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Os estudos levaram-na para o Uganda, onde ajuda os refugiados a estudar

06 nov, 2017 - 17:43 • Ângela Roque

Conheça a jovem romena que viveu em Portugal e está a ajudar a dar esperança e futuro aos refugiados. “Acredito que Deus é amor, e o amor é que me guia”.

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Maria Turda é natural da Roménia mas, com 27 anos, já estudou em países tão diferentes como a Noruega, a Suécia, a Holanda ou Portugal. Agora a sua paixão pela educação levou-a para o Uganda.

Foi o mestrado em Social Work (Trabalho Humanitário), do ISCTE, que no início de 2017 a levou até àquele país africano, para ver como vivem os refugiados. Diz que se surpreendeu com o que encontrou: “O foco da minha pesquisa foi ver qual é a força daquela gente, sobretudo dos jovens, porque me centrei neles. Naquele contexto tão negativo ainda há luz e as pessoas estão a viver, a sobreviver, a rir, e encontram maneiras de se entreter para serem felizes, de algum modo. Precisam de pouco para viver”.

O Uganda tem um milhão de refugiados – metade chega do Sudão do Sul – e continuam a chegar todos os dias, em condições limite de sobrevivência. “Chegam duas mil pessoas diariamente. Muitas delas chegam feridas, em muito mau estado”, diz-nos Maria.

O campo de refugiados de Nakivale é um mais antigos do Uganda. Tem 125 mil pessoas, a maioria menores. Foi ali que Maria Turda esteve a trabalhar no âmbito da pesquisa académica e onde rapidamente se tornou voluntária.

“Mais de 60% dos refugiados tem menos de 18 anos, é uma população muito jovem e que precisa em primeiro lugar de aprender a língua”, explica-nos, porque “a maioria são da República Democrática do Congo, falam francês e suaíli, porque é a língua naquela zona de África. Mas, há também ruandeses, pessoas do Burundi, etíopes, eritreus, somalis e sudaneses, que são a maioria. É um campo misto”.

Em Nakivale, Maria não conseguiu ficar indiferente à força de vontade de três jovens congoleses que no início deste ano começaram a ensinar inglês a outros refugiados: “Estão a ensinar crianças, jovens e adultos ao mesmo tempo em três cantos da mesma sala, numa igreja. Estão a tentar melhorar as suas vidas, com formação, para conseguirem depois sair do campo, irem para a escola ou começarem algum negócio. Para isso precisam de falar inglês, e não sabem”.

No final do ano lectivo, em Junho, deixou o Uganda com a ideia de os ajudar. Quando regressou, em Outubro, já tinha assegurado apoio para construir uma estrutura que servirá de escola. “Será um centro de arte e educação”, explica Maria Turda, entusiasmada com o projecto.

“Haverá quatro pequenas salas para as actividades de aprendizagem e outras que pensem fazer. Porque eles têm muitas ideias, também querem que seja um pequeno centro artístico. Têm lá pessoas com muito talento que pintam, desenham e cantam, e podemos usar esse local para os apoiar na sua arte”, conta enquanto mostra um dos postais pintado por um dos refugiados, Ben Terrac, congolês, e que também é músico. Natural de Bukavu, vive em Nakivale desde 2012.


Maria conseguiu ajuda de uma associação norte-americana e espera ter a escola a funcionar até final deste mês. “Estou a trabalhar com a American Refugee Comitee. Eles têm um plano, engenheiros, construtores e sabem onde arranjar materiais. E é muito fácil de construir. Se tivermos os materiais, as coisas podem avançar muito rápido”, diz-nos. “Espero que no final de Novembro o centro esteja pronto. Fazê-lo custa apenas cinco mil euros, é muito pouco. Já consegui parte do dinheiro e a organização vai dar os outros recursos”. O ponto em que o projecto se encontra pode ser consultado no Facebook.

“É a fé que mantém as pessoas vivas”

Cristã ortodoxa, Maria Turda diz que é a fé em Deus que a conduz na vontade de ajudar os outros e a querer fazer disso a sua profissão. “Eu acredito que Deus é amor e o amor é a fonte de tudo à nossa volta, por isso acho que é isso que me guia, que me conduz. Eu sinto amor por estas pessoas e vejo tanto potencial nelas. Então, se eu tenho possibilidade de as apoiar e ajudar a melhorar as suas vidas, eu faço-o. Claro que para mim há também a motivação da minha profissão, porque desde criança que sinto isto e faço isto, então para mim é muito natural e normal querer ajudar estas pessoas e estar lá para elas”.

Em Dezembro conta passar o Natal em casa, na Roménia, mas em Janeiro irá viver por um ano com os refugiados do Uganda, onde a fé e a esperança de quem vive com tão pouco está a ser para “uma lição de vida”.

Maria sempre fez voluntariado. Ainda em Agosto dedicou as férias a ajudar os refugiados em Calais, entre a França e a Grã-Bretanha. "O campo foi desmantelado, mas continua a haver por lá imigrantes e uma crise humanitária por resolver, que a chegada do inverno vai agravar”. Fala-nos, também, da Comunidade Ecuménica de Taizé, que conhece desde os 16 anos e onde já viveu um ano e meio como voluntária, no que considera ter sido uma “experiência transformadora”, que a ajudou a ser o que é e a fazer o que faz hoje.

Mas diz que foi no Uganda que descobriu a força que a fé dá às pessoas. “A fé, a religião e a espiritualidade são elementos muito importantes para aquelas pessoas. É o que as mantém vivas, no meio daquelas circunstâncias horríveis. Todos eles falam de Deus, todos eles falam de esperança, de confiança, todos eles acreditam que amanhã será melhor, que Deus está lá com eles e que Deus providenciará”.

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