Fui acordado pela a notícia da morte de D. Basílio do Nascimento, o bispo de Baucau, em Timor-Leste. E foi do seu rosto, quase sempre sorridente, a primeira imagem que me saltou à memória.

D. Basílio era afável – até nas horas de maior tensão –, tinha um discurso simples, direto, ponderado, e muito firme; rapidamente conquistou o coração e respeito dos timorenses. Sempre que falava, punha em sentido tanto as autoridades indonésias como os lideres integracionistas locais.

Conheci D. Basílio antes ainda do referendo que determinou a independência de Timor-Leste e dos massacres que se seguiram.

Das entrevistas que lhe fiz ao longo de anos e, sobretudo, das conversas que tivemos em Baucau, Díli e em Portugal, recordo o seu inabalável sentido de humor, até nas horas mais criticas, aliado a uma análise realista e pragmática dos acontecimentos, antes e depois da libertação, na longa caminhada para a independência.

Recordo-me também das suas palavras em 2008, quando o então presidente José Ramos Horta ficou gravemente ferido, num atentado, em Díli. Dessa longa madrugada e da manhã, guardo uma entrevista por telefone em que, no espaço de minutos, fez uma leitura precisa de tudo o que se estava a passar nos planos politico, militar e social.

D. Basílio do Nascimento – não tenho duvidas sobre isso - foi absolutamente decisivo para a libertação de Timor, nos primeiros passos da independência e para a consolidação da democracia.

Num país de fé, e de esperança, tão necessários em momentos que exigiam sangue frio, o bispo de Baucau – tal como D. Ximenes Belo – esteve sempre junto do seu povo nas palavras de conforto que lhe dirigiu.

Enquanto líder, reagiu sempre com inquietação, firmeza e inconformismo às atrocidades que se viveram em Timor, mas também no incentivo aos timorenses – fossem as pessoas mais humildes das aldeias ou os lideres políticos - para que construíssem juntos um futuro de paz.

Já quase passaram 20 anos da independência, esse futuro já é um presente. D. Basílio do Nascimento será para sempre uma referência incontornável de Timor-Leste.

Testemunho de Pedro Mesquita, jornalista da Renascença.