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Olhar Europa

​Sanções à vista

25 jul, 2016 - 14:18 • Pedro Caeiro

O ritmo de trabalho em Bruxelas começa, aos poucos, a desacelerar devido às férias do Verão, mas os comissários da União Europeia ainda têm a sua última grande reunião política marcada para depo9is de amanhã. E é muito provável que haja algumas decisões importantes a anunciar ainda antes da “ida a banhos”.

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Olhar Europa (25/07/2016)

Sem surpresa, atenções viradas por isso na quarta-feira para o anúncio da decisão da Comissão Europeia sobre eventuais sanções a aplicar a Portugal e Espanha devido às violações dos limites do défice. A decisão surge de os ministros das Finanças da União Europeia terem aprovado a avaliação pela Comissão das contas dos dois países ibéricos e terem concluído que Portugal e Espanha não tomaram medidas suficientes para reduzir os seus défices orçamentais de 2015. Está, assim, aberto o caminho a sanções financeiras e o congelamento dos compromissos que envolvem a aplicação de fundos comunitários. Lisboa e Madrid já enviaram para Bruxelas os seus argumentos, mas tanto pode ser decidida uma sanção meramente simbólica, ou até uma espécie de perdão, ao aplicar as chamadas “sanções-zero”, como pode acontecer o que alguma imprensa avança esta manhã, ou seja, que ”A Comissão Europeia pode aplicar uma multa a Portugal no valor de 370 milhões de euros e congelar fundos na ordem dos 762 milhões de euros”. Ao todo, o custo será de mil milhões para o nosso país.

A Comissão também está prestes a anunciar esta semana qual a pasta que vai entregar ao novo comissário do Reino Unido, Julian King. Ele vai substituir Jonathan Hill, que anunciou a demissão do cargo de comissário de mercados financeiros da União Europeia logo após ter sido conhecido o resultado do referendo do final de Junho e que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia. A pasta de Hill foi provisoriamente assumida por Valdis Dombrovskis, da Letónia. O nome de King ainda terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu. Apesar de Estrasburgo não ter direito de veto nesta matéria, a Comissão deve tomar as recomendações do parlamento Europeu em conta.

Ao nível da informação económica, vai ser uma semana em cheio. Na quinta-feira são conhecidos os números mais recentes dos índices de confiança apurados pela Comissão Europeia relativos a Julho. Vai também ser conhecida a estimativa para a inflação homóloga na zona euro que deverá ter permanecido nos 0,1%. Destraque, ainda, para o índice IFO de confiança dos empresários alemães que foi já divulgado esta manhã. Os dados mostram que a confiança económica se deteriorou na maior economia europeia este mês. Ainda assim, menos que o esperado pelos analistas, fixando-se nos 108,3 pontos, face ao mês anterior. Atenção que este indicador já tem em conta o referendo no Reino Unido de 23 de junho, que levou os britânicos a decidirem pela saída da União Europeia. Este índice é calculado a partir de um conjunto de cerca de 7.000 empresas, e deve ser motivo de análise ao longo do resto da semana.

Quanto a outros dados económicos, na quarta-feira são conhecidos os dados de crescimento do PIB no segundo trimestre do ano para as economias do Reino Unido. No dia seguinte, quinta-feira, serão os de Espanha e França.

Atenção à noite de sexta-feira, porque é a altura escolhida, já com os mercados financeiros fechados, para serem dados a conhecer os resultados dos “testes de stress” aos bancos europeus. A Autoridade Bancária Europeia e o Banco Central Europeu vão dar a sua opinião sobre a solidez de alguns sistemas bancários e a forma como estão preparados (ou não) para resistir a tempestades financeiras. E a verdade é que a Itália está debaixo de fogo. Ainda ontem o ministro das Finanças italiano veio garantir que “Não há nenhum risco sistémico nos bancos italianos”. Pier Carlo Padoan quis sossegar os mercados e contrariar as últimas previsões do FMI, que alertavam para um autêntico ciclone financeiro que pode arrasar a banca italiana. O problema não é simples: há 360 mil milhões de crédito malparado em bancos italianos, ou seja, estamos a falar de um terço do total dos empréstimos de cobrança duvidosa da zona euro. Para se ter uma ideia dos valores de que estamos a falar, é o equivalente a duas vezes a riqueza produzida por Portugal num ano. Sexta-feira se saberá o que o BCE acha disto e qual a viabilidade dos bancos europeus. Sobretudo os italianos.
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