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Luaty Beirão: exonerações dão “ânimo”, mas ainda há “cepticismo” em Angola

16 nov, 2017 - 15:04 • Sérgio Costa

Um dos principais activistas políticos angolanos fala à Renascença das medidas tomadas pelo novo Presidente. Luaty mostra-se agradado com as mais recentes decisões de João Lourenço, mas rejeita a euforia e mantém considerável dose de cepticismo.

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O activista luso-angolano Luaty Beirão está surpreendido com as recentes mudanças em Angola, determinadas pelo novo Presidente do país, mas esse facto não faz com que mantenha forte cepticismo quanto à possibilidade de mudança política no país.

Em entrevista à Renascença, um dos principais rostos da luta pela liberdade de expressão e pela democracia em Angola confessa que “não estava à espera” que João Lourenço afastasse Isabel Soares dos Santos da presidência da Sonangol ou que retirasse à empresa dos filhos de Eduardo dos Santos a gestão da TV Pública de Angola (TPA)

“Uma das fasquias que nós, os mais cépticos, fixámos para começar a dar algum benefício da dúvida foi realmente mexer na família real anterior” revela Luaty Beirão, para se referir à família do antigo presidente da Angola, José Eduardo dos Santos.

“Em menos de 90 dias, chegar logo à Isabel dos Santos e à Welwitshea dos Santos… Sem dúvida que nos dá ânimo”, confessa o músico e activista, que começou por duvidar as primeiras exonerações que vieram a público, temendo que se tratassem apenas de “bodes expiatórios”.

Advertindo para o perigo de o processo de exoneração de várias pessoas da elite angolana possa simplesmente servir para substituir as actuais pessoas por pessoas “com vícios antigos”, Luaty Beirão recusa que este seja o início de uma nova era e questiona se, “quando a poeira assentar", a oposição ao regime não possa "deparar-se com uma grande mão cheia de nada”.

“Daqui a uns tempos vai ser preciso chamar estas pessoas que andaram a falir o Estado, que andaram a estrangular o país, que andaram a tirar dinheiro do ministério da Saúde, que andaram a deixar pessoas morrer por febre amarela. Vai ser preciso chamar pessoas à responsabilidade”, lembra o activista, em tom acusatório.

Questionado sobre o cepticismo que marca o seu discurso, apesar das recentes mudanças, Luaty Beirão justifica-o como sendo “o cepticismo de uma pessoa que nasceu e só encontrou um Presidente e que, depois de 38 anos a ver a mesma pessoa a governar sem que as coisas mudassem de facto, não pode, em 90 dias, acreditar que a vida mudou”.

“A nível de indicadores sociais [a mudança] não vai acontecer do dia para a noite”, defende o artista, ainda que se mostre contente por “esta nova euforia que existe" e anima os angolanos.

“O facto de as pessoas poderem achar que alguma coisa no horizonte está para mudar faz com que exista um ar mais leve”, acredita Luaty Beirão, que tem notado pequenas alterações no comportamento da sociedade angolana. “Começa a haver aquelas ‘queixas’ como: o meu chefe fez isto, aquele roubou assim ou assado”, conta, revelando que começa até a ser difícil de perceber o que é real ou boato. Ainda assim a mudança de atitude satisfaz o activista, que, apesar de ver “ainda muita gente com pinças”, vê muita mais vontade “para falar, para dar um passo em frente e denunciar o que está mal e deve ser corrigido”.

MPLA pode não ser só Eduardo dos Santos

Questionado directamente sobre João Lourenço e a capacidade que o novo Presidente angolano pode ter para aplicar a mudança que o activista reclama, Luaty Beirão não entra em euforias e confessa que, apesar de o Presidente “demonstrar alguma coragem face ao que todos temíamos que ele não pudesse fazer”, temia que o poder que Eduardo dos Santos ainda detém no MPLA pudesse “comprometer e dificultar a tarefa de exercício de poder do Presidente da República angolano”.

As tomadas de posição de João Lourenço são agora lidas pelo activista como um sinal de que influência do antigo presidente possa não ser tão grande como se esperava dentro do partido.

“Acredito que dentro do MPLA há várias facções. E, para mim, está cada vez mais óbvio. Porque não me parece haver uma resistência considerável do próprio partido. Seguramente que dentro do partido há aquelas pessoas que criaram a sua grande teia de interesses e que beneficiava da existência e longevidade do presidente anterior. Mas eu acredito que esta não seja a maioria e que, dentro do partido, haja pessoas que estavam realmente descontentes e que estão agora também animadas com estas novas medidas da ala João Lourenço”, defende Luaty, rematando: “Não tenho domínio para saber a proporção [que cada grupo] tem lá dentro. Mas deduzo que ele não esteja a ir contra o partido. Deduzo que tenha apoio interno."

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  • Sertório
    17 nov, 2017 Lisboa 12:54
    As grandes mentiras ,este comentário vem dar razão ao anterior governo quando classificou este um elemento de subversao e não um pobre estudante que com amigos llia um livro quando foi preso.Telenovela atrás de telenovela mentira atrás de mentira .A sal adulação na Assembleia da republica foi mais um tiro no pé da mesma e complicou relações Portugal Angola.Porque não ter a mesma pratica com dissidentes chineses,venezuelanos ou da coreia do norte?

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