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50 anos do Homem na Lua

Wernher von Braun, o dissidente nazi que levou a América à Lua

16 jul, 2019 - 13:08 • André Rodrigues

E se fossem os nazis a chegar à Lua? Parece uma pergunta descabida, mas se a Alemanha tivesse saída vitoriosa da II Guerra, talvez a História fosse diferente. Conheça a história de Von Braun, que inclui um ajudante de cozinha polaco, uma rivalidade entre astronautas e uns Estados Unidos divididos.

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A chave para entender o que foi a história da exploração espacial e, mais imediatamente, a conquista da Lua pelos Estados Unidos está na Alemanha de Hitler. Miguel Gonçalves, comunicador de ciência, refere que este, é apenas, "o princípio de uma das inúmeras estórias não reveladas sobre a aventura lunar".

São os detalhes que não ficaram para a História da concretização de um dos maiores sonhos da Humanidade.

Os livros de História contam que a luta pela supremacia no espaço foi, essencialmente, alimentada pelas disputas estratégicas e pelos conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Em declarações à Renascença, o autor do programa 'A Última Fronteira', da RTP, reconhece que "a Guerra Fria, entre 1947 e 1991, foi uma das razões para a rapidez com que russos e americanos avançavam no conhecimento e nas abordagens ao espaço".

No entanto, este especialista defende que a história da exploração espacial começa logo que se percebe que a Alemanha vai perder a guerra. E tem um ator que tem tanto de principal como de desconhecido e improvável.

Wernher von Braun era o oficial nazi mais procurado por americanos e soviéticos, "por ter desenvolvido o temível foguete V2, que não era muito certeiro, mas tinha um incrível poder de propulsão".

São características técnicas que agradavam às duas grandes potências do pós-guerra, que procuravam afirmar-se para lá de todos os limites e de toda a capacidade instalada à época.

A ida à Lua salva na pacatez do Tirol austríaco

À medida que a II Guerra Mundial caminhava para o fim, o próprio regime nazi percebe que a derrota era inevitável.

"E é nessa altura que a cúpula mais próxima de Hitler decide que era preferível eliminar von Braun e os seus colegas, em vez de permitir que eles caíssem em mãos inimigas", conta Miguel Gonçalves.

Entre abril e maio de 1945, "a fuga de von Braun leva-o às montanhas do Tirol austríaco, onde ele recebe a indicação de que as tropas americanas não estão muito longe dali".

É aí que entra outro ator preponderante. Magnus von Braun, irmão mais novo do dissidente nazi, "pega na bicicleta e dirige-se à vila onde estão estacionadas as forças norte-americanas, para negociar a rendição do seu irmão e confirmar que o famoso e procurado Wernher está disponível para colaborar com os Estados Unidos".

Mera coincidência, golpe de sorte ou predisposição de von Braun para apoiar os americanos? Poderá ter sido a feliz conjugação destes três fatores.

Certo é que "eles chegaram à vila onde estavam as forças americanas na tarde de 2 de maio de 1945. À noite, eles são instalados numa pensão".

Para todos os efeitos, von Braun era um oficial nazi. Essa indicação chegou ao conhecimento de um polaco, que era ajudante de cozinha da comitiva norte-americana e, "como se percebe que não ficou nada agradado com isso".

Ato contínuo, o auxiliar de cozinha pega numa arma e, sorrateiramente, dirige-se até à pensão onde estão von Braun e os seus colegas.

É aqui que Miguel Gonçalves introduz um herói desconhecido de toda a história da exploração espacial.

"O primeiro-tenente Charles Stewart que, dois segundos antes do ajudante de cozinha disparar, consegue impedi-lo, evitando uma matança que seria uma tragédia, não só para von Braun, mas para toda a exploração espacial", conclui este especialista em assuntos espaciais, para quem a morte do antigo oficial nazi, a ter acontecido, alteraria profundamente a história da conquista da Lua, tal como a conhecemos. Tal como ela aconteceu.

Armstrong vs. Aldrin: rivalidade disfarçada

"Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a Humanidade". A frase tem 50 anos e ecoa ao longo dos tempos.

A frase de Neil Armstrong não foi previamente combinada mas não poderia ser mais adequada ao momento em que o comandante da missão Apollo 11 pisava o solo lunar.

Armstrong foi o primeiro a fazê-lo, seguido de Edwin 'Buzz' Aldrin. Michael Collins, o terceiro astronauta da missão lunar de há 50 anos, também fica para a história, por ter sido o único que não caminhou sobre a superfície da Lua.

Para a memória presente e futura da missão Apollo 11, Neil Armstrong é e será o senhor do grande momento em que a Humanidade concretiza um sonho e transcende os seus limites.

Miguel Gonçalves não tem dúvidas de que "Neil Armstrong era, do ponto de vista da organização da missão, a escolha natural até pelo seu caráter e pela frieza com que lidava com situações adversas".

Mas essa escolha "não terá sido pacífica, sobretudo para 'Buzz' Aldrin, que, tal como o Neil Armstrong, era um astronauta extremamente competitivo e queria, naturalmente, ser o eleito para comandar a missão".

Em nome da imagem da missão, o que fica para memória coletiva é a ideia de que tudo aconteceu de forma natural.

"Só que há fragmentos de conversas de Aldrin com outras pessoas da estrutura da Apollo, manifestando o profundo desagrado com essa decisão de ter sido Armstrong o escolhido".

No entanto, não existia qualquer argumento válido que contrariasse um facto incontornável.

"Neil Armstrong era reconhecido pelos seus pares como um astronauta de eleição. Daí ter sido perfeitamente natural a escolha para ter sido ele o primeiro a pisar a Lua".

A América que não queria ir à Lua

Em 1961, John F. Kennedy estabeleceu o objetivo de colocar astronautas na Lua e fazê-los regressar à Terra durante a década de 60 do século passado.

Mas foi já sob a administração Nixon que se deu a conquista do solo lunar.

Um projeto sempre acarinhado no plano político, mas quase desprezado por uma parte considerável da sociedade norte-americana.

"Houve várias sondagens durante a década de 60 do século passado em que os americanos colocavam a exploração espacial e a conquista da Lua como o segundo tópico do orçamento que deveria sofrer os cortes mais drásticos", conta Miguel Gonçalves.

Apesar de ter sido decisivo na afirmação da América no contexto da Guerra Fria, "apenas metade da sociedade estava de acordo com este programa, ou seja, a aventura espacial não reunia nenhum elemento de unanimidade. Foi por vontade política que a América conquistou a Lua".

O clima de contestação era tal que, "em praticamente todos os lançamentos de foguetões que foram à Lua, houve manifestações em Cabo Canaveral que se aproveitavam do mediatismo da missão Apollo para exprimirem a sua insatisfação face a uma América com enormes desigualdades sociais, a braços com a guerra no Vietname e com uma perceção pública de que o programa espacial gastava demasiados recursos do orçamento federal".

Esse era outro ponto controverso. A sociedade norte-americana facilmente caía na tentação de comparar o esforço financeiro da NASA com a despesa do Departamento de Defesa na guerra do Vietname.

Miguel Gonçalves lembra que, "no ano de 1966, a Apollo teve o seu maior orçamento de sempre, que correspondia a 4,5% do PIB norte-americano. Quando se perguntava às pessoas qual era a percentagem do PIB que achavam que estava a ser gasta na exploração espacial, as pessoas respondiam entre 20% e 30%. Não faziam a mínima ideia de que eram apenas 4,5%".

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