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Um bocadinho do oriente cristão vai aos Jerónimos esta quinta-feira

19 out, 2016 - 17:29 • Filipe d'Avillez

Dezenas de bispos e padres das igrejas católicas de rito oriental da Europa vão encontrar-se em Fátima durante três dias. O encontro começa nos Jerónimos, com um momento de oração aberto ao público.

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O observador incauto poderá ser apanhado de surpresa se for visitar o mosteiro dos Jerónimos, na quinta-feira, a partir das 17h30.

Dezenas de bispos, de diferentes igrejas católicas orientais, juntam-se naquela que é uma das igrejas mais emblemáticas de Lisboa, para rezar as vésperas. O rito seguido será o bizantino com o arcebispo-maior Sviatoslav Shevchuk, líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, a presidir e com a presença de D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, que vai acolher a delegação.

Os bispos encontram-se em Portugal para uma reunião organizada pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e pretendem reflectir sobre os cuidados pastorais das comunidades emigradas na Europa ocidental.

Depois da oração das vésperas nos Jerónimos, a delegação segue para Fátima, para três dias de reuniões, pontuadas por muitos momentos litúrgicos e de oração.

Segundo o padre ucraniano Ivan Hudz, que se encontra há vários anos em Portugal ao serviço da comunidade greco-católica radicada neste país, o encontro faz todo o sentido, pois cada vez mais católicos orientais vêm para outros países da Europa à procura de melhores condições de vida. “O problema é que não devemos estar só preocupados com o bem-estar financeiro dos nossos fiéis, mas também com o bem-estar espiritual”, afirma.

O facto de o secretário da CCEE ser o padre português Duarte da Cunha contribuiu para a escolha do país para este encontro, bem como a celebração do centenário das aparições de Fátima. Mas para o padre Hudz os bispos têm muito para aprender com a experiência portuguesa, não só de acolhimento de imigrantes, mas também de cuidado da própria diáspora no mundo. “Sempre disse, repito mais uma vez, que tivemos sorte porque os portugueses são um dos únicos povos na Europa com grande experiência e história de imigração. Os portugueses têm muita experiência, por isso é que escolhemos fazer este encontro em Portugal e em Fátima”.

Em paralelo com o encontro dos bispos haverá também um encontro de padres ucranianos da Europa que cuidam de comunidades imigradas.

O padre Hudz insiste que os milhares de católicos ucranianos de rito bizantino em Portugal não têm nada a apontar ao acolhimento de que têm sido alvo por parte da hierarquia local. Em várias dioceses existem igrejas emprestadas pelos bispos, onde estes cristãos podem celebrar as suas liturgias. Mas há sempre mais a fazer. “Não podemos estar sentados de braços cruzados por sermos bem acolhidos, temos de trabalhar e procurar outros meios para ajudar os nossos compatriotas a integrar-se na sociedade portuguesa. As nossas crianças estudam nas escolas portuguesas, recebem uma boa educação, mas também estamos preocupados que não percam a ligação à sua terra e queremos ver se existe a possibilidade de haver aulas facultativas, em algumas escolas, de história e de língua ucraniana, por exemplo.”

Outra ideia passa pela construção de uma igreja própria, ao estilo bizantino, que é bastante diferente da arquitectura das igrejas católicas de rito latino, mais comuns em Portugal. “Também estamos a pensar nisso, porque a nossa comunidade já se pode chamar uma diáspora, porque muitos já adquiriram a nacionalidade portuguesa, já estabeleceram aqui a vida e não pensam voltar para a Ucrânia. Mas existe sempre a saudade de poder mostrar à sociedade que nos acolheu uma igreja à imagem da nossa tradição e cultura.”

Várias igrejas, uma comunhão

Para além da Igreja Católica de rito latino, que é maioritária no mundo e praticamente hegemónica na Europa ocidental, existem no mundo mais de 20 igrejas de rito oriental. Conhecidas como igrejas “sui iuris”, ou “de direito próprio”, estas comunidades têm as suas próprias tradições, espiritualidade, costumes e hierarquia, que se encontra em comunhão com o Papa.

Em muitos dos casos – mas não todos – trata-se de comunidades que se separaram de igrejas ortodoxas para voltar à comunhão com Roma. Visualmente, os seus padres, bispos e celebrações confundem-se muito facilmente com os ortodoxos. A maioria das igrejas orientais presentes na Europa têm as suas raízes em países da Europa de Leste, de maioria ortodoxa, e seguem o rito bizantino, assim chamado porque se desenvolveu na cidade de Bizâncio, mais tarde Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, que era de língua e cultura grega. São conhecidas, por isso, como igrejas bizantinas ou “greco-católicas”, por oposição às igrejas directamente dependentes de Roma, que são de tradição latina.

Em Portugal, nos próximos dias, estarão representantes da Igreja Greco-Católica da Ucrânia, da Roménia, da Bulgária e da Hungria, entre outras. Virá também o Patriarca da Igreja Greco-Católica Melquita, cujos fiéis vivem sobretudo no Médio Oriente, na Síria, no Líbano e no Iraque.

Para além das vésperas em língua ucraniana nos Jerónimos, na quinta-feira às 17h30, haverá uma Eucaristia presidida pelo líder da Igreja Greco-Católica da Roménia, na capela bizantina da residência Domus Pacis, em Fátima, na sexta-feira às 18h e outra, no sábado às 12h no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, presidida por Ján Babjak, líder da Igreja Greco-Católica da Eslováquia. No domingo, a Eucaristia das 10h30 na Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, será presidida por Sviatoslav Shevchuk, da Igreja Ucraniana. Mais tarde, às 15h, o mesmo presidirá a um momento de oração pelo povo ucraniano e pela paz naquele país, na Capelinha das Aparições.

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