Muitos dos números do cenário macroeconómico já eram públicos desde as reuniões com os parceiros sociais para a assinatura do acordo de rendimentos, mas com a apresentação formal da proposta de Orçamento do Estado para 2023 ficou a saber-se que o governo antecipa um crescimento de 1,3% (6,5% esperados este ano) e com inflação de 4%.

Assim, o executivo desenha uma perspetiva de crescimento acima da média da zona euro, mas os riscos são inúmeros num contexto de elevada incerteza e volatilidade externa, por exemplo, em capítulos como o preço médio do barril de petróleo ou o câmbio euro-dólar.

Como exemplo, a proposta do OE2023 tem por base um preço médio do barril de petróleo de 77,8 dólares, quando o Goldman Sachs subiu já as projeções para 110 dólares, depois da reunião da OPEP+, por pressão russa, ter cortado a produção. Nos últimos dias a brutal variação dos preços dos combustíveis em Portugal valida o grau de incerteza desta conjuntura.

A guerra na Ucrânia, as ruturas nas cadeias de abastecimento e a possibilidade de corte no fornecimento de gás russo à Europa significará ainda mais inflação e recessão nos principais parceiros comerciais de Portugal e uma política monetária ainda mais restritiva do BCE com subida dos juros.

Prudente? Presciente? Otimista? Esperançoso? Ambicioso? Com visão e um projeto de futuro para o crescimento económico? Conservador nos apoios sociais e penoso para a classe média? E as famílias? Eficaz na redução da dívida e nas contas certas? Desvaloriza salários? Afinal, como se define a proposta de OE2023?

A análise é de Nuno Botelho, líder da ACP – Associação Comercial do Porto, Manuel Carvalho da Silva, professor do CES e João Cerejeira, professor da Universidade do Minho que olham também para a semana horribilis do presidente da República.