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Bispo de Lamego. "São grandes as provocações que são feitas ao Interior”

04 jul, 2019 - 07:30 • Liliana Carona

D. António Couto alerta para a existência de um Interior esquecido "pela grande política” e fala mesmo em "provocação". Ao fim de sete anos na diocese, o bispo sublinha o "tormento" que é chegar a alguns pontos do território: "Andamos por sítios com água até ao joelho."

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O bispo de Lamego, D. António Couto, alerta, em entrevista à Renascença, para a existência de um Interior esquecido, com acessos e comunicações difíceis, onde a população é cada vez menor.

"O Interior não está a ser devidamente olhado pela grande política”, critica D. António, acusando mesmo os responsáveis políticos de "provocação".

“As dioceses do Interior são especiais, porque são grandes as provocações que nos são feitas”, declara o bispo, queixando-se de que não vê nada a ser feito para inverter a situação.

"O Interior não está a ser devidamente olhado pela grande política. Não digo pelos locais, que estão de mãos atadas. Terá que ser um olhar a sério, coisas que envolvam e arrastem gente”, atira.

“Andamos por sítios com água até ao joelho e silvas”

“Lamego é uma diocese extremamente envelhecida, desde o sul de Cinfães até Vila Nova de Foz Coa. As pessoas, sobretudo idosas e doentes, precisam de nós", diz o bispo, que passa "muito tempo em visitas pastorais”.

“Com a diminuição de clero, nem sempre podemos fazer aquela assistência em matéria de culto tão frequente”, admite.

“A Igreja faz um grande trabalho de proximidade. Quem vai visitar os doentes sou eu, os padres e os nossos visitadores. Andamos por sítios, por quelhos com água, não digo até ao pescoço, mas até ao joelho e com silvas. E quem sabe disto? Para lá chegar é um tormento, nenhuma ambulância lá vai. Há zonas em que para lá chegar é preciso muito esforço e alguma capacidade atlética. É preciso que se saibai que isso existe neste Interior completamente abandonado”, desabafa D. António Couto, há mais de sete anos à frente da diocese de Lamego.

Em 2016, o Governo anunciou a criação da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que elaborou o relatório do Programa Nacional de Coesão Territorial, com 155 medidas, cujos resultados o bispo de Lamego não verifica no terreno.

“Não vejo absolutamente nada. Se formos ver se alguma coisa foi feita ou estrutura criada, temos que dizer 'não'. A população diminui drasticamente. Se, em 2015, tínhamos 130 mil habitantes, penso que já perdemos uns 10 mil", contabiliza.

A diocese de Lamego tem 223 paróquias, com 90 padres.

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