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Boas práticas de turismo acessível. “Portugal não faz sentido se não for para todos”

25 jun, 2019 - 02:00 • Ana Carrilho

Algumas entidades públicas e privadas já aproveitaram o financiamento público para a adaptação de edifícios, equipamentos, património, espaços públicos, parques, praias ou hotéis. Pelo seminário “Portugal – Um destino de Turismo Acessível” passaram exemplos de boas práticas.

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“Portugal não faz sentido se não for para todos”, é a máxima da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho que, esta segunda-feira presidiu à abertura do seminário “Portugal – Um destino de Turismo Acessível”, em Lisboa, na companhia da secretária de Estado para a Inclusão, Ana Sofia Antunes.

Algumas entidades públicas e privadas já aproveitaram o financiamento público para a adaptação de edifícios, equipamentos, património, espaços públicos, parques, praias ou hotéis. Pelo seminário passaram exemplos de boas práticas.

Acessibilidade para todos, em qualquer lugar

Anfitrião do seminário numa das suas unidades em Lisboa, o Grupo Vila Galé está a remodelar alguns dos seus hotéis para os tornar acessíveis: casas de banho adaptadas com equipamentos de apoio, como barras amovíveis ou cadeiras; zona de atendimento prioritário, rampas amovíveis de acesso do quarto à varanda, alarmes luminosos, cadeira de evacuação, cadeira de apoio ao acesso ao plano da água das piscinas. Ementas em braille e workshops para a formação das equipas.

O processo foi iniciado em Portugal, para ter continuação e levar para as unidades do Brasil. Trata-se de um processo de aprendizagem que não acabou, garante o administrador do grupo, Gonçalo Rebelo de Almeida.

“Os olhos de fora veem aquilo que nós não vemos e que pode ser importante. Por isso, temos que ver como que é as pessoas usam estas acessibilidades e que correções é preciso fazer”, afirma.

Este é o ponto comum a todas as entidades que decidiram pôr a acessibilidade na agenda. A Parques de Sintra aproveitou o financiamento para o Turismo Acessível de Natureza e apostou na acessibilidade física num percurso terrestre de 2,1 quilómetros na Tapada D. Fernando, que inclui dois pontos de interesse: o Convento dos Capuchos e a Reserva de Burros.

Além disso, tornou a informação mais fácil para todos, nomeadamente com réplicas de azulejos ou outros materiais, áudio-descrição e linguagem gestual.

A terceira vertente do projeto abrange os serviços e a formação. 70 colaboradores da Parques de Sintra dominam a língua gestual portuguesa, estão preparados para o acolhimento de pessoas com necessidades específicas e orientam os turistas nas visitas sensoriais no Parque Monserrate, revelou Carolina Martins, da Parques de Sintra.

Na Tapada de Mafra, também no âmbito do Turismo de Natureza, a promoção da acessibilidade passa pela aquisição de um comboio para o circuito de 12 quilómetros, em que uma das três carruagens tem rampa de elevação e está preparada para receber duas cadeiras de rodas ou carrinhos de bebé.

Tendo em conta que entre os cerca de 70 mil visitantes do ano passado se contam também muitos idosos e crianças, é uma boa ajuda que, ainda por cima, pode funcionar todo o ano porque é fechado, anunciou a Diretora da Tapada de Mafra com satisfação.

Também a Câmara de Évora defende que o turismo é para todos mas reconhece que a cidade alentejana é pouco acessível. Por isso, está em curso um projeto para a definição de um percurso com piso “mais amigo” de todos e sobretudo dos que têm menos mobilidade e que engloba a maior parte dos pontos de interesse turístico.

Maior acessibilidade a alguns monumentos alentejanos é a prioridade da Direção Regional de Cultura do Alentejo, nomeadamente o castelo de Viana do Alentejo ou o de Evoramonte.

“Há aqui algumas coisas em comum e se calhar, antes de avançarmos, temos que falar com a Câmara de Évora para não duplicarmos informação, nomeadamente ao nível da sinalética” concluiu Ana Cristina Pais, da Direção Regional de Cultura do Alentejo.

Há cada vez mais instrumentos de ajuda à acessibilidade

Inovação e adaptação são palavras de ordem para os equipamentos e ajudas às pessoas com deficiência.

Em complemento ao seminário, algumas empresas mostraram os seus produtos, nomeadamente para cegos e pessoas com baixa visão: linhas guia em materiais como o inox ou borracha, de cores contrastantes, placas informativas com caracteres em braille e em alto relevo ou alto contraste para pessoas de baixa visão e que não sabem braille, áudio-descrição, aplicações móveis, etc.

Gonçalo Ribeiro, da Ataraxia, admite que há cada vez mais gente e entidades preocupadas com a adaptação dos espaços, mas ainda há muito para fazer.

Aquilino Rodrigues, da concorrente Sertec, revela que os principais clientes vêm da hotelaria, restauração e equipamentos culturais. Mas mostra-se convicto que o “efeito de contágio” e a pressão social vão acelerar a procura.

“E é um investimento com retorno porque estamos a abrir o universo dos utilizadores para pessoas que ainda se retraem a sair de casa porque não sabem que condições de acessibilidade vão encontrar”, sublinha.

À passagem pela mostra, a secretária de Estado do Turismo deixou a “dica” para que estas empresas contactem a AHP – Associação de Hotelaria de Portugal, “entidade que está muito empenhada em promover a acessibilidade nas unidades hoteleiras”.

Museus, castelos, monumentos estão entre os 20 projetos na área do património em que a Realizasom está envolvida para a interpretação, alguns deles premiados. Começou com a interpretação em áudio-descrição de toda a exposição do Museu do Azulejo, um trabalho que mereceu rasgados elogios da secretária de Estado Ana Sofia Antunes, cega de nascença.

Empresários dispostos a apostar em Portugal como “destino acessível”

É o caso de Luís Damas, um brasileiro prestes a fixar residência em Portugal. Com 25 anos de experiência na área do turismo e sempre ligado a associações de apoio a deficientes no Brasil, decidiu começar de novo neste lado do Atlântico.

Em preparação está uma plataforma digital de promoção do Portugal acessível. Envolvendo parceiros de diferentes tipos de oferta turística, dirige-se prioritariamente aos mercados do Brasil, América do Norte e do Sul.

O empresário quer mudar a ideia de que trabalhar em acessibilidade custa muito dinheiro e que quem têm algum tipo de deficiência não pode fazer nada.

“Quero oferecer mais do que acessibilidade e inclusão. Os turistas, em geral, compram sonhos e estas pessoas também sonham e querem realizar esses sonhos, querem ter experiências imperdíveis”, promete Luís Damas.

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