28 set, 2015 - 08:25 • J. A. Azeredo Lopes
Foi interessante verificar como, perante a sucessão recente de sondagens e “tracking poll” desfavoráveis para o PS, se animaram as hostes de Portas e Passos Coelho, se animaram as hostes do sector comunista e do Bloco de Esquerda e... desabou o ânimo socialista.
Compreende-se a actual euforia do PAF (sempre educadamente dissimulada), não se compreende menos a alegria da esquerda “hard” (evitei o hardcore!), mais dificuldade haverá em alcançar que o PS tenha estado à beira do suicídio e só agora tenha descido do banco em que se tinha pendurado para colocar a corda ao pescoço.
Que fique claro, nesta coisa das sondagens e outros estudos de opinião, não insinuo uma conspiração nem insinuo que estes estudos de opinião influenciam em muito a percepção do “vencedor” e por isso têm um efeito directo na votação. Porque é claro que não há conspiração. E é igualmente límpido que estes estudos de opinião influenciam os eleitores indecisos, pelo que neste caso não insinuo: afirmo.
O que parece, no entanto, é que a direita estaria aqui a discutir coisas semelhantes se estivesse “atrás” naquele campeonato diário. E que, por conseguinte, a questão em geral só poderia resolver-se com medidas proibitivas, do género “vamos proteger a livre autodeterminação dos nossos queridos e frágeis cidadãos eleitores, proíba-se a divulgação das sondagens e outras tracking não sei o quê”.
Ora, além de um absurdo, a medida seria uma tolice tão grande que nem valerá a pena gastar as teclas do computador a falar do assunto. São novas realidades, a que depressa nos habituámos. E espera-se, por isso, que os partidos igualmente estejam já habituados, apreciem ou não os “resultados” e as “tendências”.
Estando o PAF à frente, percebeu. Ficou mais doce, humilde, muito franciscano: “isto não conta nada, é animador, claro, mas o importante é dia 4, todos têm que ir votar”. Continuando para a tentativa de bingo: “Pedimos uma maioria para governar”.
O Bloco e a CDU também perceberam a benesse, que retira das suas costas a pressão do voto útil. Se o PS está em segundo, para que serve dar-lhes o voto da esquerda?
O PS, depois de algum desnorte, está outra vez a arrepiar caminho e a fazer pela vida, mas o seu tempo encurtou, sendo os próximos dois ou três dias decisivos: sim, ou sopas.
Porém, a maior e mais notável lição que se retirará destas eleições é que pela última vez será intelectualmente legítimo falar na votação “da” esquerda. A esquerda não existe (se calhar, nunca existiu) como conceito unitário em Portugal, essa esquerda morreu de morte morrida matada. E é hoje, isso sim, um notável, fascinante, incongruente saco de gatos.
Para lá da questão formal e terminológica, a conclusão empírica é sociologicamente muito importante. E vai resultar - a afirmação é convicta - em alterações muito relevantes das estratégias futuras político-partidária.
Mas, logo se verá.