10 fev, 2016 - 16:42 • Ecclesia
O Papa condenou esta quarta-feira no Vaticano a usura e lembrou o “desespero” que a exploração dos mais necessitados provoca.
“Quantas famílias estão na rua, vítimas da usura”, lamentou Francisco, na audiência geral, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
Francisco recordou que a usura é considerada como “um grave pecado”, que “grita diante de Deus”. “Quantas situações de usura somos obrigados a ver e quanto sofrimento e angústia provocam nas famílias. Tantas vezes, no desespero, quantos homens acabam por suicidar-se porque não conseguem, não têm esperança, não têm a mão estendida para os ajudar, apenas a mão que vem exigir o pagamento dos juros”, acrescentou.
A catequese semanal sublinhou que o Jubileu da Misericórdia tem de chegar aos “bolsos”, respeitando a tradição bíblica de ajudar os mais pobres e de perdoar as dívidas.
“Rezemos para que neste Jubileu o Senhor tire do coração de todos nós este desejo de ter mais, da usura, que nos torne generosos”, pediu.
A intervenção recordou que o Jubileu é um tempo de “perdão geral” e questionou a distribuição da riqueza mundial, em que “80% dos recursos estão nas mãos de menos de 20% das pessoas”.
“Que cada um pense, no seu coração: se tem demasiadas coisas, por que não deixar àqueles que não têm nada 10%, 50%? Que o Espírito Santo inspire cada um de vós”, pediu Francisco.
“Se o Jubileu não chegar aos bolsos, não é um verdadeiro Jubileu"
O Papa recordou que, no Antigo Testamento, a instituição do Jubileu acontecia de 50 em 50 anos como um momento culminante da vida religiosa e social do povo de Israel.
Nesse contexto, se uma pessoa tivesse sido obrigada a vender a sua terra ou a sua casa, recuperava a sua posse no Jubileu, o mesmo acontecendo a quem tivesse sido reduzido à escravidão.
“Se o Jubileu não chegar aos bolsos, não é um verdadeiro Jubileu. Perceberam? E isto está na Bíblia, não o inventa este Papa”, insistiu Francisco.
Na instituição do Jubileu, acrescentou, havia a intenção de devolver o “necessário para viver” a quem empobrecera”.
“A mensagem bíblica é muito clara: abrir-se com coragem à partilha entre compatriotas, entre famílias, entre povos, entre continentes. Contribuir para realizar uma terra sem pobres quer dizer construir sociedades sem discriminações, assentes na solidariedade que leva a partilhar aquilo que se possui numa divisão dos recursos fundada na fraternidade e na justiça”, precisou o Papa.
Após a catequese, Francisco deixou saudações aos vários grupos de peregrinos, incluindo os portugueses.
“Saúdo os professores e os alunos das diversas comunidades escolares de Barreiro, Bragança, Coimbra e Lisboa. Sobre vós e demais peregrinos de língua portuguesa, invoco a protecção da Virgem Maria. Que Ela vos tome pela mão durante os próximos quarenta dias, ajudando-vos a ficar mais parecidos com Jesus ressuscitado. Desejo-vos uma santa e frutuosa Quaresma”, disse.
Já no final do encontro, o Papa evocou a sua próxima viagem ao México, com início na sexta-feira, antecedida nesse mesmo dia pelo inédito encontro com o “caro irmão Kirill”, patriarca ortodoxo de Moscovo. “Confio à oração de todos vós tanto o encontro com o patriarca Kirill como a viagem ao México”, concluiu.