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Sai Dr. PP, entra Boss AC

12 mar, 2016 - 00:51 • Eunice Lourenço análise

Congresso do CDS elege este fim-de-semana Assunção Cristas. Paulo Portas deixa a liderança ao fim de 16 anos.

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Um dia, nos corredores do Parlamento Europeu, Miguel Portas comentou para um eurodeputado do CDS: “Nós temos este vício da política, mas para o meu irmão isto é mesmo uma droga dura”. Uma “droga dura” que Paulo Portas tem consumido ainda mais avidamente nos últimos 18 anos, desde que foi eleito presidente do CDS, cargo em que vai ser substituído por Assunção Cristas, este fim-de-semana, no Congresso de Gondomar.

Na forma, serão muitas as diferenças. Ela gosta de ser pessoal e concisa, ele ficou conhecido por sucessivos atrasos, como se vivesse noutro fuso horário, e gosta de discursos longos e reuniões pela noite dentro.

Centralizador e sem quatro filhos para jantar em casa, Paulo Portas foi muitas vezes acusado de fazer do CDS o partido de um homem só. Assunção já disse que consigo não será assim, mas no Largo do Caldas é tratada por “Boss AC”. E circunstância de ter sido levado para o partido e para o Governo por Portas e o facto de ser candidata única no congresso de Gondomar não ajuda a desfazer a ideia de um partido cesarista. E até aí Paulo Portas – o ‘dr.PP’, como tantos o tratam no partido – manobrou e influenciou.

Depois de anunciar que não se iria recandidatar à liderança, no fim de Dezembro, Portas não quis divisões e, perante a hipótese de duas candidaturas fortes – Nuno Melo e Assunção Cristas – fez com que se entendessem para que só um avançasse.

Melo, ainda que contrariado, recuou, sobretudo porque não está na Assembleia da República e, na actual conjuntura, não é possível fazer oposição a partir de Bruxelas. Cristas, com vontade, avançou, apesar de não ter aparelho. E o resto da classe dirigente aceitou, não com gosto, mas porque percebe que a ex-ministra da Agricultura funciona bem para fora do partido.

Assunção “irreverente”

No conteúdo, ainda está para perceber o que pode distinguir Assunção Cristas de Paulo Portas, para além de uma maior liberalidade em questões fracturantes, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na moção que leva ao congresso que a irá eleger tem poucas propostas concretas e muitas generalidades.

A nova presidente promete uma “liderança irreverente”, que seja acutilante a denunciar os riscos de uma “governação aventureira” . Assunção Cristas defende um “estado social de parceria” em que a saúde e a educação não tenham de ser garantidas por serviços do próprio Estado, mas em que o Estado tenha os sectores social e privado como “aliados”. E, numa das poucas propostas concretas, defende a possibilidade de a ADSE ser alargada a todos os trabalhadores. Quanto ao sistema político, a moção da candidata admite a discussão de um sistema que aproxime mais eleitores e eleitores, mas sem especificar.

No documento, com o título “Ambição e Responsabilidade”, a candidata diz que pretende um “país amigo da família”, em que a cultura tenha um lugar central e em que a coesão territorial esteja garantida, sem criação de regiões.

João Almeida à espreita

Esta não é, contudo, a única moção de estratégia global. Há várias. Mas a de João Almeida e Adolfo Mesquita será a mais relevante e mais interessante, pelas propostas que tem, mas sobretudo para preparar o caminho para o futuro. Ex-líder da Juventude Popular, João Almeida faz em Setembro 40 anos - mais dois do que Portas tinha quando chegou a líder do CDS -, mas continua a ser visto como um “miúdo” que não é levado a sério fora do partido.

Na sua moção escreve que o CDS não pode falar apenas em circuito interno e que, sem deitar fora a ideologia, é preciso garantir abertura a todos que se revêem nas soluções propostas pelo partido para os problemas concretos. E defende que o CDS deve “quebrar as regras não escritas de fazer política” e ter um discurso mais próximo da realidade, sem hesitar em assumir erros e sem ter medo de entrar por caminhos que têm sido ocupados pela esquerda, como, por exemplo, o problema da precariedade.

Apontado como eventual candidato, João Almeida apressou-se a descartar tal hipótese e pôs-se ao serviço de uma liderança que sirva os interesses do crescimento do partido. Mas esse mesmo partido – e, em primeiro lugar, muitos dos que ao longo destas quase duas décadas estiveram ao lado de Paulo Portas – vai olhar de novo para ele quando e se o caminho de Cristas não tão triunfante como promete ser.

A incógnita de Portas

Com uma nova presidente aprovada à partida e um unanimismo que se adivinha nos elogios ao líder cessante, o XXVI Congresso do CDS ameaça ser pouco mais que uma sucessão de discursos aclamatórios. A única incógnita do CDS, neste momento, continua a ser Paulo Portas.

O homem que, primeiro como jornalista, depois como líder partidário, e, por duas vezes, como membro do Governo teve um papel marcante na política portuguesa nas últimas décadas ainda não disse o que irá fazer quando, em breve, deixar o seu lugar no Parlamento.

A categoria de líder histórico não é um fato que lhe assente bem. Com apenas 53 anos, Paulo Portas ainda tem um longo futuro da política portuguesa. Pode ter uma candidatura presidencial no horizonte. É o que lhe falta, mas só daqui a cinco ou dez anos pode voltar às feiras para fazer campanha. Por isso, há quem tenha muitas dúvidas sobre como vai conseguir ressacar do uso intensivo da “droga dura” da política.

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  • Paulo
    12 mar, 2016 vfxira 11:14
    Paulo Portas é carismático e sem dúvida o líder do cds,já a Cristas,"penso" que não tem carisma e muito menos conseguirá aglotinar pessoas para o cds,este partido daqui a 4 anos,irá quase desaparecer na A.R.,a não ser que o irrevogável volte para a sua liderança.
  • rosinda
    12 mar, 2016 palmela 11:13
    Oxala paulo portas se mantenha sempre activo na politica!
  • nuno
    12 mar, 2016 faro 09:54
    Que título ridículo..a Eunice é estagiaria?
  • Miguel Botelho
    12 mar, 2016 Lisboa 09:33
    Que horror de sorriso e que máscara!
  • Luis
    12 mar, 2016 Lisboa 09:20
    Algo me diz que a gordita da Cristas vai liderar o CDS TT (tuk tuk) com as calças do Portas vestidas.

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