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Papa: “A família é a chave de ouro para compreender o mundo, a história e o amor de Deus”

27 out, 2016 - 13:32 • Aura Miguel , Filipe d'Avillez

O Papa Francisco recebeu, esta quinta-feira, os membros do Instituto João Paulo II. Afirmou que só se compreende a dignidade do homem e da mulher reconhecendo as diferenças entre eles.

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A família é a “chave de ouro” que permite ler o mundo, a sua história e até o mais íntimo do amor de Deus, considera o Papa Francisco, defendendo que, por isso, a Igreja tem a obrigação de ajudar os homens e as mulheres a preservar esta “extraordinária invenção” de Deus.

Num discurso feito, esta quinta-feira, numa audiência à comunidade académica do Instituto João Paulo II para o Estudo do Matrimónio e da Família, Francisco fez um diagnóstico da situação das famílias no mundo actual.

“Nesta conjuntura, os laços conjugais e familiares são postos à prova de muitos modos”, diz Francisco, elencando “a afirmação de uma cultura narcisista, uma concepção da liberdade desligada da responsabilidade pelo outro” e “o crescimento da indiferença para com o bem comum e a imposição de ideologias que agridem directamente o projecto familiar”, entre outros.

“A incerteza e a desorientação que tocam os afectos fundamentais da pessoa e da vida desestabilizam todos os laços, tanto familiares como sociais, fazendo prevalecer sempre o ‘eu’ acima do ‘nós’, o indivíduo acima da sociedade”.

Entre os perigos sublinhados pelo Papa encontra-se, mais uma vez, a chamada "ideologia do género", segundo a qual as diferenças entre homem e mulher são culturalmente impostas e sujeitas à vontade de cada um, pelo que quando um homem decide que afinal é uma mulher, ou vice-versa, isso é que é determinante e não os factos biológicos.

Para o Papa, porém, “o reconhecimento da dignidade do homem e da mulher implica uma justa valorização da relação recíproca entre eles. Como podemos conhecer a fundo a humanidade concreta de quem somos sem aprender com estas diferenças?”, pergunta o Papa. “É impossível negar o contributo da cultura moderna para o redescobrir da dignidade das diferenças sexuais. Por isso, é também muito desconcertante constatar que agora esta cultura parece estar bloqueada por uma tendência para anular as diferenças em vez de resolver os problemas."

Por todas estas razões, disse ainda Francisco, é necessário “maior entusiasmo no resgate – diria quase a reabilitação – desta extraordinária ‘invenção’ da criação divina. Este resgate deve ser levado a sério, tanto no sentido doutrinal como no sentido prático, pastoral e testemunhal. As dinâmicas das relações entre Deus, o homem e a mulher, e os seus filhos, são a chave de ouro para compreender o mundo e a história, com tudo o que contêm. E, por fim, para compreender algo de profundo que se encontra no próprio amor de Deus”.

“Somos capazes de pensar assim ‘em grande’ sobre esta revelação?”, interrogou o Santo Padre, antes de lançar um apelo: “Saibamos arrancar as novas gerações à resignação e reconquistá-la para a audácia deste projecto”.

O Instituto João Paulo II foi fundado pelo Papa polaco em 1988 no âmbito da sua própria reflexão sobre o casamento e a família, que resultou na sua “teologia do corpo”. Recentemente o Papa Francisco substituiu a direcção do instituto, colocando à sua frente o arcebispo Vincenzo Paglia.

A audiência desta quinta-feira resultou de outra alteração feita pelo Papa. Inicialmente o discurso ia ser feito pelo cardeal Robert Sarah, na sede do próprio instituto, mas Francisco sugeriu que em vez disso o corpo docente devia ir ao Vaticano, para que ele mesmo pudesse falar-lhe.

Curiosamente a audiência do Papa surge precisamente no dia em que o arcebispo de Melbourne, na Austrália, anunciou o encerramento do ramo do Instituto naquele país. O arcebispo Denis Hart cita o baixo número de alunos inscritos, mas o "The Catholic Weekly", que divulga a decisão, diz que o número de alunos tem aumentado nos últimos anos.

Comentários
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  • António Américo Pime
    31 out, 2016 Vila do Conde 14:34
    É mesmo o grande desafio da humanidade, responsabilizarmo-nos na vida!

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