09 jul, 2016 - 12:58 • Filipe d'Avillez
Passaram-se 66 anos, mas os brasileiros, mesmo os que não eram nascidos, não esqueceram a dor de perder a final do campeonato do mundo em casa em 1950.
O jogo era contra o Uruguai, no magnífico e repleto Maracanã. Friaça marcou primeiro e tudo estava bem encaminhado para a festa, o primeiro título mundial do Brasil, mas contra todas as expectativas, para choque e horror dos brasileiros, o Uruguai deu a volta e acabou por vencer por 2-1. O episódio ficou conhecido como “maracanazo”, ou "maracanaço" em português "de Portugal", e entrou para os dicionários futebolísticos para descrever uma derrota traumática numa final, em casa.
Reza a lenda que dois dias mais tarde ainda havia adeptos nas bancadas, sem força anímica para sair. Facto é que o Brasil decidiu nunca mais jogar de branco, o seu equipamento até então. Foi por causa do “maracanaço” que se abriu um concurso para escolher um novo equipamento. Venceu o “canarinho”, camisola amarela e calções azuis. Ironia das ironias, o brasileiro que desenhou o equipamento novo era de perto da fronteira e confessado adepto do Uruguai.
Em 2004 seria a vez de Portugal, com a “tragédia grega” da derrota no Estádio na Luz por 1-0. Os portugueses perderam uma oportunidade de ouro para festejar o primeiro título de futebol de seniores.
Mas Portugal e Brasil estão entre nove nações que já sofreram um “maracanaço”. Oito anos depois do original, foi a vez de a Suécia perder a final do mundial em casa, curiosamente contra o Brasil, por 5-2, que assim se sagrou finalmente campeão do mundo. Foi uma final de recordes: Maior número de golos marcados; maior diferença de golos (juntamente com as finais de 1970 e de 1998), marcador mais novo (Pelé, com 17 anos) e marcador mais velho (Liedholm, com 35).
Depois da Suécia, os próximos actos desta tragédia escreveram-se em árabe, com a Tunísia a perder a final da Taça das Nações Africanas (TNA) em casa, em 1965 e a Líbia, na mesma competição, em 1982. Os Emirados Árabes Unidos seguiram-lhes o exemplo em 1996 para a Taça Asiática.
Em 1997 a Bolívia perdeu a final da Copa América contra o Brasil, que assim se tornou o único país a protagonizar três “maracanaços”, duas vezes como carrasco. O Brasil nunca tinha ganho uma Copa América fora do seu país e a Bolívia tinha a seu favor o factor da altitude, mas os canarinhos impuseram-se com uma vitória por 3-1 e, no final, o seleccionador Zagallo proferiu a famosa frase “vão ter que me engolir”.
A Nigéria foi a próxima vítima, perdendo a final da TNA em 2000. O evento foi co-organizado com o Gana, mas a final foi em Lagos, na Nigéria, onde 60 mil pessoas assistiram à vitória dos Camarões, no desempate por penaltis.
2004 foi o ano da desgraça em Portugal, mas também na China. A selecção chinesa empolgou os adeptos e chegou à final contra o Japão. Historicamente as duas equipas estão em polos opostos. O Japão tem um historial excelente na Ásia e razoável em termos de campeonatos do mundo, mas a China nunca conseguiu nada de assinalável. Não seria desta. O Japão ganhou por 3-1 e no final do jogo os adeptos chineses amotinaram-se, causando distúrbios nos arredores do estádio.
Desde então não houve mais “maracanaços”. Mas os portugueses esperam que França venha a tornar-se o 10º país a entrar para o clube e que a Torre Eiffel se pinte de encarnado e verde na noite de domingo.
[Notícia actualizada às 14h07]