21 set, 2017 - 11:00 • Teresa Abecasis
“Ao fim de uma longa semana, tive a surpresa dos meus filhos irem ter comigo.” A mensagem escrita na página oficial de Assunção Cristas à Câmara de Lisboa vem acompanhada de uma série de “emojis” com corações e de uma fotografia em que a candidata é apanhada num momento de descontração com um dos filhos.
Com quase dois mil “likes”, esta foi a publicação mais popular da página nas primeiras duas semanas de Setembro e faz parte de uma “estratégia muito forte” para as redes por parte da campanha da líder centrista. A análise é feita por Sérgio Denicoli, investigador do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e dono de uma empresa que faz estudos de análise de dados nas redes.
Denicoli conduziu um estudo que analisou, durante as primeiras duas semanas de Setembro, as redes de interacções - “likes”, comentários e partilhas - das páginas de Facebook dos cinco principais candidatos à Câmara de Lisboa. No caso de João Ferreira, a página analisada foi a da secção de Lisboa do partido, uma vez que o candidato da CDU é o único que não possui uma página pública naquela rede social.
No universo das páginas analisadas, Assunção Cristas foi quem reuniu maior volume de interacções, com 46,03%. Em segundo lugar, está Fernando Medina, com 28,66%, seguido da página da CDU Lisboa, com 12,47%. Ricardo Robles (BE) reuniu 8,89% das interacções e Teresa Leal Coelho (PSD) não chegou aos 4%.
O “desgaste” de Fernando Medina
“Os ‘posts’ de Fernando Medina são sempre defendendo o legado do candidato em relação a temas que foram colocados pela oposição, o que gera um certo desgaste para ele mesmo”, defende Sérgio Denicoli.
No período abrangido pelo estudo, a publicação com mais interacções foi a nota sobre a transparência na compra da casa de Medina, uma resposta a uma denúncia anónima ao Ministério Público que está a ser investigada.
Enquanto Fernando Medina se destaca a responder a ataques, Assunção Cristas aproveita as redes para mostrar um lado “mais humano”, uma abordagem que tem mais probabilidade de vingar na internet. E isso comprova-se também pelo número de seguidores que cada um tem: Cristas tem mais de 76 mil “likes”, enquanto Medina fica-se por cerca de um terço, pouco mais de 26 mil.
Na rede, “a comunicação é muito mais emocional” e as publicações “menos políticas e mais pessoais chamam a atenção de outros tipos de eleitores que não estão habituados a compartilhar e comentar temas desses candidatos”, sublinha Denicoli.
E se a candidata do CDS-PP consegue atrair outras pessoas para a conversa, o mesmo não está a acontecer com João Robles e João Ferreira. Ambos têm uma rede de seguidores bastante activa, mas “têm uma certa dificuldade em atingir outros públicos” – sair da bolsa de seguidores para quem comunicam habitualmente.
Campanhas “pouco criativas” e sem apelo para os jovens
Olhando para o panorama nacional das campanhas para as autárquicas nas redes sociais, Sérgio Denicoli vê um conjunto “pouco criativo” e que não explora as potencialidades da internet, um meio que tem vindo a crescer em Portugal e onde hoje em dia já estão muitos influenciadores.
E isso, garante, trará consequências: “Os que não investiram [nas redes sociais], certamente vão perceber o impacto desse não investimento nos resultados que vamos obter no dia 1 de Outubro”.
Foi por estar a acompanhar as movimentações nas redes que o investigador não ficou surpreendido com a sondagem publicado pelo “Jornal de Notícias” esta segunda-feira: “a internet já reflectia essa tendência”. O estudo de opinião dá uma vitória sem maioria absoluta a Fernando Medina e um surpreendente segundo lugar a Assunção Cristas, um ponto percentual à frente da candidata social-democrata Teresa Leal Coelho.
Denicoli vê a análise das redes sociais como uma ferramenta fundamental para sentir o pulso das comunidades, e saber quais os assuntos que estão a centrar as atenções. “A rede é muito volátil e é preciso haver uma monitorização diária para que a comunicação seja perfeita com o público.”
Há, também, uma parte importante do público para quem as campanhas nas redes sociais, quando as há, não estão a falar: os jovens. “É tudo muito antiquado, a linguagem utilizada poderia ser muito mais moderna, mais dinâmica. A campanha eleitoral é muito pobre nesse sentido.”