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Entrevista

José Luís Nunes Martins: "O amor é o pilar da existência"

26 jun, 2017 - 18:35 • Ângela Roque

Não vive da escrita, mas escrever é o que lhe dá “sentido à vida”. Escreve para todos, crentes e não crentes, sobre a vida, a morte e o amor. Em “Pilar - 83 reflexões em torno do Amor” estão reunidas muitas das crónicas que José Luís Nunes Martins já fez para o site da Renascença.

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José Luís Nunes Martins entrevistado por Ângela Roque

É o sexto livro que publica, se não contar com um primeiro que escreveu ainda na universidade. Desta “vaga recente”, como diz, quatro foram livro de crónicas e dois integraram uma colecção especial da Paulus (o “Rosário” e a “Via Sacra” para crentes e não crentes).

Em entrevista à Renascença José Luís Nunes Martins explica como a formação em filosofia o tem levado a reflectir sobre a vida e a morte, e sobre o amor que é “o pilar da existência”, que tudo “sustenta” e “eleva”. Daí a escolha do título. Diz que não tinha noção de como a sua escrita ajuda quem o lê, até saber que uma enfermeira distribuía os seus textos pelos doentes do IPO. Saber disso fê-lo ter mais consciência da responsabilidade que tem para com os leitores.

O livro “Pilar – 83 reflexões em torno do Amor”, da Paulus Editora, tem lançamento marcado para dia 28, às 19h00, no Grémio Literário, em Lisboa.

Estes são todos textos já publicados na Renascença?

São a esmagadora maioria, cerca de 70. Comecei a publicar na Renascença em Fevereiro de 2016, todos os sábados.

O título não foi escolhido por acaso, pois não? O que é que significa?

Significa uma homenagem muito concreta, a uma pessoa muito concreta que se chama Pilar. Mas significa também algo que me parece fantástico, que é o amor ser o pilar da existência.

É o que sustenta?

O que sustenta e o que eleva. É qualquer coisa que nos coloca acima do patamar normal da existência.

Este não é o seu primeiro livro, e não é o primeiro sobre o amor. É o tema que o ocupa mais em termos de reflexão e de escrita?

Sem dúvida. O tema favorito é sempre muito estranho, mas é a morte. Eu gosto muito de perceber a vida, a minha formação é em filosofia e sempre me dediquei à morte numa tentativa de compreender a vida. E a morte faz sofrer precisamente porque há o amor, se não houvesse amor provavelmente a morte seria mais um acontecimento da existência.

A minha preocupação com o amor tem também a ver com alguma facilidade que eu encontrei em falar de Deus sem o citar. Se eu disser que “Deus tudo pode”, há logo três ou quatro que fogem com medo de Deus e com medo de catequeses. Se eu falar do amor de uma forma muito concreta é provável que eles fiquem. E às vezes não é preciso sequer nunca citar Deus.

Tem esse cuidado com a forma como comunica o que pensa e como encara a fé, por ter essa consciência de que há pessoas que, pelo preconceito, podem afastar-se?

Sim. Também tenho a ideia de que haverá alguns que conhecendo um bocadinho mais das catequeses dizem 'bem, ele hoje está a falar do filho pródigo e está a fingir que não o conhece, ou está a querer plagiar o Novo Testamento”. Mas isso é muito bom, quando as pessoas se identificam, porque eu acredito fundamentalmente nisto – a nossa mensagem vale pela verdade que ela traz, não por quem a trouxe até nós.

Foi essa preocupação com a forma como comunica que já o levou a escrever a “Via Sacra para Crentes e Não crentes” e o “Rosário para Crentes e Não crentes”?

Claro, porque tenho ideia que todos devem ser abrangidos pela misericórdia, pela verdade, ninguém deve ficar excluído à partida. Se a alguns assusta ouvir falar no que disseram os Santos, os evangelistas, então não se assustem. Nós não queremos lançar "passwords" para entrar no Céu. Jesus Cristo veio dizer-nos que o critério de entrada no Céu é dar de comer a quem fome e dar de beber a quem tem sede. Se conseguirmos motivar as pessoas para o fazer, dando testemunho e procurando razões que as levem a fazer isso, ainda que não seja em nome de Deus, mas em nome do bem maior, eu acho que estamos a fazer o bem e elas também. E se calhar elas vão para o Céu e nós não.

Apresenta-se assim: "Pai e filósofo. Estudo e escrevo. Gosto de cavalos, mar, montanhas e tempestades", sendo que "pai" aparece à frente de tudo o resto. Esta condição também molda a forma como olha a vida e reflecte sobre a vida?

Há pouco tempo vi um programa de televisão onde um senhor chinês muito empreendedor resolveu fazer um aeroporto. Numa altura crucial dos negócios morreu-lhe o pai, e ele não foi ao funeral do pai, e disse de uma forma muito simples que isso lhe custou muito, mas que tinha aprendido desde pequeno que ou se faz negócio, ou se fica em casa. Se alguma vez alguém me puser essa escolha, eu fico em casa. Esse “pai” escrito em primeiro lugar é para não me esquecer nunca, é quase um espinho na carne para me lembrar que essa é a minha principal função.

O que escreve lê-se muito bem, o que não significa que não seja profundo. Usa, por exemplo, muitas reticências. É uma maneira de convidar quem lê a reflectir sobre o que está a transmitir?

É exactamente isso, convidar as pessoas a colocarem aquilo que quiserem na sua reflexão. Eu quero ser o pretexto, não quero ser a conclusão. Gostava de ser eu a despertar qualquer coisa, mas é própria pessoa que a deve completar, não sou eu que vou fechar lição com a moral da história.

Estas crónicas estarem em livro ajuda a fazer essa partilha com mais gente?

Eu gostava que sim. Gosto muito de escrever, e para continuar a escrever gostava muito que houvesse quem lesse. E algumas pessoas pedem para ler noutros formatos. Estou presente em várias redes sociais, mas claramente as pessoas que me lêem não são as mais novas, e se calhar têm ainda alguma dificuldade em ver as crónicas para trás, e um livro facilita isso.

Continuar a fazer o que gosto é o principal objectivo da minha vida, embora não consiga viver daqui.

Tem outra actividade?

Trabalho em comunicação e marketing e em gestão e planeamento de desastres, que são outras áreas que têm outros propósitos. O principal propósito da minha vida, além de ser pai e de tentar ter uma casa e uma família, é escrever. É isso que me preenche e que dá sentido à minha vida.

Tem muitas reacções de quem o lê?

Tenho. E há uma coisa curiosa... ao contrário de outras pessoas que escrevem, de outros sites e caixas de comentários, eu tenho muito poucas pessoas a contestar o que digo. Talvez porque não tomo posições políticas. Mas, nas redes sociais, por email e por outras formas, chegam-me reacções muito positivas.

Uma vez contaram-me uma história, que eu depois fui verificar e agradecer quase de joelhos a essa pessoa, que era uma enfermeira que distribuía os meus textos aos doentes do IPO. Quando soube pensei “isto é gente que não tem muita paciência para ler conversa de chacha". Fui lá e foi muito bom. E o que lhe disse na altura foi que aquilo era melhor que um prémio Nobel. Alguém dizer-me "isto não tem grande chacha, não tem grande palha, isto é bom"… Eu nem tinha consciência….

De que a sua escrita tocava assim as pessoas, e que as ajudava?

Sim. Tornou-me mais consciente da responsabilidade que tenho em escrever cada linha.

Este foi um dos destaques do espaço que às segundas-feiras, depois das 12h15, é dedicado aos temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.

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  • ANTONIO JOSE GUIMAS
    15 nov, 2017 GUARDA 19:10
    NÃO SOU CRENTE MAS TENHO MUITO ORGULHO EM TER COMEÇADO A LER AS SUAS CRÓNINAS NO JORNAL I E POSTERIORMENTE ACOMPANHADO ALGUNS DOS SEUS LIVROS OS QUAIS NAO ME CANSO DE FALAR DELES.NÃO TENHO DÚVIDAS DE QUE AS SUAS REFLEXOES SÃO AUTENTICAS PÉROLAS LITERÁRIAS PARA A MENTE HUMANA.A.J.G.ESTEVES.

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