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Crédito à habitação. O que esperar da reunião do BCE de hoje?

27 out, 2022 - 08:09 • Miguel Coelho

As taxas de juro devem voltar a subir e quem mais sente na carteira é quem tem empréstimos, incluindo crédito à habitação.

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O Banco Central Europeu (BCE) deve continuar a subir as taxas de juro na sua reunião desta quinta-feira. Apesar do risco de recessão, antecipa-se um novo aumento de 75 pontos base.

O que esperar da reunião desta quinta-feira?

Podemos esperar um novo aumento dos juros por parte do Banco Central Europeu, que continua, por esta via, a tentar reduzir a inflação. Os especialistas preveem que na reunião desta quinta-feira o BCE decida mais uma subida de pelo menos 0,75 pontos percentuais. Os juros que durante seis anos foram de zero por cento, vão sofrer já a terceira subida desde julho e chegar aos 2%. E a perspetiva é de que novos aumentos deverão seguir-se.

Os juros do BCE são os mesmos que são cobrados pelos bancos pelo dinheiro que emprestam?

Os do BCE - os chamados juros de referência - são os juros que os próprios bancos têm de pagar para se financiarem porque os bancos também pedem empréstimos ao Banco Central Europeu e depois pagam estes juros, que são naturalmente refletidos nos créditos que, por sua vez, concedem aos clientes bancários através das já conhecidas taxas Euribor, que não são exatamente as mesmas taxas do BCE, mas acabam por ser parecidas.

Quem fixa as taxas Euribor?

São determinadas automaticamente com base nas taxas cobradas pelos principais bancos europeus. Há um conjunto de cerca de 50 grandes bancos que entram para este cálculo e em Portugal é apenas a Caixa geral de Depósitos. E é a média do que é cobrado por estes bancos que determina as chamadas taxas de juros interbancárias em euros - abreviadamente as famosas Euribor - mas só para dar uma ideia -, a Euribor a seis meses ontem estava em 2,1%, portanto já acima daquilo que deve ser fixado hoje pelo Banco Central Europeu.

Os aumentos das taxas de juro são percentagens aparentemente pequenas, mas como é que isso se reflete nos pagamos pelos empréstimos?

Aquilo que se paga, sobretudo, nos empréstimos é em grande parte juros. Num crédito à habitação a 30 anos, se forem pedidos 200 mil euros, no final com os juros, paga-se no total cerca de 300 mil. E uma variação ainda que pequena dos juros faz aumentar muito as prestações.

Com base nos cálculos da Deco, no mesmo empréstimo de 200 mil euros a 30 anos, se a Euribor fosse de 1% a prestação seria de 740 euros, se for de 2% já será 843 euros, portanto são mais de cem euros de diferença.

A taxa variável ou fixa pode condicionar?

Depende se o crédito contratado com o banco foi a taxa fixa ou variável. Se foi fixa não muda, se foi variável aí sim, embora dependa também dos prazos Euribor que ficou definido no contrato. Cada caso é um caso, mas se for a Euribor a três meses, a alteração dos juros e, portanto, da prestação ocorre a cada três meses, se for a seis, será ao fim de seis meses e assim sucessivamente, mas sim, de um mês para o outro a subida pode ser muito significativa.

Quem pediu empréstimo durante estes últimos anos em que os juros eram de 0%, agora sobem para dois: pode ser um aumento de centenas de euros nas prestações e com essa quase certeza de que vão voltar a subir nos próximos meses.

O Governo anunciou medidas para tentar ajudar as famílias que tenham crédito à habitação. Podem ser uma ajuda?

Podem numa fase de maior aflição, mas atenção que são medidas que, na prática, só adiam o problema. Os créditos e respetivos juros não deixam de ter de ser pagos.

Uma medida já anunciada é a possibilidade de os trabalhadores reduzirem a retenção na fonte do IRS, para terem mais dinheiro disponível no ordenado, mas claro que mais tarde nos acertos com o fisco ou recebem menos reembolso ou terão mesmo de pagar, consoante os casos.

Outra medida que o Executivo deve aprovar esta quinta-feira em Conselho de Ministros é obrigar os bancos a renegociarem os empréstimos se a chamada taxa de esforço, ou seja, a percentagem do rendimento que as famílias usam para pagar os créditos for superior a 40%. Também aqui a renegociação pode implicar alargar prazos, adiar pagamentos, por exemplo, através de moratórias, mas em muito casos pode resultar num aumento da dívida que as pessoas terão de pagar por mais tempo.

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