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Síria é "uma máquina de matar". Mais de 60 hospitais atacados

18 fev, 2016 - 14:20

Unidades eram apoiadas por Médicos Sem Fronteiras. "Mais 155 mil feridos de guerra é qualquer coisa que nunca tínhamos visto em 44 anos de operações da MSF."

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Mais de 60 hospitais e clínicas apoiadas pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Síria foram atacados em 2015 e quase 100 dos seus colaboradores foram mortos ou feridos, segundo um relatório da organização divulgado em Paris.

Noventa e três ataques aéreos e disparos de mísseis atingiram no ano passado 63 hospitais e clínicas apoiadas pela MSF, matando ou ferindo 81 profissionais de saúde: a estrutura de saúde síria "tem sido dizimada" pela guerra, afirma a organização humanitária.

O relatório é divulgado dias depois de uma dessas unidades, na província de Idleb, noroeste da Síria, ter sido atingida por um ataque aéreo que matou, pelo menos, 25 pessoas.

"O ataque só pode ter sido deliberado. E foi feito provavelmente pela coligação liderada pelo governo sírio, que é a mais activa na zona", disse a presidente da organização, Joanne Liu, numa conferência de imprensa em Genebra.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos afirmou suspeitar, depois de analisar o local, padrões de voo e tipo de aparelhos envolvidos, que o ataque foi realizado por aviões de combate russos, que apoiam as forças sírias. A Rússia nega qualquer envolvimento.

A organização confirmou, por outro lado, que as coordenadas daquele hospital não foram comunicadas ao governo de Damasco, por ter sido considerado que essa informação não só não garantia a protecção das instalações como podia torná-las um alvo.

A decisão de não comunicar as coordenadas foi tomada depois de "intensas discussões" entre os responsáveis da MSF e os directores do hospital.

A MSF trabalha na Síria maioritariamente em zonas controladas por grupos opositores e sem autorização formal do governo de Damasco.

"Pedimos muitas vezes para trabalhar nos locais onde somos mais precisos, mas a resposta foi sempre negativa", explicou Isabelle Defourny, directora de operações da organização.

Síria é uma “máquina de matar”

A MSF apenas dispõe actualmente de três estruturas próprias na Síria - depois de três dos seus médicos terem sido raptados em 2014 no noroeste do país e libertados meses mais tarde -, dando o seu apoio a hospitais e clínicas existentes através do envio de material e de medicamentos.

No relatório, a organização afirma que, em 2015, as instalações de saúde que apoia em toda a Síria registaram 7.009 mortos e 154.647 feridos.

"Mais 155 mil feridos de guerra é qualquer coisa que nunca tínhamos visto em 44 anos de operações da MSF. A Síria é uma máquina de matar", disse Liu.

Mas "a situação real é muito provavelmente bem pior", acrescentou, precisando que os "70 hospitais e centros médicos apoiados pela MSF na Síria são uma pequena parte das estruturas médicas na Síria".

As mulheres e as crianças representam 30 a 40% das vítimas, "sugerindo que as zonas habitadas por civis têm sido constantemente alvo de bombardeamentos aéreos e de outro tipo de ataques".

Comentários
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  • Pinto
    10 mar, 2016 Custoias 12:36
    Quem fornece as armas e o dinheiro? A população não devias ser armada para defenderem a pátria? Impossível, essa gente são tribos e etnias e religiões diferentes, são gente fanática, agressiva e rebeldes. Essa gente tem de ter a governar pessoas como o falecido Assad Hussain que os EUA, Portugal, Espanha e Inglaterra decidiram apoiar e executar.
  • António Costa
    18 fev, 2016 Cacém 21:55
    Mas...".. as coordenadas daquele hospital não foram comunicadas ao governo de Damasco..."??? Então "Damasco" não sabia que ali se encontrava um hospital? Há qualquer coisa que "não cola", não é verdade?
  • 18 fev, 2016 Lisboa 15:17
    não seriam de novo espiões franceses que lá estavam ao serviço de interesses que daqui a uns anos sabenos quais eram esses interesses!!! aquilo é uma guerra de interesses a todos os níveis.

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