22 abr, 2016 - 13:46 • Filipe d'Avillez
O Papa Francisco decidiu que todos os peditórios das missas na Europa, no fim-de-semana, serão enviados para ajudar as vítimas da guerra na Ucrânia.
É um gesto que os católicos ucranianos acolhem com grande alegria e emoção, como diz o padre Ivan Hudz, sacerdote da Igreja Greco-Católica da Ucrânia a trabalhar em Portugal.
Nesta entrevista à Renascença, o padre Ivan comenta ainda as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa da Rússia, tradicionalmente difíceis.
Como comenta o facto de o Papa ter destinado os peditórios para ajudar as vítimas na Ucrânia?
Qualquer iniciativa que possa melhorar a situação de pessoas que sofrem é sempre boa, é muito boa. Para nós, ucranianos, não é apenas uma ajuda material, mas também uma ajuda espiritual, porque o Papa – não só como chefe da Igreja Católica, mas também Chefe de Estado e representante da Europa – recorda-nos que a Europa não nos esqueceu.
Também nós, como ucranianos católicos de rito oriental, aqui em Portugal, estamos orgulhosos de que esta ajuda vai para os nossos compatriotas.
Como está a situação na Grécia actualmente?
Hoje em dia há menos informação sobre a guerra na Ucrânia, mas a guerra continua e neste ano da misericórdia é mesmo bom saber que ninguém esqueceu este povo que precisa de ajuda material mas também de atenção e ajuda espiritual. Isso também ajuda a sobreviver às dificuldades. Estamos a falar de um milhão e meio de pessoas, segundo as estatísticas.
Espera que os portugueses sejam generosos?
Claro.
Eu sou pároco na arquidiocese de Évora (de paróquias latinas) e os meus paroquianos já me disseram para não me esquecer que este domingo o peditório vai para a minha terra para ajudar as crianças, pessoas carenciadas, pessoas que sofreram com a guerra, que perderam os seus bens e que precisam desta ajuda.
Na minha paróquia perguntam-me sempre como está a situação, se a guerra já acabou, e no geral posso dizer que o povo português, os cristãos e as paróquias portuguesas também estão preocupados. As pessoas perguntam como é a situação, dizem que já não têm informação, se preciso de ajuda, para contar com eles. Por isso posso dizer que estou muito orgulhoso disto, que o povo português também participa deste sofrimento e desta necessidade dos meus compatriotas na Ucrânia.
O Papa encontrou-se recentemente com o Patriarca de Moscovo e nessa altura muitos ucranianos tiveram dificuldade em aceitar essa aproximação, pela forma como a Igreja Ortodoxa trata os greco-católicos na Ucrânia. Este gesto agora do Papa é uma forma de estender a mão de novo aos católicos ucranianos, ou as coisas não estão ligadas?
Claro que estão ligadas.
Da parte do Patriarcado de Moscovo sempre vimos guerra. Não só como a que agora se passa, mas também guerra informativa, que a culpa é sempre dos greco-católicos, na Ucrânia.
Por isso acho que o encontro entre o Papa e o Patriarca foi um encontro histórico, e tem muito valor neste ano da misericórdia. Foi mesmo um encontro de um discípulo de Cristo com o seu irmão. Agora vamos ver se os nossos irmãos têm outros interesses, ou se têm mesmo o interesse de se aproximarem, como diz o Patriarca da Rússia, para juntos lutarem contra o mal.
Vamos ver se o Patriarcado Ortodoxo Russo vai trabalhar neste sentido para conseguir a paz na Ucrânia, porque temos muitas provas de haver bispos e padres a abençoar armas e a dizer que se trata de uma guerra santa dos cristãos ortodoxos. Às vezes é muito difícil ver e perceber onde está o problema e quem tem culpa, mas tenho a certeza de que o Papa deu um gesto concreto e firme, que para acabar com a guerra devemos sentar-nos e começar a construir a paz e isso vai ajudar-nos.
Então a Igreja Greco-Católica da Ucrânia não se sente abandonada pelo Papa?
Antes do encontro entre o Papa e o Patriarca de Moscovo o nosso arcebispo-maior Sviatoslav Shevchuk (líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana), celebrou em São Pedro, no altar onde só celebra o Papa. Isso também foi um momento histórico.
E posso dizer também que o Papa conhece bem a situação da Igreja Greco-Católica na Ucrânia, porque na altura em que o Papa era arcebispo de Buenos Aires, o nosso arcebispo-maior actual era bispo responsável pela comunidade ucraniana na Argentina. O Papa sempre apoiou a nossa Igreja.