17 nov, 2016 - 16:21 • Aura Miguel
O arcebispo de Erbil, no Iraque, monsenhor Bashar Warda, está em Portugal para apresentar o último relatório da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sobre liberdade religiosa no mundo.
Em entrevista à Renascença, Bashar Warda traça o retrato do que é permanecer cristão hoje no Iraque, no meio de tantas dificuldades, sofrimentos e pressões para renegar a fé e a Igreja.
Como é hoje ser cristão no Iraque?
Ser cristão no Iraque é estar pronto para enfrentar todos os dias dificuldades, novas crises, problemas e desafios, alguns deles materiais, necessidades pessoais e familiares, sobretudo, entre os desalojados, que têm de procurar alojamento, comida, apoio médico, educação… e, depois, pensar no futuro, entre tantos combates e perseguições aos cristãos…
Isto começou em 2003, com raptos de padres, leigos, bispos, com padres e bispos assassinados e igrejas bombardeadas. E, além disso, mergulhados em crises políticas, no país e em todo o Médio Oriente.
Não se sentem desanimados?
Sem fé e sem esperança não é possível ser-se cristão no Médio Oriente. Nós temos Cristo! Muitos confrontam-nos sobre isto e dizem-nos que é preciso mudar de religião e aderir ao islão ou então ter de pagar e aguentar a cruz por ser cristão.
Esta questão exige uma resposta pessoal de cada um: continuar cristão ou ceder.
O nosso povo, nós, sempre decidimos permanecer cristãos e aguentar estas dificuldades. E assim chegamos ao fim do dia com um sentido para a vida e para o nosso destino.
Não têm medo? Como olham para “a vida calma” dos cristãos no Ocidente?
Sabemos, desde o início, que Jesus não nos prometeu uma bela vida, mas deu, a cada um de nós, a Sua cruz e acredito que vocês aqui também têm as vossas dificuldades, com o aumento do secularismo – e que também combate em profundidade o cristianismo, tornando a vida difícil aos cristãos no Ocidente. Por isso, partilhamos esta dificuldade. É certo que a vossa vida é mais confortável, mas ser cristão no Ocidente também não é fácil.
Como encara o futuro político e a recente eleição de Donald Trump para Presidente dos EUA?
Como bispo, preocupo-me mais com o destino do meu povo. O que eu quero é trabalhar com todas pessoas de boa vontade para que os cristãos permaneçam no Médio Oriente, em especial no Iraque e na Síria. Acredito que temos ali uma missão a cumprir, queremos trabalhar em prol da reconciliação, ajudar as pessoas a falar e a crescer no diálogo para darem o exemplo. Por isso, a minha preocupação não é tanto o que se passa na política, mas sim como podemos trabalhar juntos para os cristãos permanecerem no Médio Oriente.
E o diálogo com os muçulmanos?
Os nossos antepassados conseguiram-no durante 1.400 anos e penso que agora também nós vamos conseguir.
Muitos quilómetros separam Portugal do Iraque. O que podemos fazer pelos iraquianos?
Sensibilizar para a perseguição dos cristãos, rezar por eles, falar da sua história, dar-lhes voz. Falar aos jovens e a todos do que se passa com as perseguições no Iraque e na Síria e também ajudar-nos, no plano material.