Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

1934-2017

Morreu o jornalista Baptista-Bastos

09 mai, 2017 - 18:17

O escritor e autor da famosa série de entrevistas "Onde é que você estava no 25 de Abril?" morreu aos 83 anos.

A+ / A-

O jornalista e escritor português Armando Baptista-Bastos morreu esta terça-feira, aos 84 anos.

O filho do escritor colocou o seu perfil nas redes sociais a preto. "O meu Pai, Armando Baptista-Bastos, faleceu. Tinha 84 anos. Teve uma vida extraordinária, de que muito me orgulho. Amo-te muito Pai. Que Deus o acolha no seu Reino", lê-se no "post" de Pedro Baptista-Bastos.

Segundo o perfil publicado no site no "Jornal de Negócios", uma das várias publicações para as quais escreveu, Baptista-Bastos foi "considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos".

Nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda, em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.

Começou o seu percurso profissional n'"O Século", jornal para o qual viajou em representação para vários países. Foi subchefe de redacção d"O Século Ilustrado" com apenas 19 anos, no qual assinou uma coluna de crítica cinematográfica, "Comentário de Cinema", que se tornou famosa pelo registo polémico.

Em Abril de 1960, é despedido d'"O Século" por ter estado envolvido na Revolta da Sé em 1959, na sequência da candidatura de Humberto Delgado por quem foi activista. Devido às circunstâncias, trabalhou na televisão pública em semi-clandestinidade e com o pseudónimo Manuel Trindade.

Com esse nome, redigiu noticiários e assinou textos de documentários como a ”Cidade das Sete Colinas”, “Os Namorados de Lisboa” e “Este Século em que Vivemos”.

O "contumaz adversário do regime"

Seis meses depois, foi despedido da RTP porque o então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, futuro ministro do Interior no Governo de Marcello Caetano, deu instruções nesse sentido. "Esse senhor é um contumaz adversário do regime”, disse Moreira Baptista, segundo o perfil de Baptista-Bastos publicado no "Jornal de Negócios".

Baptista-Bastos esteve também nos quadros redactoriais de jornais como o “República”, o "Europeu” e "O Diário” e em revistas como a "Cartaz”, a “Almanaque” e a “Seara Nova”. Foi redactor, em Lisboa, da Agência France Press (AFP). Colaborou ainda, como cronista, em publicações como o "Jornal de Notícias", "A Bola" e o "Expresso".

É no vespertino “Diário Popular”, onde trabalhou durante 23 anos (1965-1988), que marca, “com um estilo inconfundível”, segundo Adelino Gomes, o jornalismo da época.

No “Diário Popular” publica “algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século”, disse o também jornalista Afonso Praça.

Passou também pela rádio (Antena 1, Rádio Comercial e TSF) e televisão ("Conversas Secretas", na SIC, e o programa de entrevistas "Cara-a-Cara", na SIC Notícias).

Um dos seus livros de textos jornalísticos, "As Palavras dos Outros", é considerado um clássico e uma referência obrigatória na profissão, segundo Adelino Gomes e Fernando Dacosta e foi recomendado como leitura indispensável no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.

Em Abril de 1999, a direcção do "Público" convidou-o a realizar uma série de 16 entrevistas subordinadas ao tema "Onde é que Você Estava no 25 de Abril?". A frase ficaria célebre também pela paródia de que foi alvo por parte do humorista Herman José.

O velório de Baptista-Bastos realiza-se quarta-feira, a partir das 16h00, na Sociedade Portuguesa de Autores, na rua Gonçalves Crespo, em Lisboa.

A cerimónia de cremação realiza-se na quinta-feira, pelas 17h00, no cemitério do Alto de São João, também em Lisboa.

Notícia actualizada às 11h00 de 10 de Maio, com informação sobre velório e funeral.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Fatima Cunha
    11 mai, 2017 S.Mamede de Infesta 15:09
    Partiu um homem, bom culto, progressista e sem papas na lingua e com obra feita.Até sempre Baptista Bastos!
  • Luis Lares
    10 mai, 2017 Olhão 12:24
    Um grande Senhor. Adeus e muito obrigado.
  • Luis
    10 mai, 2017 Lisboa 12:03
    Morreu um dos poucos grandes senhores do Jornalismo Português. Como é óbvio a extremadireitalhopitecus boçal e imbecil cá do burgo detestava-o. Que descanse em paz. Com a morte dele Portugal ficou muito mais pobre.
  • VIRIATO
    10 mai, 2017 CONDADO PORTUCALENSE 10:15
    Eu quero ver quando o grande fadista João Braga marchar para outro mundo, quero ver se a esquerdalha jornaleira e comentaristas vem para aqui fazer a demonstração do carácter e dignidade desse grande fadista que teve a coragem de dizer umas verdades tais como "...para se ganhar um Óscar é só preciso ser preto ou gay." Agora bateu a bota um troksista e lá vem as virgens da esquerdalha cantar as aleluias armados em crentes, quando mais não são do que uns ímpios como este, que foi prestar contas a alguém ...e para ser grande jornalista basta ser comuna ou troksista...TRISTEZA.
  • manel jaquim
    10 mai, 2017 lisboa 00:17
    Lá se foi a figura sinistra
  • Tuca
    09 mai, 2017 Espinho 22:30
    Gostava tanto de o ler. Que triste notícia recebi agora...
  • Fernando
    09 mai, 2017 Covilhã 22:06
    Um dos poucos que nunca deveriam morrer. Um Homem extraordinário de inteligência e verticalidade. Estamos de luto, e o Belenenses também. Quem sabe um dia nos veremos por aí..........
  • lamentável
    09 mai, 2017 Santarém 21:33
    Chegamos a um ponto onde infelizmente já nada parece estranho neste país onde as opiniões se confundem e por vezes parecem ir todas no mesmo sentido isto a propósito deste mesmo artigo aqui tão elogioso por parte da Renascença a um jornalista que tinha de facto uma conversa muito matreira e atraente mas que no fundo era militante do PCP e que por essa mesma razão jamais poderia ser um antifascista ou anti-ditador, era de facto anti-salazarista mas defensor de outra ditadura bem mais cruel e sanguinária como todos nós sabemos, dúvidas e apreço só poderão restar àqueles defensores de tal ideologia. A esta distância do 25 de Abril e do assalto planeado ao Poder logo após e de algumas nefastas consequência que o PCP consegui impor como a Reforma Agrária de assalto e pilhagem e ás maiores empresas públicas que foram todas à falência parece impossível como há quem feche os olhos e tente não ver nada.
  • Sergio
    09 mai, 2017 Paço de Arcos 21:31
    Um Homem vertical. Nunca se vergou e morreu com grande dignidade. Um exemplo para todos nós. Por acaso no meu escritório tenho uma foto com ele na parede, junto com outras figuras de relevo, como José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues entre outros...Grande escritor e jornalista. Obrigado Batista Bastos pelo seu exemplo...
  • Eduardo
    09 mai, 2017 21:13
    Recordo-o com saudade. É muito desagradável que a morte de alguém nos faça lembrar do quanto essa pessoa contribuiu para a nossa comunidade. A vida é assim mesmo.

Destaques V+