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Doroteias: “Irmãs dos colégios e da catequese” celebram 150 anos em Portugal

09 abr, 2016 - 11:00 • Ângela Roque

Ponto alto das comemorações acontece este sábado, em Fátima. A Congregação criada em Itália veio para Portugal na segunda metade do século XIX, ainda na clandestinidade, porque as ordens religiosas estavam proibidas.

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As comemorações de 150 anos de presença em Portugal começaram em Março, com uma eucaristia presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, mas é este sábado que a festa reúne, em Fátima, toda a família doroteia.

Dentro do tema geral do ano – “Um Tesouro a descobrir, uma história a agradecer” – o programa inclui um espectáculo que revisita o passado histórico da Congregação das Irmãs de Santa Doroteia. “É um teatro musical que reúne alunos de todos os centros educativos que há no país, que cantam, dançam. A parte do teatro será feita pelos mais velhos. Isto entusiasmou muito os alunos”, conta à Renascença a irmã Maria Antónia Marques Guerreiro.

Da parte da tarde parte, há uma eucaristia presidida pelo bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos.

Para assinalar os 150 anos de presença em Portugal, decorre ainda uma exposição itinerante sobre a história da congregação, que vai continuar a percorrer os vários centros educativos e as paróquias. Para Setembro está a ser organizado um colóquio sobre educação.

Da clandestinidade à expansão

Criada em Itália em 1834, a Congregação das Irmãs de Santa Doroteia, de espiritualidade inaciana, chegou a Portugal em 1866, ainda durante a vida da fundadora, Paula Frassinetti.

Enviadas pelos padres jesuítas de Roma, as três primeiras irmãs chegaram clandestinas, porque as ordens religiosas não eram permitidas.

Maria Antónia Marques Guerreiro, do colégio de Nossa Senhora da Paz, no Porto, explica que as Doroteias sempre foram conhecidas como “as irmãs que tinham colégios e também as catequeses, e elogia o empenho das primeiras religiosas da congregação.

“Quando a fundadora nos visitou, em 1875, e até 35 anos depois, quando fomos expulsas na primeira República, atingíamos cerca de 20 mil crianças. Eu nem sei como é que, com tanta falta de meios e de comunicações, se chegava a tanto lado, Santarém, Setúbal, Entroncamento! Havia um zelo apostólico muito grande, um desejo de, como dizia santa Paula, ‘tornar Jesus conhecido e amado’”.

A congregação foi criada em Quinto, uma aldeia pobre nos arredores de Génova, com uma atenção especial às jovens, porque “os rapazes eram mais atendidos pela sociedade, as raparigas é que tinham de ser ajudadas a crescer e a serem agentes de mudança”.

A irmã Maria Antónia lembra as palavras da fundadora: “educando as meninas nós estamos a transformar a sociedade, porque elas vão ser esposas e mães, e portanto vão ter influência no marido e nos filhos, e ajudar a alargar a obra educativa evangelizadora”.

A atenção aos mais frágeis foi sempre uma prioridade. “Santa Paula Frassinetti dizia ‘tanto me faz ter um palácio como um casebre, desde que eduque. Mas, se tenho alguma preferência é pelos retratos de Deus sem moldura: as menos inteligentes, as menos capazes, as que brilhariam menos’”, conta a irmã Maria Antónia.

Esse foi um legado que as Doroteias em Portugal procuraram sempre respeitar: “sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, e depois da revolução de 74, fomos um bocado pioneiras, indo para locais que eram periferias geográficas. Fomos para bairros pobres como o da Musgueira, em Lisboa. E para o Alentejo, o Algarve e o interior transmontano, zonas onde havia menos presença de Igreja, presença evangelizadora. E sempre no campo da educação e da transmissão da fé, a parte da catequese”.

Evangelizar através da Educação

Hoje, a missão das Doroteias continua a passar pela educação e pela catequese. Em Portugal têm 11 centros educativos, de Norte a Sul: “de Bragança até Loulé e também nos Açores. Temos colégios, IPSS, infantários, alguns com 1º ciclo”, refere a irmã, em entrevista à Renascença.

“Jardins de infância também temos muitos, nem todos são nossos, mas prestamos serviço”. A formação na fé é também uma prioridade: “trabalhamos muito nas paróquias, mesmo quem está nos colégios, em geral presta um serviço paroquial”. E dão muita atenção à pastoral juvenil, porque acreditam que “é hoje uma realidade que pode ser frágil. Pode ser uma das actuais ‘periferias’ a que é preciso chegar”.

As ‘tendas na praia’ são uma das iniciativas que promovem todos os verões, habitualmente em Quarteira, no Algarve: “é uma acção de evangelização, uma forma de estarmos hoje presentes no coração do mundo”. Valorizam também a colaboração dos leigos: “temos trabalhado muito em conjunto, e pela primeira vez este ano tivemos a presença de 13 leigos num Capítulo Geral. Foi uma riqueza muito grande”.

Em Portugal, as Doroteias são hoje cerca de 250. “Fomos expulsas em 1910, voltámos em 1918, começando pela Póvoa de Varzim, e depois sucederam-se as fundações”, conta Maria Antónia Marques Guerreiro, para quem a expulsão pelos republicanos até ajudou a Congregação a expandir-se: “fomos para outros países da Europa. E para os Estados Unidos e para o sul do Brasil”.

Marcam agora presença em países de quatro continentes: “estamos nos Estados Unidos, Brasil e Peru. Em Portugal, Espanha, Inglaterra, Suíça e Itália, que é a Província mãe, em Malta e na Albânia. E estamos em Angola, que é a província mais explosiva e fluorescente da Congregação, com muitas irmãs novas, há um discernimento vocacional muito forte da parte das jovens, que estão muito bem formadas e muito lançadas em diversas comunidades. Associado a Angola estão os Camarões, e estamos ainda em Moçambique, Filipinas e Taiwan. Seremos cerca de mil irmãs”.

A entrevista à irmã Maria Antónia Marques Guerreiro foi transmitida no “Princípio e Fim” de 3 de Abril, que pode recordar aqui.

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  • Luisa Bernardo
    09 abr, 2016 Seixal-Setubal 21:43
    Fátima foi hoje o centro das atenções, na comemoração dos 150 anos das Irmãs Doroteias. Nós estivemos lá, grupo das Irmãs Doroteias das comunidades de Arrentela, Seixal, com os seus paroquianos, catequistas, jovens, Padre Zé, ... Estas comemorações tiveram dois momentos lindíssimos: Manhã -11h - "A apresentação de uma peça de teatro que relatou toda a historia das irmãs Doroteias até hoje". Tarde - 15h - "A celebração de uma missa em honra de toda a obra feita" momento para recordar e agradecer. A historia representada foi muito bonita em toda a sua mensagem, transmitida e enriquecida com a apresentação de muitos grupos de crianças e jovens, recordando sempre a sua fundadora "irmã Santa Paula Frassinetti". Eu desconhecia esta realidade e a sua origem. A celebração da tarde foi outro momento muito bom que nos enriqueceu o coração com os seus cânticos, recordando e agradecendo à irmã Santa Paula Frassinetti pela sua grande obra e às irmãs que continuaram a sua missão chamadas por Deus, na atenção às crianças e jovens e aos mais necessitados (apresentado no teatro). Fica aqui o meu agradecimento a todos, organização, professores, participantes, colaboradores,... e às Irmãs Doroteias pelo belo exemplo que dão à sociedade em que vivemos...Bem Hajam e que Deus vos ajude nesta força de vida que não é fácil. Obrigado! Adorei!

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