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Ter canudo compensa? Salários de licenciados caíram 11% em 10 anos

21 jun, 2022 - 06:49 • Sandra Afonso com redação

O relatório "Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal" revela que a pandemia dificultou a entrada dos jovens no mercado de trabalho e o ensino à distância provocou perdas de aprendizagem que podem ser irreversíveis.

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Na última década, o salário médio só aumentou para os menos qualificados, segundo a edição do “Estado da Nação: educação, emprego e competências em Portugal” - o relatório anual da Fundação José Neves.

Entre 2011 e 2019 os trabalhadores somaram perdas no salário real, ter um canudo ainda garante um ordenado melhor, mas a diferença é cada vez mais curta.

Em comparação com os restantes Estados-membros, Portugal é dos que paga pior e tem menor produtividade.

Ainda vale a pena estudar?

O salário médio em 2019 ficou claramente abaixo do de 2011, mas um canudo aumenta em 16% a probabilidade de encontrar emprego e em 50% a possibilidade de estarem entre os 40% da população que ganham mais.

A má notícia é que o salário médio, nestes dez anos, só aumentou para quem tinha o ensino básico. Uma subida na ordem dos 5%, puxada pelo aumento do salário mínimo.

Quem tem o ensino superior perdeu 11% do rendimento, quem concluiu o secundário, viu o salário médio cair 3% em dez anos.

Para os jovens que acabam de entrar no mercado de trabalho ainda foi pior, com perdas entre os 15%, nos licenciados, e os 22% entre os doutorados.

Alguns acabam por ir trabalhar para o estrangeiro, onde vários países oferecem melhores condições.

Em 2019, antes da Covid-19, 13 países da União Europeia pagavam melhor aos trabalhadores com o secundário do que Portugal aos trabalhadores com o ensino superior. Em cinco Estados-membros até os menos qualificados recebiam mais que os trabalhadores universitários em Portugal.

Em paridade de poder de compra, o rendimento anual médio em 2019 foi o 7.º mais baixo da União Europeia.

E quanto à produtividade?

Relatório assinala ser essencial para subir os salários, mas refere que em Portugal é cada vez menor, face à média europeia. Em 2019, foi o sexto país com a menor produtividade e nem as qualificações dos mais jovens ajudaram a economia.

Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves, aponta uma conclusão relevante: “Que as gerações mais qualificadas e mais jovens só começam a ter impacto na produtividade de uma empresa quando representam, pelo menos, 40% da força de trabalho. Se os jovens qualificados, portanto, até aos 34 anos, representarem apenas entre 20 a 40% da força de trabalho, não há impactos relevantes e se for inferior a 10%, até pode haver diminuição da produtividade de uma empresa.”

A pandemia teve consequências?

Segundo o estudo, durante a pandemia, "o emprego dos jovens foi o mais afetado e ainda não tinha recuperado totalmente no último trimestre de 2021, com perdas de 27.500 empregos face ao mesmo trimestre de 2019".

Além do impacto nos jovens no mercado de trabalho, a crise sanitária dificultou a entrada dos jovens no mercado de trabalho.

“Em 2021, apenas 74% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado um nível de escolaridade nos últimos três anos estavam empregados, uma queda acentuada face a 2019 que interrompe a tendência positiva que se vinha a verificar desde 2012”, pode ler-se no relatório.

A queda foi mais acentuada entre os que terminaram um curso superior, apesar da taxa de emprego dos recém-diplomados continuar acima dos que terminaram o ensino secundário.

Além de penalizar a entrada no mercado de trabalho dos jovens, diz o estudo, “a pandemia teve implicações na aquisição e no reforço de competências em diferentes fases da vida, comprometendo o futuro profissional de indivíduos e trabalhadores e também o crescimento económico do país”.

Comentários
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  • Raul Soares
    22 jun, 2022 Aveiro 12:37
    Será assim tão difícil de entender que Portugal não tem condições para oferecer um futuro decente ao seu povo?mas também há um problema com esse mesmo povo,é que também não ajuda,quer tudo de mão beijada e não respeita regras nem tem disciplina.É pena pois o país é fixe.
  • Moreira
    22 jun, 2022 Guarda 10:46
    A Espanha quando entrou para a UE atualizou os salários. Portugal quando entrou pensou.se em tudo menos nisso. Os espanhóis ganham cerca de três vezes mais que os portugueses.
  • Mafalda
    22 jun, 2022 Leiria 10:35
    A política do pobrezinho. Cerca de 40% é que pagam IRS. Os imis brutais. País que só vive de impostos. No tempo do Pazztos o canudo teve um retrocesso nos salários , pensões etc. E as coisas ficaram assim . A descentralização absolutamente desnecessária num país tão pequeno como o nosso vai-nos custar caro , mas vai servir para lugares com políticos.
  • Bruno
    21 jun, 2022 Aqui 20:46
    As pessoas parecem estar muito satisfeitas com as suas condições laborais e salariais. Afinal de contas, ainda recentemente o eleitorado reforçou o poder do partido que mais anos governou após o 25 de abril. As coisas só podem estar a correr bem para a maioria das pessoas. Nem sequer se vê contestação social.
  • Digo eu
    21 jun, 2022 Cá 13:56
    Ter "canudo" compensa sempre... Lá fora! Que aqui ou é para salário mínimo, para ser "colaborador" - que é uma maneira de dizer "não és Quadro da empresa, só prestas serviço e se começas a reivindicar, vais corrido" - plano de carreiras com progressões nem pensar, e horários que não lembram ao Diabo. Se é para ficar por cá, o 12.º quanto muito, é o bastante para o salário mínimo. Apostar em mais qualificação para ficar a ganhar tostões, pode ser a delícia do Patronato, mas para as pessoas, não vale o esforço.
  • carlos neto
    21 jun, 2022 Valongo 10:00
    Foi feita uma comparação sobre os valores auferidos entre um motorista e um médico por um certo senhor na RR. Isto só demonstra a falta de informação ao qual certos comentadores têm, disse que um motorista com horas extraordinárias ganha tanto como um médico em serviço à 20 anos, que o mesmo não ganha mais que 1800 euros. Mas foi pena não ter mencionado a carga horária do médico e as regalias que benefícia. Não é por ser médico que é um ser divino, cada qual é doutor e licenciado na sua área, afinal somos uma sociedade e precisamos uns dos outros. Gostaria de informar esse senhor do seguinte, motorista profissional trabalha na média entre 10 a 15 horas diárias, na grande parte do seu tempo na ausência da família durante longos dias, sujeito a assaltos, multas stress, fadiga, solidão, condições desumanas nas areas serviços ao longo de toda a Europa. Deveria ter um pouco mais de respeito e consideração pelo setor de transportes afinal somos os que transportamos tudo aquilo que mais gosta e precisa.
  • ze
    21 jun, 2022 aldeia 08:12
    Em Portugal só vivem bem os politicos,de resto é politica para pobres.

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