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Tragédia em Caxias mostra “todo o sistema a falhar”

17 fev, 2016 - 15:09

A vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança diz à Renascença que têm de ser apuradas responsabilidades no caso da mulher suspeita de se ter lançado ao Tejo com duas filhas. O diagnóstico de depressão terá falhado, afirma Dulce Rocha.

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Pode ter havido falha do diagnóstico de depressão da mulher que foi detida, esta quarta-feira, por suspeita de homicídio das suas duas filhas menores, numa praia em Caxias, Oeiras. A antiga procuradora Dulce Rocha, actual vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança, lamenta que os técnicos que acompanharam a família não se tenham apercebido do grau de depressão de que a mulher, de 37 anos, provavelmente sofria.

“É todo o sistema a falhar, não é só um serviço que falha aqui provavelmente não houve um diagnóstico, não se aperceberam da gravidade da situação”, afirma Dulce Roche à Renascença.

A família estava a ser acompanhada desde que a mulher fez uma denúncia por abusos sexuais das meninas e violência doméstica, por parte do pai das vítimas. Falando antes de se ter confirmado a detenção, Dulce Rocha explicou à Renascença que tudo indica que a mulher devia ter sido submetida a cuidados psiquiátricos.

“Tem muito a ver com a rede de saúde mental que temos em Portugal, porque os funcionários do Ministério Público não são psiquiatras e provavelmente não se aperceberam da gravidade da situação. Provavelmente naquele caso devia-se ter encaminhado para a saúde mental e a saúde mental ter meios para socorrer esta senhora. Estas situações são muitas vezes desvalorizadas e que não há recursos”, lamenta Dulce Rocha.

Em questão está também a forma como os técnicos abordam as situações, podendo alarmar os pais, o que pode ser contraproducente. “Tem de haver todo um conjunto de soluções para acolher estas crianças, sem ser uma retirada das crianças à mãe que ela tenha a sensação de ser definitiva. Caso contrário vai dizendo que não está tão mal assim, ela própria esconde a sua depressão para que não lhe sejam retirados os filhos, diz.

“Tem de haver uma consciencialização, por parte dos serviços, de que estas pessoas têm de ser tratadas com muita humanidade, com muita compaixão", avisa a dirigente do Instituto de Apoio à Criança.

Uma criança de 19 meses morreu e outra de quatro anos está desaparecida desde segunda-feira à noite. O alerta foi dado por uma testemunha que viu uma mulher sair da água na praia de Caxias, em pânico, em avançado estado de hipotermia e a afirmar que as suas duas filhas estavam dentro de água.

A criança de 19 meses foi resgatada e alvo de tentativa de reanimação, mas sem sucesso.

O gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República disse à Renascença que o pai das crianças está indiciado por violência doméstica e suspeita de abusos sobre as meninas.

Comentários
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  • rosa30barreto @sapo.
    21 fev, 2016 Caldas da Rainha 11:21
    o sistema falhou neste caso e em muitos. quantas crianças andam a sofrer com o modo(ou não) de funcionamento das leis que existem neste pais? apelo a todos os técnicos quando são informados de algo que não está bem com famílias que façam a sua intervenção de imediato, deixem as leis, os horários, os fins de semana, as férias todo o tipo de burocracia são crianças que estão a sofrer, o acompanhamento tem que ser imediato. nunca retirar das famílias, se os pais( não estão bem é natural com todo o mau estar entre eles) existem os avós que neste momento estão a ser desvalorizados pelo sistema este prefere entregar crianças aos namorados dos progenitores em primeiro ( existe mesmo uma lei que o refere) que algumas instituições que se intitulam de proteger crianças aplicam-na. é hora da Assembleia da República rever esta mesma lei. As Crianças são o melhor do mundo por favor olhem por elas com olhos de ver, vejam, analisem, e acreditem em todas as informações dadas sobre esta ou aquela família. Infelizmente estas duas crianças o seu fim foi muito trágico mas outras sofrem muitas vezes em silêncio, olhem por todas.
  • Irene Sereno
    18 fev, 2016 Cartaxo 22:15
    As vítimas de maus tratos, ficam muito debilitadas e precisam é de apoio, quando essa parte falha é no que dá, a vitima não vê outro fim se não dar fim à vida , nem se apercebe que tem é que seguir em frente e dar outro rumo à sua vida. Ninguém tem o direito de tirar a vida de outro ser.
  • António Leirão
    17 fev, 2016 Evora 22:04
    A comunicação social (e não só ) esqueceu o monstro. Onde anda o monstro?
  • shisuka_chan
    17 fev, 2016 caxias 21:45
    este e um dos maiores casos senão o maior que já aconteceu em Caxias e esperemos todos que vivem por estas zonas que nunca mais aconteça uma tragédia destas aqui e em qualquer praia ou sitio.Esta mãe vai viver para sempre com o remorso de ter matado os seus bens mais precioso...OS SEUS FILHOS
  • Idália Simões
    17 fev, 2016 Messines 20:47
    Enfim é o que temos, depois desta tragédia fala-se e mil e uma coisa se diz, mas e fazer....... é que nem com os erros se aprende. Enquanto o sistema falhar desta maneira não há volta a dar.
  • João
    17 fev, 2016 Cascais 20:28
    CGS em quê que a polícia falhou??? Não digas tontices, a polícia nada pode fazer, são meros instrumentos do tribunal!!! A falha já começa por si, em criticar, sabe qual e a grande crise portuguesa?? É a crise de valores, esteja calado que só diz asneiras
  • AB
    17 fev, 2016 Evora 20:19
    O pai abusava das crianças e a mãe é que estava a ser acompanhada por ter perturbações mentais? Mas faz todo o sentido não acham? Só quem já lidou com o sistema conhece a incrível estupidez que por lá grassa. O caso da minha filha foi acompanhado por uma assistente social recém divorciada e que andava tão drogada com calmantes que mal percebia o que lhe diziam. As outras, todas mulheres, parecia odiarem crianças.
  • Luque
    17 fev, 2016 Viseu 20:14
    Os técnicos do Estado a funcionar em pleno!!!!!!! Agora vão dizer que não existem meios, sobrecarga do serviço.....tretas! Muitos e MAUS!!!!! O problema é competência, eficiência e qualidade. Vergonhoso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
  • Luis
    17 fev, 2016 Lisboa 20:10
    Todo o sistema a falhar? Neste País todos os sistemas falham quando têm que ser postos à prova. Nesta País impera o faz de conta, Em tudo o que é poder estão boyadas partidarias selecccionadas apenas pelos cartões dos partidos sem o minimo de competência para os lugares que desempenham. Concerteza que há muitas excepções. Mas quantas? Muito poucas. A nossa sorte é que DEUS protege os inocentes.
  • Nekas
    17 fev, 2016 Lisboa 20:00
    E agora?as pessoas das instituições sociais e autoridades que têm a haver com estes assuntos estão-se a barimbar para as situações,não tentam sequer ver o que se passa com as queixas que recebem e deixam andar por puro desprezo ou abandono,um dia uma pessoa que se passe e matar alguem de poder que faça moça,então ordenam radicalmente,estamos num país em que a loucura ainda não matou governantes,juizes ou gente das influencias,o que promove o deixa andar e o quero que se lixe,assim vamos andando com a desmoralização vigente.

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