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Quem foi Teresa de Saldanha, a portuguesa que morreu com fama de santa?

08 jan, 2016 - 17:11 • Ângela Roque

A mulher que restaurou a vida religiosa em Portugal morreu há 100 anos. A data é assinalada com várias iniciativas. Em Dezembro, o Papa reconheceu as suas “virtudes heróicas”, passo fundamental para que venha a ser beatificada.

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Teresa de Saldanha foi a primeira portuguesa a fundar uma congregação religiosa feminina, a das irmãs dominicanas de Santa Catarina de Sena. Fê-lo em pleno século XIX, quando a Igreja era perseguida e as ordens religiosas estavam proibidas no país.

Filha de família abastada, dedicou a sua vida aos mais pobres, doentes e desprotegidos, deixando uma obra que está hoje espalhada por quatro continentes.

Morreu há precisamente 100 anos, no dia 8 de Janeiro de 1916, e em Dezembro o Papa Francisco reconheceu as suas “virtudes heróicas”, passo fundamental para que venha a ser beatificada.

A decisão foi recebida com grande alegria pelas irmãs dominicanas, conta Rita Maria Nicolau, a superiora geral da Congregação: "Já sabemos que madre Teresa é santa, por isso pusemos o seu processo. Mas este reconhecimento, pela Igreja, da heroicidade das suas virtudes, deu-nos muita esperança e muita alegria, porque agora podemos ter um culto mais alargado. É o primeiro passo para a sua beatificação e canonização."

"Teresa de Saldanha ainda não é tão conhecida como devia ser, mas ela foi uma figura fundamental na Igreja e na sociedade portuguesa do século XIX, em Lisboa e em Portugal”, explica a irmã Rita. Ainda em vida já era considerada santa: "Há jornais da época que falam dela dessa forma – a 'Santa Teresa de Saldanha', era ela ainda viva. E ela envergonhava-se disso, dizia 'Não gosto que digam isso'."

Quando morreu, em 1916, houve uma grande manifestação de apreço pela sua vida e obra. "Toda a gente queria tocar no seu hábito, tirar pétalas do caixão, foi um funeral enorme para aquele tempo", conta Rita. Vivia-se na I República, regime que a perseguiu e a obrigou a deixar a casa de família e a viver refugiada no seu próprio país.

A sua fama de santidade nunca se apagou e houve sempre muita gente devota de Teresa de Saldanha, "em Portugal e no resto do mundo, como no Brasil, em Timor, na Albânia, em Angola e Moçambique. Onde há dominicanas, ou tenha havido, há pessoas que se sentem marcadas pela vida de madre Teresa", explica a irmã.

A curiosidade em torno de Teresa de Saldanha aumentou com a recente decisão do Papa: “Recebi muitos e-mails de pessoas de vários países que queriam saber mais sobre quem foi e o que fez esta mulher”.

Um legado global

Cem anos depois da sua morte, a congregação que fundou está espalhada por sete países de quatro continentes: "Somos cerca de 300 irmãs", diz a provincial. E continuam com o mesmo carisma sóciocaritivo: "Temos em Portugal diversas casas para raparigas fragilizadas pela vida, maltratadas, a que chamamos 'órfãs de pais vivos'. Temos comunidades de inserção e lares de terceira idade." No Convento dos Cardaes, no Bairro Alto, acolhem jovens e adultas invisuais e com multideficiência.

O centenário da sua morte é assinalado nesta sexta-feira, 8 de Janeiro, em Lisboa, com uma escultura: "Vamos inaugurar uma obra escultórica junto à casa onde ela morreu, na Gomes Freire, 147. A própria presidente da Junta de Arroios ficou encantada com a história desta mulher, que não conhecia."

Os "cristos vivos" pintados

Será também inaugurada uma exposição onde podem ser vistos muitos dos quadros que pintou. Teresa de Saldanha, "além de ser uma pessoa com um cariz social e evangélico, de obras de misericórdia, também foi uma artista, era uma grande pintora. Foi, aliás, ao pintar o Jesus coroado de espinhos, o Ecce Homo, que se sentiu chamada e pensou: 'Não posso passar a vida a pintar quadros, tenho que ir para os quadros vivos, para os cristos vivos que andam nas ruas'".

A exposição, que inclui quadros com motivos religiosos, mas também paisagens e retratos de família, pode ser vista até 5 de Fevereiro na Biblioteca de São Lázaro, na Rua do Saco, em Lisboa.

Este é o ponto alto do Ano Jubilar que começou em Janeiro de 2015 para assinalar o centenário da sua morte e divulgar a sua vida e obra. "Tivemos conferências, a publicação de livros e de uma revista comemorativa, um concurso para jovens e crianças. E fizemos um hino novo a Teresa de Saldanha", explica a provincial.

O hino foi gravado por crianças dos diversos países onde a congregação está presente e o documentário que mostra esses momentos vai ser exibido este sábado em Fátima, onde haverá uma celebração de acção de graças presidida pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

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