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"Não se admite". Desabafos e queixas em dia de greve dos médicos

02 jul, 2019 - 11:58 • João Cunha , Pedro Filipe Silva , André Rodrigues

A Renascença esteve, na manhã desta terça-feira, em várias unidades hospitalares avaliando os efeitos da greve dos médicos.

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Foi uma manhã dificil para quem tentou uma consulta externa no Hospital Garcia de Orta, em Almada.

À porta, foram chegando ambulâncias com doentes com consulta marcada - em alguns casos, há mais de um ano, de doentes vindos, por exemplo, de Quarteira ou de Portimão.

"Ainda ontem tentei saber se teria ou não consulta", diz Carlos Fernandes, que esperava na cirúrgia vascular para ser atendido. Chegou antes das 7h30, a consulta estava agendada para as 9h00, mas só ás 10h00 percebeu que a consulta não se iria realizar, devido á greve dos médicos e enfermeiros.

"Não se admite", criticava Manuel Santos, que saiu cedo da Baixa da Banheira para uma consulta de Ortopedia. "E, agora, quem me paga as portagens? É que eu vim pela A33", queixava-se este utente do Serviço Nacional de Saúde.

Perto das 10h00, também a Cardiologia "dispensava" os doentes com consultas marcadas. A consulta vai ser reagendada, nesta e nas outras especialidades afectadas pela paralisação. A carta com a nova marcação segue, com uma nova data, nos próximos dias.

Como num dia normal, no Hospital de S. José

O serviço das Consultas Externas do Hospital de São José começa a funcionar às 8h00, mas às 7h00 começam a chegar os primeiros utentes. Ali ficam à porta até às 7h30, hora em que abrem as portas para que possam tirar as senhas.

Uma das utentes, Isabel Lopes, sabia de greve, mas veio. “A consulta está marcada há mais de um mês, vamos ver se tenho. Ia-me embora se me dissessem que não havia devido à greve, mas, assim, tenho de ficar à espera”.

Isabel aproveita o momento para falar do estado da saúde em Portugal. “Está péssima. Sou doente oncológica e estive à espera oito anos pela cirurgia que me fizeram agora. É vergonhoso. Sabendo que nos hospitais públicos fazem cirurgias simplesmente por estética”, critica.

Outra utente, Maria Luísa, também chegou esperançosa: “Vou tentar, a ver se consigo a consulta. Já tinha marcada há um mês.” Conta que não foi avisada da possibilidade de não haver consulta: “Mandaram-me me mensagem na sexta-feira a referir que se mantinha a consulta marcada.”

Já Paula Antunes chegou com a garantia de que ia ter consulta. “À partida, tenho porque esta médica não falta. É de cirurgia, não faz greve”, garante.

Marieta Martins não tem tanta sorte: viu a sua consulta de anestesiologia ser adiada pela terceira vez. Hoje, veio apenas fazer um exame. “Ligaram-me, só disseram que ia ser desmarcada, depois eu receberia em casa nova marcação e estou à espera. Hoje, venho só para fazer o eletrocardiograma”, explica.

No Porto, Ana esperou duas horas e meia e não teve consulta

No Hospital de São João, no Porto, os utentes queixam-se de falta de informação. Ana Paula Teixeira, de 52 anos, veio de manhã cedo, “por volta das sete da manhã” para uma consulta no serviço de reumatologia.

Dirigiu-se à receção central, “porque até as máquinas de check-in automático estavam avariadas”, pagou a consulta e esperou duas horas e meia até ser informada de que não teria a consulta.

“Perdi a manhã quase toda aqui, faltei ao trabalho, para chegarem às 9h30 e dizerem-me que não tinha consulta”, desabafa num misto de indignação e conformismo. Agora, vai aguardar pela carta com a remarcação. “É um grande transtorno”, conclui.

Ali mesmo ao lado, Daniela Rodrigues olha estupefacta para a fila na máquina de senhas do pavilhão de consultas externas. “Sempre que cá venho, registo a consulta do meu filho no balcão automático”. Hoje não foi possível, “e ninguém explica porquê”. A consulta de Pediatria é dali a 20 minutos. Daniela tem 60 pessoas à sua frente. “Isto assim é um caos”, constata esta utente.

[notícia atualizada às 13h41]

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