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Trump põe exportadoras portuguesas “a esperar para ver”

02 fev, 2017 - 17:31 • João Carlos Malta

Imprevisibilidade é uma das palavras do momento nos EUA. E isso por regra, dizem os empresários, é mau para os negócios. As empresas nacionais com negócios na América estão preocupadas com a possibilidade de aumento de impostos a produtos estrangeiros.

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Entrada no mercado congelada, investimento em publicidade em "stand-by" ou um compasso de espera de quem tem uma unidade no México com que queria atacar o mercado norte-americano. As empresas portuguesas estão a reagir das mais diversas formas aos anúncios de Trump de políticas proteccionistas em relação a produtos estrangeiros.

A Colunex, empresa nortenha de mobiliário, que tinha anunciado a entrada no mercado norte-americano no primeiro trimestre deste ano, refreou o objectivo.

“Usando uma expressão tipicamente americana, a decisão que tomámos foi ‘wait and see’, ou seja, esperar para ver, porque não é possível avançar com qualquer estratégia para aquele mercado estando as regras de jogo completamente incertas”, explica o presidente Eugénio Santos.

Os Estados Unidos da América (EUA) são historicamente um mercado muito importante para as empresas nacionais e no ano passado foram o quinto maior destino para as exportadoras portuguesas. As vendas para aquele país em 2016 ultrapassaram largamente os dois mil milhões de euros, segundo os dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

“Neste momento ninguém de bom senso consegue perceber o que vai ser feito”, acrescenta o mesmo empresário.

O Presidente Trump já prometeu subir em mais de 30% os impostos a quem queira exportar para os EUA, dando o exemplo da indústria automóvel e dos carros alemães. “Se querem fabricar carros no mundo, desejo-vos toda a sorte. Podem fabricar carros para os Estados Unidos, mas vão pagar 35% de imposto por cada carro que entrar nos EUA”, disse o recém-eleito Presidente, citado pela agência Reuters.

Perante este cenário, Eugénio Santos garante que o projecto não está congelado, mas os calendários foram alterados.

Do México para os EUA

A Frezite, empresa do sector metalomecânica com sede na Trofa, investiu no México há três anos para produzir componentes da indústria automóvel e aeronáutica. E segundo o presidente desta unidade, José Manuel Fernandes, a ideia era “apoiar as empresas que estão a produzir para os Estados Unidos”.

Para este empresário, Trump está a querer criar impacto, mas é importante esperar para ver o que daí resulta. Com a crise nas relações diplomáticas entre os dois países, de que a construção de um muro na fronteira é o maior marco, as ideias da Frezite podem ficar comprometidas. Ainda assim, José Manuel Fernandes mantém-se positivo.

“Vamos ter um abrandamento, mas não haverá um bloqueio ao mercado. O México tem factores competitivos importantes. O aumento de tarifas não será genérico porque há interesses em sentido inverso”, adverte.

Em relação às hipóteses de a política de Trump vingar, o empresário industrial mantém a fé de que isso não será possível. “Acho que a globalização, com a ferramenta mestra que é a internet, ele não consegue vencer. Vão nascer novas formas de responder a bloqueios e proteccionismos”, adverte.

Licor pode ficar com vendas amargadas

Há 40 anos no mercado norte-americano, a Licor Beirão, empresa de bebidas espirituosas da Lousã, considera “preocupantes” as notícias que vêm do outro lado do Atlântico.

Os Estados Unidos valem 3% dos 25 milhões facturados no ano passado, mas mesmo assim é dos mercados de exportação com maior potencial de crescimento.

O director-geral da empresa, Daniel Redondo, considera que a Europa no conjunto deve estar muito preocupada. Os Estados Unidos valem 10 mil milhões anuais de exportações.

“Estamos na expectativa e a aguardar para ver. Mas se o pior cenário se confirmar espero que haja uma reacção da Europa em bloco e em força”, explica Daniel Redondo. A Licor Beirão tinha previsto para este ano activações da marca no terreno, com campanhas publicitárias, mas a instabilidade naquele mercado voltou a remeter essas intenções para o papel.

“Isto afecta as nossas decisões. Mal temos alguma sugestão ou suspeita de subida de impostos, o potencial do mercado reduz-se significativamente”, sublinha Daniel Redondo, que diz que o aumento de taxas aduaneiras não mata o mercado, mas fá-lo diminuir bastante porque a marca perde competitividade.

Os combustíveis, os medicamentos e o papel, segundo os dados da AICEP, são os principais produtos que saem de Portugal com destino aos Estados Unidos da América.

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  • Jorge Mendonça
    02 fev, 2017 Portimão 21:49
    Quem vais consumir os produtos das MN Americanas? Quem vai trabalhar nas grandes fábricas? deixo somente estas duas questões, para responder quem souber! O que acontecera ao protecionismo do Sr. Trump? Quando as grandes MN Americanas não poderem exportar?
  • Vasco
    02 fev, 2017 Viseu 19:26
    Amor com amor se paga, seria muito bom que todos os Países do mundo tributassem as exportações deles da mesma forma, podia não resultar a 100% mas com toda a certeza que daria algum efeito, pelo menos das duas uma, ou punham o homem a mexer e alteravam o sistema ou ficavam fechados num casulo por muitos e bons anos e não incomodavam ninguém. " senão calhasse a ..."

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