05 mai, 2022 - 15:54 • Lusa
O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, apelou a cautela sobre as atualizações salariais, reafirmando a avaliação de que o aumento da inflação é um fenómeno "temporário".
"Neste momento é importante ter muita cautela na avaliação daquilo que são as atualizações salariais. Insisto que esta questão de reforço de rendimento disponível não é uma matéria apenas para um semestre ou para um ano. É uma matéria mais longa e, felizmente, Portugal tem um historial recente de reforço de rendimento disponível real, dos salários reais, que não observava há muitos anos", disse Mário Centeno, em Lisboa, na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de maio.
O responsável pelo banco central considera que os aumentos de salários e rendimento disponível das famílias em qualquer país não pode ser avaliado numa variável de curto prazo, argumentando que nos últimos seis anos os salários médios em Portugal cresceram acima da inflação.
"Desde 2015, a inflação cresceu em termos compostos abaixo de 5% e os salários médios registados na Segurança Social cresceram muito próximo de 20%", exemplificou, acrescentando que, se não acontecer mais nenhum choque daqueles que temos vindo a sofrer, este pode ser o ponto mais alto do fenómeno inflacionista.
Mário Centeno reiterou ainda que, apesar da subida de inflação, este deverá ser um fenómeno temporário, uma vez que continua a não "identificar nenhuma natureza interna endógena ao fenómeno de formação dos preços".
Ainda assim, sublinhou: "Devemos estar sempre muito atentos ao que os preços nos sinalizam na tomada de decisões", considerando que a transição climática tem um impacto na "transformação estrutural no comportamento".
Para o governador do banco central, "é um fenómeno muito complexo, difícil de avaliar" e um desafio para os bancos centrais.
Mário Centeno defendeu ainda a importância da diminuição do endividamento, argumentando que, mais do que o nível de endividamento, o foco deve ser a variável dessa redução.
Para o governador, quanto melhor for a condição financeira do Estado, das empresas e das famílias e "mais acertada" for a resposta financeira dos mesmos três agentes institucionais melhor se conseguirá "acomodar as decisões" que serão tomadas para dar resposta a crises, como a pandemia.