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Justiça preconceituosa. O que se passa com Portugal?

05 mar, 2016 - 13:31

Um recente relatório das Nações Unidas afirma que as decisões judiciais em Portugal são marcadas por preconceitos. E os exemplos estão à vista, mais recentemente no julgamento do ex-ministro António Maria Carrilho contra a apresentadora Bárbara Guimarães. Mas há mais.

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Temos uma Justiça preconceituosa?
Temos uma Justiça preconceituosa?

Preconceitos de género, raça, extracto social e idade são alguns exemplos que podemos encontrar na justiça portuguesa. Um trabalhador das obras de origem guineense, por exemplo, foi declarado inocente há mais de cinco anos, mas continua a ter ficha na polícia, como violador.

Trata-se de um erro judicial grosseiro, mas também um caso de discriminação e preconceito. Bacar Baldé foi julgado à revelia e condenado a três anos e meio de prisão pela violação de uma menor, pelo tribunal de Vila Nova de Gaia. Chegou a cumprir um mês de cadeia e só foi libertado porque os testes de ADN provaram não ter sido ele a cometer o crime.

O Estado foi condenado a pagar-lhe uma indemnização, mas Bacar Baldé continua a não ter a sua ficha limpa na polícia.

“Cada vez que é interceptado pela polícia, existe uma coisa que é a ficha biográfica e ainda lá aparece como violador. Ou seja, o Estado português já foi condenado e foi reconhecida negligência grosseira, mas a ficha biográfica, como é uma informação policial, continua a ser rotulado como violador”, afirma o seu advogado, Ricardo Serrano Vieira, em declarações ao programa da Renascença “Em Nome da Lei”.

O caso Bacar Baldé é, segundo o seu advogado, exemplar da forma discriminatória e preconceituosa como a justiça portuguesa por vezes actua. O valor da indemnização que lhe foi fixado não atendeu às dificuldades em provar danos materiais que teria sempre alguém sem contracto de trabalho ou ordenado fixo.

“O cidadão tem meios de rendimento? Tem. Trabalha nas obras, não tem contrato de trabalho, logo não havia meios de prova, viva com a esposa em condições muito precárias, com dois filhos praticamente acabados de nascer, e tudo isto é depois processado pela justiça com as regras que tem, que é: o senhor tem de fazer prova dos danos que invoca. Se fosse uma pessoa com outras responsabilidades e reconhecido na sociedade, certamente que o valor da indemnização seria mais elevado, porque haveria maneira de justificar os chamados danos patrimoniais”, relata Ricardo Serrano Vieira.

Recentemente, a justiça portuguesa foi criticada num relatório das Nações Unidas por ser preconceituosa. Na opinião da professora de Direito Penal Maria Fernanda Palma, tal acontece, não por causa da lei, mas pela má actuação dos juízes.

Opinião semelhante tem a socióloga Madalena Duarte, para quem a evolução positiva da lei não tem sido acompanhada pelos magistrados.

“A violência doméstica é um excelente exemplo disso. Portugal tem feito, ao nível das transformações legislativas, um caminho que, penso eu, do qual se deve orgulhar e para o qual também contribuíram os movimentos de apoio às vítimas, mas o potencial destas transformações, nomeadamente a alteração do Código Penal em 97 e a lei nº.112/2009, que veio criar o estatuto da vítima e que tem muitas potencialidades, acabam, por vezes, por ficar um pouco capturadas naquilo que é um pensamento mais conservador dos profissionais da justiça, nomeadamente das magistraturas”, afirma.

Conceição Gomes, do Observatório Permanente da Justiça, segue a mesma linha de pensamento e adverte para a discriminação e preconceito ainda existente na própria legislação.

“Nas indemnizações por acidentes de trabalho, por exemplo, quando a indemnização é referenciada à capacidade de ganho, é a própria lei que está a dizer que a minha mão, se ganho mais, vale mais do que a de quem ganha menos – ou o pé ou o dedo ou seja o que for”, exemplifica.

O preconceito na justiça portuguesa foi o tema deste sábado do programa “Em Nome da Lei”, emitido entre as 12h00 e as 13h00 e que pode ver aqui.

Comentários
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  • Mafurra
    06 mar, 2016 Lisboa 10:38
    A justiça não é, nem pode ser preconceituosa, porque justiça é coisa que não existe em Portugal !
  • Daniel kimche
    06 mar, 2016 Manchester 00:04
    Os portugueses deviam ir embora é deixar esse território para gente melhor
  • O Tuga
    05 mar, 2016 Lx 23:45
    Apelidar a justiça portuguesa de preconceituosa é no mínimo hilariante. A chafurdice a que nossa justiça chegou, com magistrados a serem constituídos arguidos, é mesmo é VERGONHOSA!
  • Indignado
    05 mar, 2016 Tomar 23:10
    Infelizmente é preconceituosa e assim vai continuar, enquanto estiver amordaçada pela maçonaria e malta de esquerda. Não é por acaso que o chefe dos terrorirtas das FP25 de abril, nunca foi devidamente julgado, condenado e permanecido mais de 20 anos na cadeia. E porque será que os assassinos morais de Sá Carneiro e Adelino ACosta, nunca foram caçados, julgados e condenados? Porque fazem parte do sistema! Depois, temos os democratas cobardes que ainda os apiam..., por servilismo!
  • Luís Santos
    05 mar, 2016 Algures 23:05
    Um País de Impútaveis e um país de inimpútaveis. No fundo, e bem claro nisso (que qualquer cidadão tem consciência, independentemente de estrato social ou preferência política), um país de faz-de-conta. Um país onde se produzem leis absurdas que ninguém as respeita pela "estupidez" das mesmas e que por facto (fato de alfaiate), essa sensação de "estupidez" legislativa é transposta para toda a sociedade como Estúpidez Mesmo, Estupidez sem nexo e sem qualquer moralidade social que devam cumprir. Poorque (e como) é que se deve cumprir uma Regra/Lei/Norma Autarquica que diz que Obriga a Recolher as Águas Pluviais dos Telhados e se Proíbe os Algerozes? Sim, isto existe, tal como o absurdo existe.
  • cidade berço
    05 mar, 2016 a justiça esta a violar 21:32
    Acorda pt, sempre que a justiça toca no conceito instalado da figura publica, que afinal somos todos, os portugas, aqui del rei que a JUSTIÇA, esta a saltar a cerca, - a JUSTIÇA, é cega e, só incomoda quem, tem e/o quer ter, mais olhos que barriga. Ainda bem que assim, deve funcionar a todos os níveis, sejam eles quais forem !!!!!!!
  • Zezito
    05 mar, 2016 Lisboa 20:51
    Da notícia não se consegue perceber nada! É demasiado mau. Confundir justiça com polícia!? Capacidade de ganho é um conceito que a justiça é capaz de definir facilmente. O que está notícia trás de novo é zero.
  • fr
    05 mar, 2016 Portugal 20:35
    O maior preconceito neste país é o preconceito ao pobre financeiramente. Aqui não há burrice, há oportunismo. Se nas portagens existem fórmulas complexas e manhosas para as rendas do estado às operadoras das portagens, então também poderiam fazer o mesmo no que toca às multas....é claro que é interesse ter uma parte da população subjugada e obdiente à força do estado, portanto a galinha dos ovos de ouro, e uma minoria livre e impune, que pode pagar multas de estacionamento e excesso de velocidade todos os dias que lhes são trocos. O que eu quero dizer é que uma multa de 500€ assusta a maioria, mas para a minoria é tipo como quem compra um pacote de batatas fritas, a lei é para os pobres. Na suiça não é assim. Mas nem dá para comparar. Quem está mal, pior fica. E o contrário aplica-se também. Mas o povo tem isto porque quer. É vítima do preconceito o pobre que vota contra si mesmo....é burro não há nada a fazer. As coisas são assim.
  • Quitéria Barbuda
    05 mar, 2016 Paço de Arcos 20:20
    A farsa da Justiça em Portugal começa logo com a cumplicidade que na maioria dos casos existe entre o Ministério Público e os Magistrados, que deveriam trabalhar em edifícios separados, e só encontrarem-se em sede de julgamento, ao mesmo nível que os outros, e nunca poderem combinar julgamentos nas salas ou à mesa dos cafés!
  • Zé povinho
    05 mar, 2016 Lisboa 20:19
    A justiça em Portugal, resume-se a: - perdio emprego por causa das ppolíticas de empobrecimento do país... não tenho qualquer tipo de rendimento, tenho fome e roubo um saco de arroz e uma lata de salsichas, vou a julgamento e levo um a sentença! Por outro lado, um corrupto político ou da banca, rouba milhares de milhões, joga com os recursos e mais recursos, leva anos e anos sem se sentarem nas cadeiras dos réus, entretanto, prescreve e nunca será julgadoiou condenado!

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