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Opinião de Fernando Medina

Recentrar a campanha

02 out, 2019 - 07:00

Transformar o principal instrumento de participação democrática dos cidadãos numa cruzada justicialista, pode dar uma sensação instantânea de sucesso, mas esta ilusão não deixará de ter custos pesados.

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Todas as campanhas eleitorais têm a sua história. A destas legislativas é de como a discussão política e de alternativas, que estava a acontecer com os vários debates, foi transformada no preciso em que devia ter arrancado.

PSD e CDS, sem linha política que mobilize quem quer que seja depois de serem conhecidos os melhores números económicos e de criação de emprego deste século, acamparam de armas e bagagens em Tancos e centram toda a sua campanha num caso de justiça.

Rui Rio sacrificou o que anunciou como sendo os seus princípios de sempre aos pequenos interesses pessoais de curto prazo. Parafraseando livremente os irmãos Marx, “os meus princípios são estes, se não estiverem a dar resultado tenho outros”.

Não foi há muito tempo, mas há menos de duas semanas, que o líder do PSD disse num debate que os “julgamentos na praça pública são inaceitáveis”. Repare-se que Rio não falava de arguidos, que há alguns nas listas do PSD, de acusados ou até de condenados em primeira instância, mas de decisões “transitadas em julgado”.

Mas isso foi antes da campanha começar e de o PSD trocar o seu programa eleitoral pelos julgamentos na praça pública. Insinuações difamatórias e ilações mirabolantes, tudo serve agora para se atirar a António Costa e dizer que o primeiro-ministro, que nunca é referido no processo, sabia de tudo. Dizer, como fez segunda-feira, que não extraiu qualquer ilação com impacto judicial é não só falso como é infantilizar a inteligência dos cidadãos.

A degradação do discurso político - levado ao ponto de se tentar fazer, pela primeira vez na democracia, uma sessão especial no Parlamento durante a campanha – tem consequências para o futuro. Esta forma de campanha em afasta os cidadãos da política e legítima o populismo que vem assolando a Europa.

Aqui chegados, era bom que os partidos, todos eles, se concentrassem no essencial. Como responder aos reais problemas do país, da iminente saída sem acordo do Reino Unido da União Europeia às ondas negras na economia mundial, preparando Portugal para os próximos quatro anos. Que propostas tem cada partido para melhorar os serviços públicos, melhorar a produtividade da economia, melhorar o nível salarial e responder à crise ambiental que marcará as próximas décadas e gerações?

Numas eleições discute-se não apenas o balanço do que foi feito, mas também o que cada um pretende fazer e como se propõe a fazê-lo.

Transformar o principal instrumento de participação democrática dos cidadãos numa cruzada justicialista, à base de teorias da conspiração próprias do pior que existe nas redes sociais, pode dar uma sensação instantânea de sucesso, mas esta ilusão não deixará de ter custos pesados. O descrédito, quando se instala, é como um vírus e corrói todos por igual.

Os cidadãos saberão julgar, a 6 de outubro, esta forma negativa de fazer toda uma campanha.

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