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Navio da armada de Vasco da Gama encontrado em Omã

14 mar, 2016 - 09:09

A nau “Esmeralda” foi primeiro descoberta por uma empresa britânica, em 1998, mas o levantamento arqueológico só começou em 2013. Foram recuperados quase três mil artefactos, entre os quais um emblema pessoal de D. Manuel I.

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O Ministério do Património e da Cultura de Omã anunciou esta segunda-feira a descoberta de um navio português naufragado numa ilha remota de Omã, em 1503, quando fazia a carreira da Índia, incluído na armada de Vasco da Gama.

O navio é, de acordo com aquela entidade, a mais antiga embarcação dos Descobrimentos Portugueses encontrado e cientificamente investigado por arqueólogos.

Em comunicado, o ministério indica que o navio português naufragou durante uma tempestade ao largo da ilha Al Hallaniyah, na região Dhofar, de Omã. O local do naufrágio foi inicialmente descoberto pela empresa britânica Blue Water Recoveries Ltd. (BWR), em 1998, no 500.º aniversário da descoberta de Vasco da Gama do caminho marítimo para a Índia.

Contudo, o ministério só deu início ao levantamento arqueológico e à escavação em 2013, tendo sido desde então realizadas mais duas escavações em 2014 e 2015, com a recuperação de mais de 2.800 artefactos.

Os principais artefactos, que permitiram identificar o local do naufrágio como sendo a nau “Esmeralda”, de Vicente Sodré, incluem um disco importante de liga de cobre, com o brasão real português e uma esfera armilar e um emblema pessoal de D. Manuel I.

A mesma fonte indicou que foram também encontrados um sino de bronze, com uma inscrição que sugere que o navio data de 1498, cruzados de ouro, cunhados em Lisboa entre 1495 e 1501 e um moeda de prata rara, chamada Índio, que D. Manuel I terá mandado fazer especificamente para o comércio com a Índia.

"A extrema raridade do Índio (só se conhece um outro exemplar no mundo inteiro) é tal, que possui o estatuto lendário da moeda ‘perdida’ ou ‘fantasma’ de D. Manuel I", adiantou o ministério de Omã.

Na nota é também referido que "o projecto foi gerido conjuntamente por este ministério e David L. Mearns da BWR, tendo-se respeitado rigorosamente a Convenção da UNESCO para a Protecção do Património Cultural Subaquático de 2001".

Um achado muito "relevante"

O historiador Paulo Pinto classifica como "achado arqueológico muito importante e relevante" a confirmação de que o navio português naufragado na região de Omã integrava a armada de Vasco da Gama.

O investigador do Centro de História d`Aquém e d'Além-Mar (CHAM) da Universidade Nova de Lisboa explica que este "navio era poderoso e o mais importante da armada". "Se foram agora encontrados os seus restos, é um achado arqueológico muito importante e relevante até para a compreensão do que foram estes primeiros anos da presença portuguesa naquela região", disse à agência Lusa.

O investigador esclarece que o navio e o capitão estavam integrados na armada de Vasco da Gama quando chegaram à Índia, mas as circunstâncias que rodearam o naufrágio e os conduziram ao naufrágio não têm nada a ver com a viagem de Lisboa para a Índia. "O que aconteceu foi o seguinte: a primeira armada para a Índia foi a de Vasco da Gama, a segunda, a de Pedro Álvares Cabral, a terceira, a de João da Nóvoa e o Vicente Sodré foi na quarta armada" à qual pertence este navio.

De acordo com o investigador, em 1502 partiu uma poderosa armada em direcção à Índia, tendo Vasco da Gama regressado a Portugal mais tarde e Vicente Sodré ficado na região da actual Omã.

"É este capitão Vicente Sodré que fica incumbido de continuar a patrulhar a costa ocidental indiana e impor-se pela força, [era recorrente nesta conjuntura]. O importante desta armada e deste navio que naufragou é que foi a primeira armada que ficou na Índia", esclareceu. Segundo Paulo Pinto, Vicente Sodré efectuou uma série de acções de retaliação contra navios muçulmanos nesta região e a certa altura patrulhou aquela região de Omã.

"As fontes falam que o navio se perdeu junto às ilhas de Cúria Múria provavelmente em Abril ou Maio de 1503, o que bate certo com o local onde [agora] dizem ter encontrado o navio. Depois terá aparecido um tufão, um temporal e o navio afundou", disse, adiantando que terão sobrevivido apenas uma ou duas pessoas.

Comentários
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  • Mário José Ventura
    06 jul, 2016 Blumenau, SC (Sul do Brasil) 23:50
    Enviei um comentário, que, ao ser enviado, pareceu-me cortado. Aos amigos portugueses que tiverem vontade de manter algum contacto, deixo abaixo meu perfil do Facebook. Abraços à todos. FB: Mário José Ventura (autônomo)
  • Mário José Ventura
    06 jul, 2016 Blumenau, SC, Sul do Brasil. 23:40
    Boa noite amigos portugueses. É com profundo pesar que vejo nossa história perder-se não no tempo, mas sim na incompetência dos que deveriam preservá-la. Exemplos não são poucos, e, se aí em nossa pátria irmã impera todo esse descaso, imaginem os senhores por aqui (Brasil), onde tudo o que se quer é levar vantagem em tudo custe o que custar, ainda que esse custo seja uma nação sem identidade, sem história preservada e sem uma só luz ao final desse túnel da desonestidade e descaso. Entristeço ao ver que os heróis dos nossos antepassados, que tanto os orgulharam e continuam nos orgulhando através dos séculos, sejam dessa maneira tratados por esses senhores que dizem governar, que ousam dizer-se administradores. A vergonha que nos aflige cá, parece também afligí-los aí, que é ver a nossa história nas mãos de pessoas que só pensam em suas próprias histórias. Que de alguma maneira os nossos bravos do passado possam tocar a consciêconsciência dos covardes e incompetentes de hoje, que haja luz sobre nossa história, e que esse orgulho não morra em nosso peito. Abraços à todos os irmãos portugueses. Procuro por registros dos meus antepassados de origem portuguesa, uns que vieram daí e outros que que já aqui nasceram, parentes paternos, e nada consigo, visto que não posso procurar em Portugal (algum orgão público)
  • maria helena amorim
    16 mar, 2016 porto 00:51
    Gostei muito de ler esta reportagem. Desconhecia este episódio da nossa história. Obrigada.
  • Artur Lopes Rodrigue
    15 mar, 2016 Tonda- Tondela 18:57
    Se a nau é Portuguesa, então o Governo Português deve reivindicar a sua propriedade ao abrigo das leis internacionais e pedir o seu espólio. Isto é o testemunho dos feitos dos Portugueses de 500 que souberam honrar e dignificar o seu Povo.!
  • José Lima
    15 mar, 2016 josepiresdelima@gmail.com 05:33
    Vamos ter um trabalhão a explicar ao actual ministro da "cultura" um tal Soares, quem foi Vasco da Gama. Pode ser que ele tome alguma iniciativa para que esta descoberta venha a ser desenvolvida e fiquemos a saber algo mais sobre ela. Quem sabe se o espólio poderá vir para Portugal nem que seja em exposição temporária.
  • Sérgio Sodré
    14 mar, 2016 Carcavelos 21:27
    É talvez conveniente alertar para que poderá haver uma alternativa a ser a nau Esmeralda de Vicente Sodré. É que, no mesmo dia por efeito do furacão que os apanhou, também se afundou a nau São Pedro capitaneada pelo seu irmão Brás Sodré. Ainda nada li que permita distinguir qual das duas naus foi encontrada.
  • A.Correia
    14 mar, 2016 Geraz do Lima-Minho-Portugal 15:16
    É este o Portugal que me enche de orgulho, é neste país que me revejo, é esta a Pátria de nossos valerosos antepassados que Camões tantas vezes sublimou! Abaixo a corrupção e a incompetência! Viva PORTUGAL!
  • Luso
    14 mar, 2016 Aveiro 14:46
    Entretanto tivemos que suportar a subversão do Papado que durou até perdermos o Padroado, a traição judaica que vem desta altura, mais tarde a Maçonaria (esbirros judaicos), a esquerda por definição traidora, a direita traidora que só se preocupa com os "negócios"e não com a Pátria, uma comunidade cultural subversiva e traidora e por fim um Papado apóstata que alinha nessa subversão. Enquanto não reconhecermos as traições e os seus autores e colaboracionistas e os combatermos activamente, não há Grande Portugal para ninguém, para pena da Humanidade. Não é possível glorificar os Descobrimentos e a Abrilada ao mesmo tempo. Não é possível.
  • Ironia do destino...
    14 mar, 2016 Porto 13:52
    Ironia do destino...Quem diria naquela época que Portugal ainda havia de ser governado por um Indiano como é agora o caso....
  • Antonio Correia
    14 mar, 2016 R.Lui de Csmoes 59 R/C-D Linda-a-Velha 13:34
    Aprecio todos os comentarios

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