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“A ideia de uma identidade islâmica única é uma invenção recente da Europa”

10 jul, 2017 - 13:01 • Filipe d'Avillez

O académico Aamir Mufti traça as raízes do actual fenómeno jihadista no mundo islâmico e aponta para a Alemanha como um caso de sucesso na integração de refugiados e migrantes.

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O fenómeno da mentalidade jihadista actual tem raízes na visão europeia da religião islâmica, considera Aamir Mufti, um académico paquistanês que trabalha na América.

Formado em literatura e em antropologia, Mufti dedica-se entre outras coisas ao estudo das ligações entre a crise de refugiados e o fenómeno do terrorismo islâmico no Ocidente.

Em Portugal para participar num encontro promovido pela Universidade Católica, em Lisboa, conversou com a Renascença sobre estes assuntos.

“A cultura da União Europeia tem uma certa maneira muito específica de ver a figura do migrante e a figura do muçulmano. No fundo, o que digo é que a figura do muçulmano na Europa é uma invenção recente. Mesmo há 20, 30 ou 40 anos não havia uma identidade política uniforme e universalizada, pode-se dizer até que não havia muçulmanos... Havia paquistaneses, somalis, egípcios, turcos, pessoas de todo o mundo muçulmano, é certo, mas esta ideia de que existe uma identidade muçulmana unificada e única, que atravessa as diferenças de nacionalidade, origens, raças e línguas... É um fenómeno muito recente na política europeia.”

Para Aamir Mufti esta é uma visão politicamente transversal. “O que me preocupa é que os discursos estatais e públicos sobre esta figura unificada do muçulmano, tanto à direita como à esquerda, acabaram por produzir efeitos no terreno. Isto é, as comunidades passaram a ver-se a si mesmas desta forma, quando há uma geração não era assim.”

“A ironia é que grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, e vários actores estatais e não-estatais na Europa partilham desta ideia de que existe uma comunidade islâmica universal e uniforme, a nível global. Mas isto é um fenómeno recente e continua a dizer respeito apenas a pequenas minoras dos muçulmanos, esta ideia de uma prática islâmica única... Porque a prática do islão variou muito ao longo dos séculos, de região para região, até de aldeia para aldeia, dentro dos países”, conclui o académico paquistanês.

Trata-se, considera Mufti, da pior vertente dos estereótipos. “O poder de um estereótipo não está no facto de alguém ter de nós uma imagem negativa, mas que nós passemos a assumir essa imagem”.

Para Aamir Mufti, o fenómeno do radicalismo islâmico é, assim, apenas uma vertente de uma visão europeia do islão, que está a ser assumida por uma nova geração de muçulmanos, com particular destaque para os que vivem na Europa e estão, por isso, mais sujeitos a ela.

“Não é por acaso que milhares de crianças europeias se juntam ao Estado Islâmico e combatem por eles, é porque partilham desta visão. Os paquistaneses não estão a juntar-se em massa à jihad na Síria. A Indonésia tem a maior população islâmica do mundo, seguida da Índia e os filhos deles não estão a correr para a Síria para se juntar ao Estado Islâmico. Mas as crianças europeias estão. E em muitos casos são crianças mesmo.”

O cenário actual na Europa não é fácil, admite o ensaísta, mas há sinais de esperança e exemplos a seguir. Mufti aponta para a Alemanha. “Receberam um milhão de refugiados num só ano. Mas não estão propriamente com o país cheio de campos de refugiados, nem têm as pessoas a dormir em estações de comboio. Muito rapidamente estas pessoas foram assimiladas e tornaram-se parte de comunidades, aldeias, vilas e cidades em todo o país. É possível, havendo vontade política, e Angela Merkel tem-na demonstrado”, conclui.

Aamir Mufti foi um dos oradores do encontro "Global Translations: VII Lisbon Summer School for the Study of Culture", que se realizou em Lisboa entre os dias 26 de Junho e 1 de Julho.

Comentários
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  • 02 ago, 2017 10:43
    Não há dúvida de que a Rádio Renascença segue a linha do Papa Francisco, não sei se ainda têm quem lhes dê crédito. Continuem a propagandear o islão, enquanto rolam cabeças de cristãos, na Europa, na Ásia e em África. Fica-lhes bem!
  • JMC
    10 jul, 2017 USA 21:45
    Bla, bla, bla, bla, bla. Nós aqui nos EUA ouvimos essas patranhas ao longo dos anos. Embora eu saiba que há muçulmanos pacificistas neste mundo, todos nós no mundo ocidental temos de estar atentos a todas as alturas. Diga o que disser o Aamir Mufti, a culpa não é nossa.
  • Carlos Sampaio
    10 jul, 2017 Esposende 21:03
    Ou há um erro grave de tradução ou o académico não sabe o que diz ou sabe e é ainda mais grave. A comunidade islâmica universal, a “Ouuma”, a nação muçulmana, é um conceito antigo e não nasceu certamente na Europa. O salafismo jiadista recente nasceu após a queda do império Otomano no Egito e no Paquistão, não na Europa. Realmente, se não houvesse Europa…
  • rib
    10 jul, 2017 PORTO 17:41
    Um dia, a Europa ainda se vai arrepender, mas já será tarde. Com toda a certeza que existem imensos islâmicos pacíficos, principalmente, numa altura em que precisam de o demonstrar. As crianças europeias que servem a guerrilha denominada "isis" são, na maioria, descendentes de islâmicos radicados, há muitos anos, na Europa. A pergunta que eu faço é a seguinte: porque é que não aceitam nas suas terras a prática de outra religião e cultura? Eu acho que só devemos partilhar o nosso espaço quando isso acontecer. Só uma advertência, as mulheres nesses países estão ao nível de muitos "rafeiros".
  • Alberto Oliveira
    10 jul, 2017 iraque 17:15
    Eu também sou um grande mentiroso
  • rui
    10 jul, 2017 lisboa 14:52
    este ou vive num mundo aparte ou quer fazer dos outros estupidos. a alemanha é um caso de sucesso de integraçao? a serio? o que se passou em colonia, frankfurt, o que se esta a passar nos festivais de verao? o aumento de crimes violentos e de assaltos sexuais? nao vivem na rua mas têm o mesmo comportamento selvagem que nos paises deles. nao se integram nas comunidades onde vivem, nao trabalham, criam guetos onde nem a policia entra. um sucesso de integraçao. e o o fenómeno do radicalismo islâmico é, assim, apenas uma vertente de uma visão europeia do islão? a culpa é sempre da europa, porque é a europa que lhes pede para colocar bombas e passar pessoas "a ferro" com carros e camioes. a europa tem milhoes de sikhs e budistas e nenhum deles anda a rebentar com nada. como explica isso este "senhor"? areia para os olhos dos tolos.
  • Carlos Sampaio
    10 jul, 2017 Esposende 14:20
    Não foram os europeus que inventaram o salafismo jiadista no séc. XX . Fundamentalmente, nasceu no Egito e no Paquistão. Não foram os europeus que inventaram o conceito de "Ummah", a grande comunidade islâmica, que de recente também não tem nada. Não me parece que os europeus sejam maioritários nos grupos violentos do Médio Oriente.
  • AM
    10 jul, 2017 Lisboa 14:05
    Lagrimas de crocodilo. Não tenho mais comentários a fazer, porque não acredito na cegonha...

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