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Clima

“Está muito calor para trabalhar”. OIT prevê perda de produtividade equivalente a 80 milhões de empregos

02 jul, 2019 - 12:36 • Marta Grosso

A agricultura deverá ser o setor mais afetado, seguido pelo da construção. O stresse térmico causado pelas alterações climáticas deverá ainda fazer aumentar a migração.

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O aquecimento global está a levar ao aumento do stresse térmico, o que, em 2030, deverá causar perdas de produtividade em todo o mundo equivalentes a 80 milhões de postos de trabalho a tempo completo.

A previsão consta de um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), intitulado “Trabalhar num planeta mais quente: o impacto do stresse térmico na produtividade laboral e o trabalho digno” (“Working on a warmer planet: The impact of heat stress on labour productivity and decent work”).

O documento foi feito com base em dados climáticos, fisiológicos e de emprego, e apresenta estimativas relativas às atuais e futuras perdas de produtividade.

O setor mais atingido deverá ser o agrícola. Trabalham cerca de 940 milhões de pessoas em todo o mundo na agricultura. Em 2030, 60% das horas de trabalho terão sido perdidas, na sequência do stresse térmico.

A construção também será afetada, prevendo-se para esse mesmo ano uma perda de 19% de horas de trabalho à escala mundial.

Outras áreas em risco são os bens e serviços na área do ambiente, da recolha de lixo, dos serviços de emergências, trabalhos de reparação, transportes, turismo e desporto, assim como determinadas atividades industriais.

"O impacto do stresse térmico na produtividade laboral é uma grave consequência das alterações climáticas”, refere a OIT.

“Está muito calor para trabalhar”

“Temperaturas acima dos 39 graus podem matar”, alerta o relatório da OIT, segundo o qual, “mesmo quando não há fatalidades, as temperaturas altas podem reduzir a capacidade de trabalho de muita gente ou deixá-las mesmo incapazes para trabalhar”.

“Até 2030, o equivalente a mais de 2% do total de horas de trabalho em todo o mundo terá sido perdido todos os anos, seja porque está muito calor para trabalhar seja porque se trabalha a um ritmo mais lento”, lê-se no documento.

No Sudeste Asiático e na África Ocidental, a percentagem pode alcançar os 5%.

“As pessoas mais velhas e, em particular, as com menor resistência ao calor em termos mentais” são as mais afetadas.

Além disso, o stresse térmico é um dos fatores que motiva as pessoas a emigrar.

Agenda 2030 comprometida?

"Os efeitos do stresse térmico nos planos económico, social e sanitário poderão dificultar a luta contra a pobreza e a promoção do desenvolvimento humano e, em consequência, o cumprimento de grande parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas", inscritos na Agenda 2030.

"Além dos enormes custos económicos que provoca o stresse térmico, espera-se um aumento da disparidade entre os países de baixo nível de rendimento e os países de maior rendimento, uma redução das condições de trabalho das pessoas mais vulneráveis e a deslocação de populações”, lê-se no relatório.

A OIT apela, por isso, a “governos, empregadores e trabalhadores” que a se adaptem “a esta nova realidade” e adotem “medidas urgentes para reforçar a proteção das pessoas mais vulneráveis”.

Nos países com piores condições de trabalho e baixo nível de proteção social os desafios colocados pelo stresse térmico são ainda maiores, refere o relatório.

“O calor excessivo agrava a desigualdade entre países ricos e pobres e entre grupos populacionais dentro do mesmo país. Está a tornar-se um obstáculo ao crescimento económico”, destaca ainda o documento.

Os desafios das alterações climáticas constituem um tema central na nova Declaração do Centenário da OIT sobre o futuro do trabalho, e determina o seu programa de trabalho e investigação.

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