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Coronavírus. No turismo (também) nada será como antes

02 abr, 2020 - 19:42 • Ana Carrilho

Resistência, imaginação, inovação, confiança e segurança. Estas foram algumas das palavras fortes na videoconferência sobre “O impacto da Covid-19 no Turismo e Hotelaria”, o setor económico mais afetado pela pandemia.

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A secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, o economista e professor universitário João Duque e vários representantes do setor do Turismo participaram, nesta quinta-feira, na iniciativa organizada pela Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP).

“Não conheço um setor que tenha sido tão afetado pela pandemia Covid-19 e 2020 já é um ano perdido”, afirmou o economista João Duque logo no início da sua intervenção, na videoconferência da ADHP.

Ainda assim, não se mostra tão pessimista quanto a secretária de Estado do Turismo. Rita Marques considera que a quebra das receitas do turismo no PIB pode chegar aos 20%; as previsões de João Duque oscilam entre os 4,7% e os 7,3%.

O professor do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) define o segundo trimestre deste ano como “violentíssimo, muito longo e um mergulho profundo”. Mas tem expectativas que a recuperação comece nos meses seguintes, embora lentamente. E será marcada pela alteração de comportamentos.

“Não podemos tirar as máscaras e as luvas, começar aos beijinhos e abraços, ir para espetáculos com multidões”, alerta.

João Duque diz esperar que esta crise seja “um corte que vai sarar”, mas exige imensa imaginação e muito trabalho. E lembra aos agentes do turismo que irão confrontar-se com os mesmos e mais alguns problemas do que aqueles que tinham antes.

SAFE. Seguro é, para o economista, a palavra-chave. E vaticina: quem conseguir garantir que aqueles que recebe podem estar seguros, que não há riscos de contaminação, são os que vão recuperar melhor e mais depressa.

Por outro lado, frisa que nos próximos tempos o turismo terá que viver dos “melhores clientes: os residentes em Portugal”.

Admite que o turismo interno não chega para assegurar a recuperação, mas “no curto prazo não vamos ter magotes de estrangeiros a chegar, até porque as fronteiras estão fechadas e as companhias aéreas têm os aviões em terra”.

Por isso, aconselha a que pensem “out of the box”, apostem na inovação e usem os portugueses. E já agora, aproveitem este período para reforçar a formação, porque alguma pode ser feita em casa.

É preciso estudar o turista pós-pandemia

António Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, admite que, no início desta crise, ainda pensou que o turismo interno poderia, de alguma forma, ajudar a equilibrar as perdas de “um mercado internacional que morreu”. Mas já perdeu essa esperança e o exemplo mais próximo é a Páscoa – normalmente, uma época alta para a hotelaria e turismo, mas que neste ano vai ter portugueses obrigados a ficar em casa, na sequência do prolongamento do estado de emergência.

Depois da pandemia, nada será como antes e, defende, as regiões têm que se adaptar e introduzir inovação.

O clima e a segurança (criminalidade) foram, até aqui, uma mais-valia para o turismo português, mas agora é preciso acrescentar a segurança sanitária. E a sustentabilidade.

“Temos que estudar o perfil do turista pós-Covid-19. Cada vez mais, há-de querer isolamento, paz, tranquilidade e sempre com base na sustentabilidade. Por exemplo, não podemos voltar a ter 400 pessoas na fila para entrar nos Jerónimos”, aponta.

Se não morremos da doença, morremos da cura – AHRESP

Ana Jacinto, secretária geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) manifestou-se muito pessimista com o cenário no setor. Apesar de valorizar “o enorme esforço que o Governo tem feito com diversas medidas de apoio”, lembra que 95% das empresas da restauração e alojamento local são, sobretudo, são micro e pequenas empresas.

As medidas têm sido “um alívio temporário”, mas se recorrerem às linhas de crédito, as empresas vão endividar-se ainda mais. E muitas não podem fazê-lo. “Ou seja, não morrem da doença, morrem da cura”, conclui Ana Jacinto.

Para reforçar a ideia, revelou os primeiros resultados de um inquérito iniciado na quarta-feira junto dos associados: dos cerca de dois mil que já responderam, 75% têm os estabelecimentos fechados e 58% admite encerrar a atividade em definitivo.

Por isso, Ana Jacinto defende que é preciso injetar dinheiro na tesouraria das empresas, senão não aguentam. Algumas já nem têm como pagar salários este mês. Também é preciso pensar nos equipamentos e nas rendas.

“Se não tivermos outro tipo de ajuda, não sei como nos vamos aguentar e reinventar”, conclui.

Resistam, inovem e acreditem, apela da secretária de Estado

Apesar prever uma grande quebra das receitas do turismo em 2020, a secretária de Estado do Turismo garante que o Governo está a fazer o possível por ajudar o setor, com medidas adaptadas às diferentes realidades empresariais.

Para Rita Marques, a prioridade é resistir e aproveitar esta altura para pensar o futuro do turismo. “O padrão de viagens vai ser alterado, privilegiando os pequenos grupos e com estadias menores; a segurança vai ser o paradigma e o cliente, cada vez mais informado, vai usar a informação que tem antes de viajar”.

“É um conjunto de informação que temos que processar e com certeza iremos ter a resposta certa para continuar a atrair gente. Por outro lado, precisamos de instigar confiança nos turistas e nos investidores”, defendeu.

“Resistam, inovem e acreditem”, foi o apelo final da secretária de Estado do Turismo na videoconferência organizada pela Associação de Diretores de Hotéis de Portugal, em que participaram ainda outros representantes do setor e a que assistiram pelo menos 1.100 pessoas, “o que seria impensável num congresso normal”, sublinhou o moderador Ruben Obadia.

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