07 jul, 2016 - 14:23 • Henrique Cunha
Portugal está na final do Euro 2016, um motivo de alegria para todos os portugueses e em particular para os emigrantes e luso-descendentes em França, como diz à Renascença Hermano Sanches Ruivo, vereador do município de Paris. Saint Denis é a última etapa do sonho português, que muitos acalentam também em França.
"Nós somos um milhão e meio, não apenas aquelas centenas de que os franceses se podem recordar no dia-a-dia."
Qual é o sentimento e a mobilização geral em Paris?
É de uma grande alegria, o sentimento que o comboio finalmente chegou. Há muita mobilização, aqui em Paris. À volta da Torre Eiffel, por exemplo, festejaram milhares de portugueses - foram mesmo milhares de portugueses - e muitos jovens luso-descendentes.
Nunca vimos tantas pessoas com a bandeira portuguesa, ou com qualquer coisa que possa fazer a ligação a Portugal através das suas cores, que aliás transmitem muita esperança.
Mas há também algum receio, porque as coisas aqui nunca correm tão bem quanto isso. Veja-se, por exemplo, as críticas da imprensa francesa à selecção, que acabam por ultrapassar a própria selecção.
Mas essas críticas podem até ter galvanizado os jogadores?
Não sei se galvanizaram os jogadores, mas espero que tenham tido esse efeito. E eu espero que eles tenham compreendido. Primeiro, porque nós vivemos um bocado o dia-a-dia, mas de facto eles não estão apenas à procura de resultado desportivo para a carreira deles e para a história deles. Mas também não o estão a fazer apenas por Portugal, estão a fazê-lo pelos 23 milhões espalhados pelo mundo, não são só esses famosos 11 milhões.
E sabendo também que em França, especificamente, a comunidade portuguesa é importante, porque está aqui há 50 anos, porque ainda não ganhou todas as lutas. Vejamos a questão da língua portuguesa, por exemplo.
É interessante o facto de haver portugueses de segunda e de terceira geração a vibrar particularmente com este momento…
Nós temos aqui pessoas que obviamente já não falam bem Português, o que é pena. É uma das realidades que aqui vemos. E os governos portugueses nunca fizeram o que deviam ter feito para promover o ensino da língua portuguesa e obrigar os franceses a propor muito mais o ensino da língua.
No domingo, a selecção portuguesa é a única a poder, além da francesa, mobilizar pessoas entre Marcoussis e o "Stade de France". É que, de facto, os franceses nunca viram tantas bandeiras portuguesas como agora e deveriam ver ainda mais. Nós somos um milhão e meio, não apenas aquelas centenas de que eles se podem recordar no dia-a-dia.
Isso poderá de alguma forma fazer ressurgir nacionalismos que existem em França e que são evidentes?
Estamos numa situação em que a sociedade francesa está a viver momentos muito complicados e, de facto, esse nacionalismo bacoco, o extremismo, o radicalismo, fazem com que não seja a altura para estar a puxar pelos nacionalismos.
Falou da necessidade do ensino do Português. Sabemos que o Governo de Lisboa, junto das autoridades francesas, tem tentado fazer com que o ensino do Português faça parte do currículo escolar. Acredita que essa ideia vai mesmo avante?
Ainda não há resultados. Agora, o Governo de António Costa tomou a problemática em mãos. Há 30 mil pessoas a aprender língua portuguesa em França, 250 mil o Italiano, 800 mil o Alemão, dois milhões e meio o espanhol. Portanto, eu espero que a viagem de François Hollande a Portugal, a 19 de Julho, possa também servir para acelerar o processo e espero que ele leve com ele a ministra da Educação.
Estamos numa luta das línguas aqui em França e Portugal não está em posição favorável. Pode vir a estar, utilizando, justamente, mais do que simplesmente os resultados da selecção e aproveitando a mobilização da comunidade portuguesa, que nunca foi tanta como agora.
Domingo, em Saint Denis, quer a França na final com uma vitória de Portugal?
A França foi quem sempre impediu Portugal de vencer. Lógico que também pode vencer a França, e digo com muita frontalidade: depois do jogo de França e Portugal, as coisas nunca serão iguais e pode até haver alguns problemas.
Vai haver, forçosamente, extremos, porque há aqui pessoas que querem reivindicar e há pessoas que também travam um bocado essas reivindicações. Infelizmente, a bola nunca é só bola e estamos numa sociedade onde muitas perguntas são colocadas, inclusivé, sobre a dupla cultura.