que sejam credíveis não provam melhor performance financeira.

Os ESG são já inegavelmente a nova licença para operar. As externalidades negativas que geram são inquestionáveis, há já variadíssimos exemplos de êxito corporativo na adoção de práticas ESG e as métricas evoluem e trarão transparência e credibilidade – tudo isto, aliado à exigente regulação que se avizinha, só irá reforçar esse conceito.


*Professor Nuno Moreira da Cruz, diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

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