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374 votos separam Ursula von der Leyen da presidência da Comissão Europeia

16 jul, 2019 - 07:30 • João Pedro Barros com Tiago Palma

Candidata designada pelo Conselho Europeu vai esta terça-feira a debate no Parlamento. Para além dos votos do Partido Popular Europeu, alemã precisa do apoio de grande parte dos liberais e dos socialistas.

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A geometria pode ser variável, mas uma coisa parece certa: para conseguir o cargo de presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen vai ter de reunir pelo menos 374 votos (50% mais um voto) entre os 747 eurodeputados, isto se nenhum faltar. Esta terça-feira, em Estrasburgo, França, a ministra da Defesa alemã apresenta as suas prioridades para os próximos cinco anos e sujeita-se a debate, a partir das 8h00 de Portugal Continental. A votação será realizada a partir das 17h00.

Ainda não é certo que Ursula von der Leyen consiga a aprovação da maioria do Parlamento, se bem que as contas sejam sempre complicadas de antecipar. É seguro que terá o apoio da sua família política, o Partido Popular Europeu (PPE), que representa 182 votos, mas mesmo aqui pode não obter unanimidade. Depois, a alemã de 60 anos tem que juntar apoios entre socialistas (153) e liberais (108) – apenas um dos lados não chega, porque pela primeira vez não há uma maioria de conservadores (o PPE, de que fazem parte PSD e CDS) e socialistas no órgão.

É de crer que uma boa parte do votos dos liberais esteja garantido e, em relação aos socialistas, terá sido com agrado que Ursula von der Leyen recebeu a notícia do apoio do primeiro-ministro português. António Costa saudou o compromisso expresso em carta pela candidata em matérias como "o Estado de direito, ambição face à transição para a neutralidade das emissões de carbono, promoção da igualdade de género, solidariedade com os migrantes, desenvolvimento do pilar social e prioridade no combate ao desemprego jovem". Porém, os socialistas alemães (16 votos) já anunciaram que irão votar contra a nomeação.

À partida, Ursula não deve contar com grande apoio das outras bancadas, se bem que alguns votos dispersos possam fazer a diferença. Não terá os votos dos Verdes (onde está Francisco Guerreiro, do PAN) nem da extrema-esquerda (GUE/NGL, de PCP e Bloco de Esquerda). A bancada nacionalista também não deve estar para aí virada. Pouca coisa é simples na política europeia e os números finais vão depender do jogo de cintura e de alguns compromissos que a candidata possa fazer.

Como será o dia em Estrasburgo?

O debate no Parlamento Europeu terá início com uma declaração de Ursula von der Leyen, em que apresentará as orientações e visão para o futuro da União Europeia. Seguir-se-ão as intervenções dos líderes dos grupos políticos e as respostas da candidata. O debate será depois aberto aos restantes eurodeputados, devendo a alemã fazer uma intervenção final. Poderá assistir ao debate no site do Parlamento Europeu e no Europe by Satellite.

O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, anunciará a maioria necessária para a eleição antes do início da votação. A votação é secreta, sendo utilizados boletins de voto. Se von der Leyen for eleita, o presidente solicitará ao Conselho e à presidente eleita da Comissão que proponham, de comum acordo, os candidatos para os cargos de comissários. As audições nas respetivas comissões parlamentares deverão ter lugar em setembro ou outubro.

Se Ursula von der Leyen não obtiver a maioria necessária, o Conselho Europeu (os chefes de Estado e de Governo dos países-membros) terá de apresentar um novo nome no prazo de 30 dias, deliberando por maioria qualificada. Ou seja, o novo candidato terá de ter o apoio de 55% dos estados-membros (16 em 28), representando pelo menos 65% da população europeia.

Quem é Von der Leyen?

A alemã não era um nome que fizesse parte das contas no rescaldo das eleições europeias em maio, até porque, pensava-se então, o princípio dos “spitzenkandidaten” (os chamados candidatos de primeira linha”, ou seja, os políticos apontados por cada família política europeia à liderança da Comissão Europeia) iria prevalecer. Os frágeis equilíbrios políticos necessários para se chegar a um nome – talvez por isso a política seja “a arte do possível” – desembocaram na ministra de Angela Merkel.

Nascida em Bruxelas mas alemã de berço e nacionalidade, foi vista, durante anos, como a mais que provável sucessora da chanceler alemã, de quem é desde 2010 vice-presidente no partido democrata-cristão CDU. Filha de Ernst Albrecht, antigo funcionário europeu e posteriormente primeiro-ministro (entre 1976 e 1990) do estado da Baixa Saxónia, a candidata a presidente da Comissão estudou e exerceu medicina mas estava escrito nas estrelas que a política seria o seu destino.

Em 2004 foi eleita para o comité de liderança do partido, tendo um ano depois sido nomeada ministra dos Assuntos Sociais no primeiro governo de Angela Merkel, cargo no qual foi reconduzida quatro anos depois. Em 2013 assumiu a Defesa, uma pasta que nunca antes fora ocupada por uma mulher. É casada há 33 anos com Heiko von der Leyen, de quem tem sete filhos.

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