18 set, 2017 - 10:45 • Eunice Lourenço
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Dificilmente, o CDS conseguirá repetir a noite autárquica de 2013 que poderia parecer uma grande vitória. O partido quintuplicou o número de câmaras. Pode parecer muito, mas aconteceu porque só tinha uma e passou a ter cinco. O CDS também aumentou o número de vereadores no total nacional, apesar de ter descido em percentagem de votos, de 3,09 para 3,04%.
As eleições autárquicas são sempre difíceis para este partido, que já esteve para perder um líder numa noite eleitoral em que acabou por ser salvo pela demissão do então primeiro-ministro. Foi Paulo Portas em 2001, salvo pela demissão de António Guterres. Passados quatro meses, o CDS estava no Governo e Portas era ministro.
Mas, agora, também não se adivinha que tal noite se repita, apesar de, mais uma vez, o presidente, neste caso a presidente, do partido candidatar-se à Câmara de Lisboa.
Assunção Cristas, a sucessora de Paulo Portas, avançou há um ano para esta corrida, sem esperar por uma decisão do PSD sobre uma eventual coligação. Na altura, Passos Coelho ainda acreditava que podia haver eleições legislativas antes das autárquicas. Mas a líder do CDS percebeu que era nas autárquicas que se ia jogar uma eventual mudança de ciclo e apostou em dar provas da sua liderança na primeira oportunidade eleitoral.
A aposta de Cristas é controlada: em princípio, nunca terá um resultado pior do que os 7% de Paulo Portas em 2001. Portas tinha Pedro Santana Lopes como adversário do lado do PSD, que acabou por conseguir tirar a câmara a João Soares.
Agora, Assunção Cristas tem do lado do PSD a candidatura de Teresa Leal Coelho, uma segunda escolha, como a própria assumiu publicamente. A líder do CDS tem apostado em centrar a campanha na ideia de que é a única adversária de Fernando Medina e sonha ter um resultado superior ao do PSD. Mas, como reconhecia à Renascença um dirigente do CDS, em Lisboa, mesmo que candidate “uma vassoura”, o PSD tem cerca de 20% de votos fixos.
A aposta de Assunção Cristas em Lisboa é tão grande que centra toda a sua campanha na capital, não fazendo uma volta pelo país como líder partidária. No resto do país, é como se nada se passasse com o CDS. No Porto, apoia Rui Moreira, tal como há quatro anos. Espera manter as cinco câmaras que deram o “penta” a Portas em 2013: Albergaria-a-Velha, Santana (Madeira), Velas (Açores), Vale de Cambra e Ponte de Lima. Nesta última, que sempre foi do CDS, há este ano a possibilidade de perder para o PS, que apoia o ex-deputado centrista Abel Baptista.
Num partido que concorre com o Bloco para o título de partido parlamentar menos autárquico, o que acontecer no dia 1 será sempre responsabilidade de Assunção Cristas. Se tiver um bom resultado em Lisboa, nada mais interessa; se tiver um bom resultado no país (sendo que bom para o CDS é ficar acima dos 3%) será graças à projecção da líder; se tiver um mau resultado no país será porque se concentrou demasiado em Lisboa e foi mais candidata à capital do que líder do partido.
Para o CDS, o essencial joga-se mesmo em Lisboa. E o essencial é a relação e o equilíbrio de forças com o PSD. Quanto melhor for o resultado de Cristas, mais diferente poderá ser esse relacionamento pós-autárquicas. E ambos os partidos vão ter congressos logo no início de 2018.