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Apoio social da Igreja "nunca vem à ribalta nem nas paragonas" dos jornais

23 dez, 2015 - 08:16 • Agência Lusa

D. Manuel Clemente elogia as pessoas que se entregam ao bem e fala sobre as comemorações dos 300 anos da criação do Patriarcado de Lisboa em 2016. Sobre a nova catedral, considera que "não é tão urgente quanto isso".

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Apoio social da Igreja "não dá nas vistas" nem "faz as contas"
Apoio social da Igreja "não dá nas vistas" nem "faz as contas"

O Cardeal Patriarca de Lisboa afirma que o trabalho de apoio social prestado pela Igreja é "silencioso" e não dá nas vistas, mas garante que tem "constantemente" testemunhos deste trabalho, que "nunca vem à ribalta nem nas paragonas" dos jornais.

É um trabalho “muito difícil de contabilizar", sublinha D. Manuel Clemente em entrevista à agência Lusa, acrescentando: “É muito importante e estimulante encontrarmos estas situações no dia-a-dia, que geralmente não dão nas vistas ".

Como exemplo, o Cardeal Patriarca refere o trabalho de religiosos e leigos junto "dos mais fracos", das pessoas doentes, que precisam de cuidados; "tratar de expedientes que as pessoas não sabem tratar" ou das mães que não têm onde deixar os filhos, para irem trabalhar.

"São pessoas que estão por convicção e devo sublinhar com uma entrega, pessoas que se reformam e que em vez de ficar em casa" se tornam visitadores de hospitais ou de prisões, de pessoas que vivem sós, e que de forma espontânea ou organizada.

E "isto acontece constantemente", sublinha, considerando que essa entrega "mostra que a proposta cristã, não só tem uma actualidade permanente, mas agora reforçada, dadas as actuais circunstâncias".

"Costumo dizer que, [esses católicos] são profissionais, mas isso não os dispensa de serem voluntários, pois vão muito além, em muitos casos, do que seria estritamente contratual, têm vontade de fazer o bem e a maneira como estão, mesmo sendo assalariados, é uma maneira que excede aquilo que ganham".

D. Manuel Clemente adianta que está "constantemente a alertar as instituições civis para terem em conta essa espontaneidade social, para que não se trabalhe ao lado, e que tudo isto conviva numa acção comum e mais capaz".

“O bem é o bem, e quem o faz, faz muito bem”, afirma.

O prelado chama ainda a atenção para instituições que não são católicas, mas geridas, maioritariamente, por católicos, e citou o Banco Alimentar Contra a Fome.

Em Fevereiro, na sua primeira catequese quaresmal, no Mosteiro dos Jerónimos, D. Manuel Clemente citou o papa Francisco para exortar os católicos a serem "ilhas de misericórdia no mar de indiferença" e a cumprir "o sonho missionário de chegar todos".

Clemente frisou na altura que a Igreja de Lisboa está "em caminho sinodal para cumprir o sonho missionário de chegar a todos, sobretudo aos nossos concidadãos que mais precisam de ser sustentados e fortalecidos no corpo e no espírito".

Uma série de comemorações em 2016

Em 2016 comemoram-se os 300 anos da criação do Patriarcado de Lisboa. Na Igreja Católica latina, além de Lisboa, só Veneza tem o título de patriarcado.

Do programa previsto, o Cardeal Patriarca destaca o sínodo, em Novembro, e um congresso de associações profissionais católicas, que vai aprofundar as disposições da "ecologia integral" da Encíclica "Laudate Si", publicada pelo Papa em Maio.

O sínodo será o primeiro a realizar-se na diocese de Lisboa desde 1640. Um dos temas que poderá ser abordado é a redefinição das paróquias, "uma questão muito sensível", pois "há um conjunto de vinculações e tradições" a que as populações estão ligadas, "mesmo que já lá não morem".

Mas os trabalhos preparatórios decorrem ainda e as suas conclusões devem ser apresentadas em finais de Março. D. Manuel Clemente nomeará, então, uma comissão que vai redigir o documento a apresentar ao sínodo, no qual participam eclesiásticos, religiosos e leigos.

Além dos momentos litúrgicos, as comemorações vão ter "uma parte mais vistosa", como a publicação de vários títulos sobre a diocese de Lisboa, que existe desde o século IV.

Está-se também “a trabalhar nas chamadas cartas pastorais dos patriarcas e, olhando para cada uma delas, fica-se com uma ideia de como este grande corpo – o Patriarcado de Lisboa – agiu e reagiu face à problemática da respectiva época, porque muitas das coisas passaram por aqui".

O título de Patriarcado a Lisboa foi dado em 1716, pelo Papa Clemente IX, tendo em conta o esforço missionário e de evangelização dos portugueses. D. Manuel Clemente é o 17.º patriarca de Lisboa, tendo sucedido a D. José Policarpo (1936-2014), que resignou em Maio de 2013.

Uma nova catedral em Lisboa?

D. Manuel Clemente diz que a questão "está de pousio". “Há vários factores que contrariam que se avance depressa: em primeiro lugar, o factor económico – não é algo que fique barato. Depois, porque há uma Sé histórica, à qual a diocese está apegada e muito apegada – a Sé de Lisboa é a Sé de Lisboa".

"Se não houvesse alternativas para as nossas grandes celebrações, possivelmente, avançar-se-ia mais depressa, mas nós, felizmente, temos uma boa alternativa, que são os Jerónimos".

Foi este monumento "grande e bonito" que foi escolhido para a entrada solene de D. Manuel Clemente na diocese, em Julho de 2013, tendo também si aí que celebrou a primeira catequese quaresmal, como patriarca olissiponense.

A nova catedral de Lisboa chegou a estar projectada para a parte sul do Parque das Nações, segundo um protocolo assinado em Julho de 2005, entre a Câmara Municipal e o cabido da Sé.

Na ocasião, o anterior Patriarca, D. José Policarpo, referiu o crescimento populacional naquela zona da cidade como uma das justificações da escolha e o facto de vir a ficar virada para o rio Tejo, "que é a alma de Lisboa", disse.

O novo templo devia servir 30.000 famílias. Nesta altura, D. Manuel Clemente considera que a sua construção "não é tão urgente quanto isso".

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