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Olhar Europa

​Brexit: e agora?

27 jun, 2016 - 13:47 • Pedro Caeiro

A semana que aí vem vai ser dominada, naturalmente, pelos passos a seguir à decisão dos britânicos de sair da União Europeia. Destaque, ainda, para o encontro no final da semana de responsáves comunitários com homólogos turcos para acelerar o processo de adesão, uma condição imposta por Ancara para manter o acordo sobre imigração.

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Olhar Europa (27/06/2016)

Os europeus vão assistir esta semana aos próximos passos após o “Brexit”. A partir do momento em que os britânicos decidiram quebrar uma aliança de mais de quatro décadas, haverá reacções em cadeia a vários níveis. Primeiro interno: depois da demissão do Primeiro-ministro David Cameron e do comissário britânico Jonathan Hill, expectativa para se saber como se vai fazer política no Reino Unido a partir de agora, com movimentações internas a vários níveis. David Cameron já disse que vai permanecer no cargo nos próximos três meses, com o objectivo de ter, em Outubro, um novo líder conservador que inicie as negociações para sair da União Europeia. As sondagens mais recentes, mostram que o ex-PRESIDENTE DA Câmara de Londres, Boris Johnson, e o ministro da Justiça, Michael Gove, são os favoritos para a sucessão, depois terem feito campanha pela saída. Mas, na Oposição, também pode haver mexidas. O líder trabalhista Jeremy Corbyn tem enfrentado acusações de membros do seu partido de não se ter empenhado o suficiente na campanha pela permanência. Entretanto, a Primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon diz que o Governo de Edimburgo vai começar a preparar legislação para realizar um segundo referendo sobre a independência. Os escoceses não estão interessados em sair da União Europeia, mas fazem parte do Reino Unido.

Em segundo lugar, haverá mais reacções por parte dos outros 27 países, mas sobretudo, das instituições europeias e dos bancos centrais, que tentam manter os mercados financeiros controlados.

Os chefes de Governo da União reúnem-se já terça e quarta-feira em Bruxelas, com o “Brexit” no topo da agenda. Os líderes vão discutir o calendário das negociações para a saída do Reino Unido. Na terça-feira, em cima da mesa, vão estar questões, desde o acesso ao mercado único para as empresas do Reino Unido, até à partilha de bases de dados de segurança da União Europeia com Londres na luta contra o terrorismo. Depois, na quarta, reúnem-se apenas os líderes dos 27 que ficam, já sem Reino Unido, para discutir o futuro do “bloco” sem a segunda maior economia já daqui a dois anos. Os Governos também vão discutir a cooperação entre a União Europeia e a NATO, antecipando a cimeira da Aliança Atlântica, em Varsóvia, no início de Julho.

Ainda sobre o “Brexit”, de recordar que alguns Governos europeus pediram, logo na sexta-feira, a Londres para que anuncie, de forma oficial, a intenção de deixar a comunidade o mais rapidamente possível. De resto, já esta manhã, o ministro francês das Finanças veio dizer que França e Alemanha estão de acordo quanto à forma como o Reino Unido deve sair da União Europeia e, basicamente, deve ser da forma “mais rápida possível”. Em declarações à televisão France 2, Michel Sapin disse que “o resto da Europa não pode ficar a viver numa situação de indefinição e incerteza”. Isto num dia em que Angela Merkel recebe em Berlim o Presidente francês e o Primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. O encontro destina-se a debater uma posição comum de três das quatro maiores economias da União (a outra é a britânica) para enfrentar uma possível crise gerada pelo “Brexit”.

Entretanto, o Parlamento Europeu reúne-se em sessão plenária extraordinária esta terça-feira. Na sequência do referendo, a Conferência dos Presidentes do Parlamento Europeu, composta pelo presidente da instituição, Martin Schulz, e pelos líderes dos grupos políticos, decidiu convocar esta sessão extraordinária. Os eurodeputados vão votar uma resolução que fará uma análise do resultado do referendo e indicará possíveis caminhos a seguir. Participam o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, bem como representantes do Conselho.

Muita atenção também aos mercados esta semana e a uma possível reacção do banco central Europeu que poderá ter de ser tomada se os mercados não acalmarem. Na sexta-feira, ainda com os resultados do referendo “a quente”, tanto o BCE como o Banco de Inglaterra disseram estar prontos para injectar dinheiro nos bancos ou usar outras ferramentas para assegurar a estabilidade do sistema financeiro.

Atenções viradas também esta semana para a vizinha Espanha, após mais umas eleições sem que o partido mais votado tenha conseguido mais que um terço dos votos. Isto após meio ano de tentativas para formar um Governo, num contexto em que os pequenos partidos tinham quase 40% dos assentos parlamentares. Os escândalos de corrupção e o elevado desemprego continuam a penalizar os dois partidos de Governo, PP e PSOE, e estas eleições espanholas vêm numa altura em que os líderes da União temem que o “terramoto britânico” possa vir a inspirar outros Estados-membros e haja a tentação de fazer novos referendos sobre a permanência. Itália, França ou Holanda são países onde os partidos eurocépticos ganham força e nada garante que não possam vir a querer dar voz ao povo.

Virar de página no “Brexit”, na quinta-feira, as instituições europeias vão reunir-se com as autoridades turcas e abrir novas negociações com vista à adesão da Turquia. Há cerca de 35 áreas de negociação, mas muitas delas estão bloqueadas. As autoridades turcas têm criticado o ritmo lento das negociações e lembram Bruxelas que as negociações nesse sentido foram cruciais para o acordo de migração entre a União e a Turquia e que “travou” o fluxo migratório que ameaçava as fronteiras externas dos “28”.

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