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O dia em que ofereci Amália a Bowie

11 jan, 2016 - 14:17 • António Jorge, coordenador musical da Renascença

Bowie promovia o álbum “Hours” e os meus cinco minutos de fama foram usados para lhe oferecer um CD duplo da Amália Rodrigues.

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Às vezes gosto de lugares comuns, como os jardins para passear os cães ou o sofá lá de casa, e por isso cá vai mais um.

Esta é uma daquelas crónicas que não gostaria de estar a escrever. Independentemente do homem, do músico, do compositor e produtor, do actor e artista plástico, David Bowie será sempre aquela figura híbrida, elegante, irrepreensivelmente bem vestida que um dia, em Paris, tive a sorte de conhecer.

Bowie promovia o álbum “Hours” e os meus cinco minutos de fama foram usados para lhe oferecer um CD duplo da Amália Rodrigues.

Ficou surpreendido com a oferta, sorriu, agradeceu, perguntou-me o nome e disse qualquer coisa como “Amália Rodrigues de Lisboa? Claro que conheço, é fantástica. Muito obrigado”. Obrigado eu, respondi, e Deus o abençoe para nos dar muitas e boas canções.

Sorriu de novo, cruzamos as mãos e esfumou-se, a figura, a voz, a imagem. Foi a minha vez de sorrir e trazer na bagagem esta doce memória.

David Robert Jones, o homem que desde 1967 inventava novos caminhos e tendências na música, na cultura visual e na moda, deixa um legado de uma riqueza incalculável.

Na viragem do século, a conceituada revista “Time” coloca Bowie numa restrita lista das 50 personalidades mais influentes do século XX e, já em 2010, Bono Vox, dos U2, declarou: “David Bowie foi para Inglaterra e Irlanda o que Elvis foi para a América – uma completa mudança de consciência”. Chegou mesmo a dizer que, sem Bowie, o conceito “cultura pop” não existiria.

De entre a sua vastíssima discografia (ainda com tanto por descobrir), escolheria “The Rise And Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars”, de 1972, considerado unanimemente o melhor disco da década de 70. Depois, talvez “Let’s Dance”, de 1983, o álbum onde Bowie manda o rock às urtigas e abre os braços e a voz à pop e à new wave e, finalmente, “Hours”, de 1999. Um fantástico disco de canções que, independentemente da qualidade das mesmas, já faz parte da história porque foi o primeiro álbum de um cantor da chamada primeira divisão a ser distribuído gratuitamente “online”.

Por razões óbvias, “Blackstar”, o seu 25º álbum de originais, editado no passado dia 8 de Janeiro, dia do seu 69º aniversário será sempre um disco especial – porque sim e porque é David Bowie, verdadeiro galáctico, o mestre da reinvenção que tinha o condão de acertar.

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