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Fátima e Rússia, uma relação (também) icónica

10 mai, 2017 - 13:35 • João Carlos Malta

O segundo segredo de Fátima levou a que um grupo de católicos norte-americanos quisessem fazer chegar a Portugal uma das imagens mais importantes para os cristãos russos.

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A Rússia é o alvo do segundo segredo de Fátima no qual Lúcia revela que só a conversão daquele país poderia evitar guerras à escala mundial. Mas a ligação entre o Santuário e os russos tem outro ponto muito importante: o ícone de Kazan.

Esta é uma imagem muito importante para a Rússia – é figura de proa da história cristã daquele país, que a considera como sua relíquia mais sagrada, “sua Mãe e Protectora”. E essa imagem chegou a Portugal depois de uma longa, longa história que também se cruza com o segredo.

Saltemos cincos séculos, quando começa esta história, directamente para 1970, quando Portugal se torna protagonista. A imagem que tinha sido roubada reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Uma organização católica de devoção à Virgem de Fátima dos Estados Unidos da América (o Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima) adquire a imagem do ícone de Kazan e envia-o para a Capela Bizantina, frequentada pelos ortodoxos, em Fátima.

A finalidade era uma: pressupunha a conversão da Rússia – anunciada pela Virgem aos três pastorzinhos – para que a imagem fosse devolvida a esse país.

Ali fica durante 23 anos até que, em 1993, o ícone de Kazan é entregue ao Papa João Paulo II por esta organização. Esta imagem segue então para o Vaticano, onde fica nos aposentos do Papa.

Passados dez anos, ao enviar o ícone para a Rússia, num gesto que foi entendido como uma aproximação à Igreja Ortodoxa, João Paulo II revelou que nos anos que a imagem o acompanhou, muitas vezes, invocou “à Mãe de Deus de Kazan”. A ela pedia que protegesse e guiasse o povo russo que lhe é devoto e que recuperassem a unidade perdida.

Uma imagem usada pelos generais em batalhas

A imagem é historicamente importante para os russos. Foi levada por generais em várias batalhas – entre as quais as vitórias sobre os exércitos de Napoleão e Hitler – e ficou conhecida como a Kazanskaya, a “Protectora da Rússia”. Torna-se num símbolo russo da vitória e da liberdade. Foram feitas pelo menos nove réplicas “milagrosas”. Nossa Senhora de Kazan passa a ser a padroeira de milhares ou milhões de lares russos.

A história mais difundida como a narrativa fundadora do ícone de Kazan data de 1579, quando uma menina de nove anos, Matrona, cuja casa se incendiou em Kazan, viu num sonho a imagem da Virgem Maria. Nesse mesmo sonho ouviu uma voz que lhe pedia recuperar um ícone sagrado oculto nas cinzas de seu lar.

A menina acabou por descobriu o ícone envolto num tecido antigo numa estufa, onde teria sido enterrado desde a perseguição cristã empreendida no século XIII pelos tártaros.

Até chegar a Fátima, a imagem passou por São Petersburgo, Moscovo, Polónia e Estados Unidos da América.

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