29 mai, 2017 - 15:59 • Filipe d'Avillez
O Colégio Português em Roma, que alberga os seminaristas e padres portugueses que se encontram naquela cidade a estudar ou a trabalhar, vai ser distinguido na terça-feira como “Casa da Vida”.
A distinção é atribuída pela fundação Raoul Wallenberg, dedicada a preservar e a divulgar a memória de pessoas que ajudaram a salvar judeus e outros durante o holocausto.
Pelo menos 40 pessoas foram salvas por intervenção directa do Colégio Português e do seu reitor, monsenhor Joaquim Carreira, especificamente entre 1943 e 1944.
Para o actual reitor, padre Fernando Caldas, a história lança desafios para o presente. “Fazer memória disso é dar valor à vida humana acima da violência e do mal. Isso continua a ser um desafio ainda hoje, porque o colégio continua a ter uma função humana, acima de tudo, de formação sacerdotal daqueles que se encontram em Roma neste momento, continuando a memória daqueles que em 43 e 44 acolheram refugiados e perseguidos.”
O reitor considera ser uma honra poder receber a distinção em nome dos seus antecessores. “É uma honra fazer parte de uma instituição que teve pessoas que na altura puseram a sua vida em risco para salvar outras vidas. É uma honra estar em linha de continuidade com Monsenhor Joaquim Carreira, que foi declarado Justo entre as Nações, pelo museu do Holocausto de Jerusalém, porque na altura a comunidade sacerdotal que estava no colégio colocou a própria vida em risco para salvar outras vidas.”
A cerimónia de terça-feira contará com D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, mas estará também presente o último sobrevivente dos que foram salvos pelo padre Carreira. Luigi Priolo era filho de um socialista, opositor do regime fascista italiano. “Ele tem muita estima ao Colégio, deve a vida ao Colégio”, explica o padre Fernando Caldas.
“Ainda esta semana contactei com familiares de alguns refugiados e tive a infeliz notícia que outros dos refugiados que ainda estava vivo, o Elio Cittone, faleceu há cerca de um mês e meio. E a filha, agradecida, dizia-me: ‘Nós devemos a nossa vida ao Colégio Português e às pessoas dessa altura. Se o meu pai não tivesse sido acolhido teria sido morto e nós não estaríamos aqui’. É um testemunho mais que evidente de pessoas que experimentaram o acolhimento que foi dado e que hoje estão reconhecidos ao Colégio Português”, conclui o reitor.