13 mar, 2016 - 10:09 • Aura Miguel , Ângela Roque
As intervenções do Papa sobre economia reflectem a doutrina social da Igreja, diz João César das Neves, que alerta para o risco de manipulação ideológica das palavras de Francisco.
Este domingo, passam três anos desde que Jorge Mário Bergoglio foi eleito Papa. Em declarações à Renascença, o economista João César das Neves considera que a surpresa e a novidade deste pontificado não é o conteúdo, mas a forma e o estilo muito próprios de Francisco.
O professor da Universidade Católica Portuguesa, que acaba de lançar o livro “Economia de Francisco - Diagnóstico de um Equívoco”, assinala que “a esmagadora maioria” das intervenções do Papa são religiosas e não tratam de economia, mas “têm sido usadas numa lógica ideológica”.
“Temos tido pessoas de esquerda a adorarem o Papa e pessoas de direita a atacarem o Papa, e ele o que diz a isso, todas as vezes, é: ‘O que eu estou a afirmar é exclusivamente a doutrina social da Igreja. E, de facto, a maior parte das pessoas que falam sobre o que o Papa Francisco está a dizer não leram a Doutrina Social da Igreja”, sublinha João César das Neves.
Para o catedrático, com o Papa argentino o centro das atenções desviou-se da Europa para se tornar mais abrangente e universal.
“Isso será um tom novo, uma novidade, que tem a ver com a evolução, com a globalização. E não estou a dizer que os Papas anteriores se esqueciam das outras zonas do mundo, aliás, passearam por todas elas. Mas talvez seja esse o elemento novo que poderá mostrar à Europa uma coisa que precisa de perceber, é que as tolices em que anda tornam-na obsoleta. É , de alguma maneira, mostrar à Europa que se calhar menos atenção é capaz de ser preciso, para ver se tem juízo”, afirma César das Neves.
A entrevista a João César das Neves vai ser transmitida no programa “Princípio e Fim” da Renascença, transmitido este domingo, depois do noticiário das 23h00.