Tempo
|
A+ / A-

Porque voa o tempo quando nos divertimos?

08 dez, 2016 - 19:41

Equipa do Centro Champalimaud estudou o fenómeno. Razão pode estar na "manipulação da actividade de certos neurónios".

A+ / A-

Cientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa, identificaram circuitos de neurónios no cérebro dos ratinhos que modulam a estimativa do tempo decorrido, ajudando a compreender porque o "tempo parece voar" em situações divertidas e "ficar parado" em casos aborrecidos.

A investigação, publicada na revista Science, descobriu que "a manipulação da actividade de certos neurónios no cérebro do ratinho levava estes animais a subestimar ou sobrestimar a duração de um intervalo de tempo fixo", refere um comunicado divulgado esta quinta-feira pelo Centro Champalimaud.

"Os cientistas identificaram, pela primeira vez, circuitos neurais que modulam a estimação do tempo decorrido – pelo menos no cérebro do ratinho", acrescenta.

Os resultados deste trabalho, de Joe Paton, investigador principal do Learning Lab, de Sofia Soares, estudante de doutoramento, e de Bassam Atallah, pós-doutorado, dão uma resposta neurobiológica à antiga questão de perceber como o cérebro consegue produzir estimativas tão variáveis do tempo decorrido.

"O tempo voa, o tempo passa, o tempo pára. Todas estas expressões mostram o quão variável pode ser a nossa percepção da passagem do tempo", refere o comunicado do Centro Champalimaud.

E este foi o ponto de partida da investigação que pretendia perceber como é que o cérebro humano constrói esta experiência tão subjectiva.

Os resultados obtidos "também poderão ajudar a explicar por que o tempo parece voar quando nos divertimos e ficar parado quando não temos nada para fazer", explica o Centro Champalimaud.

O grupo de neurocientistas estuda há vários anos as bases neurais da avaliação da passagem do tempo, no âmbito de um objectivo mais abrangente de perceber como o cérebro aprende a relacionar causas com efeitos, mesmo ao longo de grandes períodos de tempo.

Focaram-se num tipo de neurónios que libertam dopamina, um dos 'mensageiros' químicos, ou neurotransmissores, utilizados pelo cérebro, e que fazem parte de uma zona profunda, a 'substantia nigra pars compacta', que está envolvida no processamento temporal.

"Estes neurónios dopaminérgicos estão implicados em muitos dos factores e perturbações psicológicos associados a alterações na estimativa do tempo", como motivação, mudanças sensoriais, atenção, novidade e emoções como medo ou alegria, escrevem os autores na Science.

Nos seres humanos, refere a informação, a destruição da 'substantia nigra' provoca a doença de Parkinson, que também é acompanhada de deficiências da percepção do tempo.

Quanto à possibilidade de extrapolar as conclusões do estudo para os seres humanos, segundo os autores, "é muito provável que um circuito semelhante exista no cérebro humano, mas o obstáculo que impede de tirar essa ilação é que o que agora mediram no ratinho não pode ser considerado uma percepção, porque os animais não conseguem dizer o que sentiram".

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+