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Curdos estendem a mão ao Iraque em gesto de paz

25 out, 2017 - 00:12

Governo Regional curdo propõe congelar o resultado do referendo à independência e o fim de toda a actividade militar. Ao longo da última semana as forças armadas do Iraque obrigaram os curdos a recuar das “áreas disputadas”.

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O governo do Curdistão Iraquiano propõe-se congelar os resultados do referendo que levou a cabo sobre a independência da região, como gesto de boa-vontade para iniciar um diálogo com Bagdad.

Depois de vários dias de confrontos entre as forças curdas – conhecidas como peshmergas – e as forças armadas do Iraque, secundadas por milícias xiitas, que levaram à retirada dos curdos da quase totalidade das chamadas “áreas disputadas” entre as duas entidades.

Numa declaração divulgada esta terça-feira, o Governo Regional Curdo diz que “todos somos obrigados a agir de forma responsável para evitar mais violência e conflitos entre as forças iraquianas e peshmerga”.

“A luta armada não conduzirá qualquer dos lados à vitória, mas levará o país rumo à confusão e ao caos, afectando todos os aspectos da vida”, escrevem ainda os curdos.

“Nesse sentido, e no cumprimento das nossas obrigações e responsabilidades para com os povos do Curdistão e do Iraque”, os curdos propõem a cessação imediata de todas as operações militares e o congelamento dos resultados do referendo levado a cabo no dia 25 de Setembro, que deu uma vitória esmagadora aos defensores da independência.

Por fim o Governo Regional do Curdistão propõe sentar-se à mesa com os representantes de Bagdad para iniciar um “diálogo aberto” com base na Constituição.

Passo em falso

O referendo no Curdistão Iraquiano foi vivido num clima de grande euforia pelos curdos, que viram nele o culminar de um longo processo que parecia destinado a dar-lhes o único país curdo independente.

Os curdos do Iraque começaram a edificar um estado autónomo após a Primeira Guerra do Golfo, quando os aliados impuseram uma zona de interdição aérea, para evitar que Saddam Hussein levasse a cabo mais actos de genocídio contra essa população. A nova constituição do Iraque, aprovada após a queda do regime de Saddam Hussein, dá ao Curdistão o estatuto de região autónoma.

Em 2014 a entrada em cena do Estado Islâmico humilhou as forças armadas do Iraque, desbaratando-as e ocupando a segunda maior cidade do país praticamente sem resistência. Na altura apenas os Peshmerga, bem organizados, conseguiram travar o avanço dos jihadistas e ao longo dos anos seguintes, à medida que o grupo terrorista foi sendo obrigado a recuar, os curdos ocuparam grande parte das chamadas “áreas disputadas” que ficam junto à fronteira entre a região autónoma e o Iraque propriamente dito.

Não só Bagdad como todos os países vizinhos e vários aliados internacionais apelaram ao Curdistão para não avançar com o referendo, mas Erbil insistiu, aparentemente confiando que as ameaças iraquianas não passavam de palavras. Mas no espaço de poucos dias ficou provado que as forças armadas do Iraque, agora treinadas e equipadas pelos Estados Unidos e outros aliados e testadas em confronto contra o Estado Islâmico na libertação de Mossul, já não são as mesmas que foram desbaratadas pelos terroristas em 2014. Os peshmerga retiraram de Kirkuk, uma cidade economicamente importante por causa dos recursos petrolíferos, quase sem opor resistência e assim foram recuando até que praticamente todas as “áreas disputadas” estão novamente nas mãos de Bagdad.

Entre essas áreas disputadas está a Planície de Nínive, terra ancestral da comunidade cristã do Iraque. Os cristãos estavam em grande medida divididos entre pró-curdos e os que favoreciam a manutenção no Iraque. Inclui-se também a região de Sinjar, terra da minoria religiosa yazidi, que foi ocupada por grupos desta religião leais a Bagdad.

Resta ver se o Iraque, que passou a ter vários trunfos na mão, aceitará agora negociar com Erbil sobre o futuro da região que vê, pelo menos por agora, o sonho da independência a esfumar-se.

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