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​“Debate sobre eutanásia não é legítimo em tempo de crise”, defende Rui Nunes

06 fev, 2016 - 15:05 • Cristina Branco

O director do Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de Medicina do Porto alerta para o risco de um debate desvirtuado que possa enquadrar a eutanásia como “solução para um problema de falta de cuidados saúde”.

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É ilegítimo discutir a legalização da eutanásia sem uma rede nacional de cuidados paliativos à qual todos os portugueses tenham acesso e numa altura em que o país atravessa uma crise económica e social, defende o presidente da Associação Portuguesa de Bioética, Rui Nunes.

Em declarações à Renascença, o também director do Serviço de Biotética e Ética Médica da Faculdade de Medicina do Porto considera que este debate, que deve ser sério e profundo, corre o risco de “ser desvirtuado” à partida.

"A meu ver só legítimo discutir-se a legalização da eutanásia quando o país dispuser de uma rede nacional de cuidados paliativos à qual todos os portugueses possam ter um acesso efectivo - coisa que não é o caso hoje em dia - para que a eutanásia não seja um problema para a falta de cuidados de saúde de qualidade. Portanto, todo este contexto implica uma grande serenidade nesta proposta porque senão vamos desvirtuar, logo à cabeça, um debate que tem que ser muito sério e muito profundo”, defende o especialista.

Rui Nunes considera que “os tempos que a sociedade portuguesa vive na actualidade não são os mais consentâneos com este debate. Ou seja, neste preciso momento, a crise económica, a crise social, pode fazer resvalar um debate sério sobre este tema para questões de outra natureza, como, por exemplo, o acesso a cuidados de saúde de qualidade ou, por outro lado, a falta deles, e, portanto, a eutanásia como solução para um problema de saúde."

O especialista, recorrendo ao exemplo da Bélgica, país onde a eutanásia foi legalizada, sublinha ainda que “uma coisa é nós defendermos a morte com dignidade e, eventualmente, o debate da eutanásia em pessoas adultas e racionais, outra coisa é resvalar este debate para a eutanásia em crianças como aconteceu recentemente na Bélgica”.

Ou seja, defende Rui Nunes, “uma coisa é a eutanásia voluntária, outra coisa é a eutanásia involuntária. E, infelizmente, as sociedades ocidentais não conseguiram separar bem estes domínios, como, repito, a lei belga comprovou nos últimos tempos ao aprovar a eutanásia.”

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  • G Couto
    06 fev, 2016 Lisboa 17:03
    A questão da despenalização da eutanásia não só não tem nada que ver com a crise (na oportunidade) nem com a política mas é uma questão de consciência moral e social incontornável e que só peca por não se querer fazer de todo em Portugal por pressão da Igreja. A eutanásia não é incompatível (antes pelo contrário) com a melhoria dos cuidados de saúde: quem quer ajuda no morrer ama a vida e os cuidados que minimizam o seu sofrimento mas acha que deve ter a opção de escolher uma alternativa. Isto não é uma questão de direita ou de esquerda mas uma questão moral que é urgente implementar. A pena de morte e o homicídio em contexto de guerra (muitas vezes brutal e indiscriminado) são mais "ilegítimos" e imorais, e assim a Igreja devia entendê-lo e combate-los, do que a ajuda a alguém que esta num sofrimento sem sentido e com a morte ao virar da esquina. Deixar morrer, que a Igreja defende, não é mais humano e pode ser mais desumano do que abreviar o sofrimento de alguém, salvaguarda em muitos casos MELHOR a sua dignidade e é um sinal de maior respeito pela sua vontade ou autodeterminação. E em que medida 7 ou 15 dias de sofrimento, por vezes fora-de-si e sem família, edificam a alma de alguém? Serão dias queridos a Deus?
  • Diogo
    06 fev, 2016 Funchal 16:32
    Nunca será então, pois Portugal é um país que para existir precisa sentir-se em crise.

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