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Opinião

As cores das autárquicas

19 set, 2017 - 07:11 • Nuno Botelho, empresário

Amarelo, azul, cinzento, laranja, verde e vermelho.

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Amarelo (de cartão). Ao contrário do que é habitual – o partido que está no governo ser penalizado em eleições autárquicas – desta vez não haverá castigo. O PS e o seu líder estão em estado de graça. Todos os indicadores económicos são favoráveis, o país saiu do “lixo” e os portugueses têm mais dinheiro no bolso e expectativas de redução de impostos nos próximos dois orçamentos.

Em 1982 (Balsemão) e em 2001 (Guterres), os resultados das eleições locais contribuíram para a demissão de primeiros-ministros. Com o maior número de Câmaras e a maioria das capitais de distrito, António Costa sairá reforçado.

Azul (de independentes). O desgaste dos partidos, a linguagem aborrecida dos partidos, o nível dos dirigentes dos partidos. Estas são as principais razões para a proliferação de candidatos independentes. Há também um grande número de independentes “impuros”, originários dos partidos, muitas das vezes mais motivados pelo ressentimento do que por uma causa nobre.

Em geral, a participação dos independentes é um sinal positivo para a democracia e, quase sempre, representa uma melhoria para a qualidade da gestão municipal. Como Rui Moreira provou no Porto, em 2013, os independentes podem ganhar grandes cidades. Em 2017, a surpresa pode vir de Coimbra e de José Manuel Silva, o ex-Bastonário da Ordem dos Médicos.

Cinzento (a cor dos dinossauros). Isaltino de Morais, Narciso Miranda e Valentim Loureiro, só para citar os nomes mais sonantes. Em versão renovada, montaram candidaturas em torno do seu carisma e da memória da obra que fizeram, há já muitos anos. Podem ganhar cidades importantes. O seu regresso pode ser discutível, mas a nossa democracia é demasiado jovem para que quem já foi poder não possa eventualmente voltar. Bem ou mal, nestes casos não haverá surpresas: os eleitores já sabem com o que contam.

Laranja (amarga). Ou muito me engano, ou o grande choque do “day after” será sobre o estado do PSD. Que estará entre o mau e o muito mau. A fragilidade da escolha de alguns candidatos (o caso do Porto é o mais notório) mostra um PSD rendido ao que resta do aparelho e com uma dificuldade imensa para mobilizar os cidadãos. Poderá ganhar algumas câmaras e irá perder outras. Isso é o normal.

O motivo de alarme virá, a confirmarem-se as previsões, do péssimo resultado nas áreas metropolitanas e de uma percentagem de votos no total nacional a roçar a catástrofe. Passos Coelho poderá e deverá até continuar na liderança após 1 de Outubro. Mas o PSD, o grande partido do poder local, já não será o mesmo.

Verde. A cor da confirmação de dois portuenses na liderança das duas maiores cidades portuguesas. Rui Moreira, depois de quatro anos de transformação do Porto, reforçando a identidade e o carácter da cidade, e Fernando Medina, que vai pela primeira vez a votos depois de suceder a Costa, deverão ter vitórias e maiorias tranquilas.

Verde será também a cor de Assunção Cristas. Deverá agradecer à falta de comparência do PSD, já que, a verificar-se o segundo lugar em Lisboa, a líder do CDS conquistará um certificado de maioridade política e pode aspirar a um futuro mais estável.

Vermelho (alarme à esquerda). O PCP deverá perder autarquias tradicionais e lugares onde é oposição. O Bloco de Esquerda conseguirá crescer ligeiramente, mas continuará a pouco contar a nível local. Mesmo com alguma agitação de última hora – o PC já promete 25 dias de férias nas câmaras que ganhar! – ambos pagarão o preço do apoio ao governo do PS e o esvaziamento do discurso político.

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