24 abr, 2016 - 10:20 • Filipe d'Avillez
A verdadeira felicidade não se descarrega como uma aplicação, nem depende de possuir as mais recentes tecnologias, explicou este domingo o Papa Francisco aos milhares de jovens que acorreram a Roma para participar no jubileu dos adolescentes.
“A vossa felicidade não tem preço, nem se comercializa; não é uma ‘app’ que se descarrega do telemóvel: nem a versão mais actualizada vos poderá ajudar a tornar-vos livres e grandes no amor.”
Falando sobre a liberdade, Francisco procurou esclarecer os seus ouvintes. “Muitos dir-vos-ão que ser livre significa fazer aquilo que se quer. Mas a isto é preciso saber dizer não. A liberdade não é poder fazer sempre aquilo que me apetece: isto torna-nos fechados, distantes, impede-nos de ser amigos abertos e sinceros; não é verdade que, quando eu estou bem, tudo está bem.”
“Ao contrário, a liberdade é o dom de poder escolher o bem: é livre quem escolhe o bem, quem procura aquilo que agrada a Deus, ainda que custe. Mas só com opções corajosas e fortes é que se realizam os sonhos maiores, os sonhos pelos quais vale a pena gastar a vida. Não vos contenteis com a mediocridade, com ‘deixar correr’ ficando cómodos e sentados; não vos fieis de quem vos distrai da verdadeira riqueza que sois vós, dizendo que a vida só é bela se se possuir muitas coisas; desconfiai de quem quer fazer-vos crer que valeis quando vos mascarais de fortes, como os heróis dos filmes, ou quando vestis pela última moda”, explica.
O Papa também falou longamente sobre o amor, recordando os jovens que este deve ser uma marca distintiva dos cristãos. “O amor é o bilhete de identidade do cristão, é o único ‘documento’ válido para sermos reconhecidos como discípulos de Jesus. O verdadeiro amigo de Jesus distingue-se essencialmente pelo amor concreto que brilha na sua vida.”
Francisco realçou também a dimensão física do amor e o afecto, alertando para o perigo do amor que pretende possuir o outro. “Existe sempre a tentação de poluir o afecto com a pretensão instintiva de agarrar, ‘possuir’ aquilo de que se gosta. A própria cultura consumista agrava esta tendência. Mas, se se aperta muito uma coisa, esta mirra-se, estraga-se: depois fica-se decepcionado, com o vazio dentro. Se ouvirdes a voz do Senhor, revelar-vos-á o segredo da ternura: cuidar da outra pessoa, o que significa respeitá-la, protegê-la e esperar por ela.”
A receita para crescer no amor, explicou o Papa, está em seguir Cristo, nomeadamente através dos sacramentos. “Jesus dá-Se-nos a Si mesmo na Missa, oferece-nos o perdão e a paz na Confissão. Aí aprendemos a acolher o seu Amor, a assumi-lo e a repô-lo em circulação no mundo. E quando parece exigente amar, quando é difícil dizer não àquilo que é errado, erguei os olhos para a cruz de Jesus, abraçai-a e não largueis a sua mão que vos conduz para o alto e vos levanta quando caís.”
Como qualquer outro grande objectivo de vida, também este requer esforço e treino, ao nível dos grandes desportistas, diz Francisco. “Fazei como os campeões desportivos, que alcançam altas metas treinando-se, humilde e duramente, todos os dias. O vosso programa diário sejam as obras de misericórdia: treinai-vos com entusiasmo nelas, para vos tornardes campeões de vida! Assim sereis reconhecidos como discípulos de Jesus. E a vossa alegria será completa.”
A missa com o Papa é um dos pontos altos do jubileu dos adolescentes. No sábado Francisco surpreendeu os jovens ao participar, juntamente com outros 150 padres, numa celebração penitencial, ouvindo confissões na Praça de São Pedro.